06/05/2022

Thor #1

O fim dos princípios


Ou, contextualizando o sub-título acima, é como quem escreve que foi distribuído no sábado passado o último volume dedicado às origens - literalmente às primeiras histórias - dos super-heróis da Marvel. Ou, corrigindo de novo, como num processo em curso, as primeiras histórias de alguns dos super-heróis - Homem-Aranha, Hulk, Demolidor, Capitão América, Homem de Ferro e Thor - e de alguns dos super-grupos - Quarteto Fantástico, X-Men e Vingadores - da Marvel.

A partir de amanhã, a Colecção Clássica Marvel irá, de forma recorrente, revisitar todos eles - embora em doses diferentes. Ou, esmiuçando um pouco, irá dos quatro volumes que dedicará ao Capitão América aos 13 (!) que serão protagonizados pelo Quarteto Fantástico.

Se a distância temporal - 60 anos (!), especificamente no caso deste Thor - entre a data de publicação original e os nossos dias justifica a evidente ingenuidade de muitas das narrativas - embora menos, em bom número delas, do que seria expectável - graficamente esse fosso é bem menor e muitos autores do presente poderiam aprender - tanto! - com aqueles que pioneiramente apontaram os caminhos.

Caminhos esses que, em termos argumentais, revelam uma precocidade e, até, um avanço sobre o seu tempo, lançando as bases - nalguns casos extremamente sólidas e duradouras - do que os protagonistas da Casa das Ideias ainda são hoje.

A título de exemplos, recordados agora de memória enquanto os dedos passam pelo teclado, veja-se como já na década de 1960 o Capitão América, paladino de todas as liberdades, esteve ao serviço dos nazis sob o controlo mental do Caveira Vermelha - soa a Império secreto, não é...?

Ou como o Hulk, no curto espaço de seis números, tem tantas mudanças profundas que depois alimentaram décadas de histórias: nasceu cinza, tornou-se verde; as transformações Banner/Hulk inicialmente eram causadas pelo cair da noite, depois eram provocadas por uma máquina, mais tarde tornaram-se aleatórias; o carácter do gigante esmeralda também se foi alterando, de um comportamento natural a modos infantis, passando pelo controle mental de Rick Jones e chegando ao ser mais irracional e descontrolado...

Era evidente como os próprios criadores vogavam ao sabor da inspiração, tacteando aqui e ali em busca dos melhores caminhos, combinando, por exemplo, a vertente mais realista dos 'novos' super-heróis com (absurdos) extraterrestres ou civilizações perdidas nas entranhas da Terra... Ao mesmo tempo que inventavam super-vilões - também eles 'novos' - ou, aqui fazendo jus ao tal realismo, elegiam de forma recorrente como adversários os soviéticos - os 'russos', os 'comunistas', os 'vermelhos' - sempre com líderes sedentos de sangue e/ou poder e com espiões sem modos nem princípios. E se alguns verão aqui uma premonição em relação (ao que estará para vir?) devido ao momento tenso que o Ocidente vive com a Rússia devido à invasão da Ucrânia, nos anos 1960 isto mais não era do que um espelho da realidade que então se vivia, com a Guerra Fria no seu auge.

Entre a ingenuidade que hoje sentimos e a inovação incontornável que significaram na época - e cuja influência perdura até hoje - há um outro termo que é fundamental aplicar a estas publicações: diversidade. Diversidade na idade dos super-heróis, (menos) no seu género, nos poderes que possuem e na forma como os adquiriram - e nos vilões que consequentemente enfrentam. Embora não haja diversidade num ponto fundamental: os protagonistas são seres com dúvidas e problemas humanos, o que constituiu um dos grandes trunfos do dealbar da Era Marvel.


Em termos formais, a colecção tem cumprido, com um ou outro deslize de somenos importância - mas sempre incómodo quando detectado - ao nível da legendagem e/ou tradução.

Na questão do desalinhamento das lombadas que alguns têm apontado, devo ser um privilegiado porque as diferenças dos meus 9 volumes são inferiores a um milímetro.

Finalmente, a inclusão de textos sobre os criadores, os heróis e a época original de publicação, simples e concisos, são uma mais-valia quer para o leitor ocasional, quer principalmente para quem está a aproveitar esta colecção para aprender/saber mais sobre os seus super-heróis de eleição.


Colecção Clássica Marvel #9
Thor #1 Será digno dele...
Stan Lee e Larry Lieber (argumento)
Jack Kirby, Al Hartley, Joe Sinnott (desenho)
Joe Sinnott, Dick Ayers, Al Hartley (arte-final)
Correio da Manhã/Record
Portugal, 30 de Abril de 2022
183 x 277 mm, 144 páginas, cor, capa cartão
8,95€

(imagens dos volumes Thor #1, Hulk #1 e Homem de Ferro #1 disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Oh Pedro essa matemática anda má.
    O Thor surgiu em 1962, logo tem 60 anos :-)

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    1. Pois... não é normal, mas acontece. Já corrigi!
      Boas leituras!

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