07/06/2022

O renascer do western



Caravana do Oeste, Sioux, Bonanza, Mascarilha, Buffalo Bill... foram algumas das muitas revistas de BD dedicadas aos heróis do velho Oeste, que encheram os quiosques nas décadas de 1970 e 1980. E títulos marcantes do jornalismo infanto-juvenil nacional, como O Mosquito, Cavaleiro Andante, Tintin ou Mundo de Aventuras, tiveram sempre nas suas páginas lugar para os heróis de tiro certeiro. A última, aliás, durante alguns anos, na década de 1960, chegou a publicar exclusivamente histórias daquele género.
Depois, as revistas foram desaparecendo e dando lugar aos álbuns e na BD - como no cinema e noutros géneros narrativos - decresceu o interesse por esta temática.

Em todo o mundo? Não, porque em Itália, Tex, contra ventos e marés, em publicação ininterrupta desde 1948, continuou a percorrer desertos e planícies, perseguindo foras-da-lei, enfrentando índios e disparando primeiro, para perguntar depois. E é este mesmo Tex, um dos protagonistas pelo renascer do western em Portugal onde, à imagem de outros mercados europeus, se vão sucedendo as edições, quase uma dezena já desde o início do ano. Narrativa de estilo mais clássico, no díptico O Vingador/Justiça em Corpus Christi, encontramos um Tex jovem, ainda fora-da-lei, à procura de vingar-se dos assassinos dos seus pais. Igualmente ao abrigo dos bons estereótipos do género, a série Duke, assume contornos mais crepusculares e desencantados, com os homens a pressentirem o final de uma época - e os leitores a assistirem ao ocaso de Hermann, um dos maiores desenhadores que a BD europeia conheceu.

Se a conquista do Oeste foi uma época de grandes heróis, num tempo em que cada um impunha a sua lei, Wild West reúne Calamity Jane e Wild Bill Hickock, ficcionando livremente a sua história e contribuindo para o crescimento das lendas.


Ainda neste âmbito, de forma bastante original e cativante, Don Vega é uma variação sobre a origem de um dos seus mais famosos heróis, o
Zorro, numa Califórnia assolada pelo desejo de independência e a luta contra a opressão mexicana e americana.

Mas nem só de narrativas mais tradicionais se vai fazendo este regresso do western às histórias aos quadradinhos. Em Lonesome, nuns Estados Unidos em convulsão pela abolição parcial da escravatura, Yves Swolfs, um veterano do género, põe em cena um protagonista, mais uma vez solitário e em busca de vingar a morte dos pais, com a invulgar capacidade de ver o passado e o destino daqueles em que toca, numa perseguição sem fim ao longo de um país em busca de rumo.

Avançando no tempo, mas ainda no mesmo espaço, Nevada assume os tempos de mudança, com cavalos e tiroteios a conviverem com os primeiros automóveis e motas, já sob a sombra predadora de Hollywood e com os grandes estúdios a imporem a sua lei.


De comum a todos ,ficam os grandes espaços, a sede de liberdade, a procura de justiça (que tantas vezes soa a vingança) e uma interessante combinação de modernidade e nostalgia.



E
m português

Portugal teve muitas revistas de BD dedicadas ao western, mas foram poucos os heróis com assinatura nacional. Rattlesnake, de João Amaral, é a mais recente excepção. Distingue-se pela entrega do protagonismo a uma mulher, caçadora de prémios, conhecida pelo pseudónimo que dá título ao livro, por imitar uma cascavel antes de eliminar aqueles que persegue, e também pela introdução da temática do racismo, numa história sobre apropriação ilegal de terras.


(texto publicado no Jornal de Notícias de 24 de Maio de 2022; imagens disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

5 comentários:

  1. Sim, mas nenhum me fez esquecer Os lobos do Wyoming, ou O general cabeça amarela! Dois exemplos de excelência!

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  2. Anónimo7/6/22 20:19

    Eu sou apreciador, leitor e, porque não dizê-lo, colecionador de tudo (ou quase tudo) o que a banda desenhada nos vai legando sobre o oeste selvagem. As minhas leituras começaram bem cedo, pelo Mundo de Aventuras e Falcão, até descobrirem Comanche, Durango ou Blueberry, no que à BD franco-belga diz respeito, ou mesmo TEX, que ia chegando, em diferentes coleções todos os meses. Destes, só Blueberry, por iniciativa do Público, chegou até nós, apesar de muito incompleto. Por Comanche e Durango, não sendo por uma iniciativa similar, posso esperar sentado. Já Tex (e as suas muitas coleções), para mal dos meus pecados de leitor, viu a sua publicação interrompida há já muitos anos. Felizmente, nos últimos meses (anos?) o western ressurgiu em força e qualidade. Lonesome, Duke, Wildwest e, esporadicamente, Tex, voltaram a dar vida à minha estante. - João Reis

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    1. Comanche, de Hermann e Greg, está integralmente editado em português pela Ala dos Livros, numa belíssima edição a preto e branco.
      Boas leituras!

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  3. Tenho os 3 volumes em lugar de destaque! Imperdível!!!

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