05/09/2022

Demolidor #5

Transição




Tenho seguido com interesse o consulado de Chip Zdarsky à frente do Demolidor, no qual tenho encontrado boas leituras como vou partilhado por aqui.
Este quinto volume, é claramente de transição entre dois arcos narrativos e a verdade é que a edição ressente-se disso - mas não só.

Recordo que o volume #4 acabara em apoteose com a união pontual de figuras tão distantes como o Demolidor, Kingpin, o detective Colin North e Mary Tifoide em defesa da Cozinha do Inferno, contrariando os propósitos dos gémeos Stromwyn.

Agora, no arranque da edição, na ressaca dessa vitória épica, os intervenientes refazem força - e objectivos - e vem ao de cima que os seus interesses eram bastante díspares e que o futuro daquela zona nova-iorquina está longe de estar garantido.

De seguida, no Anual que separa águas - que é como quem escreve arcos - Zdarsky ressuscita o improvável irmão gémeo de Matt Murdock, na minha opinião uma daquelas ‘parvoíces’ narrativas em que os comics da Marvel são férteis.

Pior ainda, justifica esse ‘pecado’ ao incluí-lo de forma sustentada no arco seguinte. Se esta opção já me afrouxa o entusiasmo, a situação base que o sustenta - a ida do super-herói cego para a prisão, avoluma as minhas dúvidas, pelas impossibilidades físicas que esse acto impõe, nomeadamente a sua sobrevivência e a manutenção da identidade secreta num lugar onde estará rodeado de inimigos jurados, pese embora o potencial narrativo que lhe reconheço.

Obviamente - se ultrapassar estes quesitos, que não são de somenos - o leitor poderá desfrutar do melhor que Zdarsky tem feito nesta sua passagem pelo Demolidor: acentuar o seu síndrome simultâneo de mártir e de messias, que tanto o leva a querer salvar todos, como apresenta como motivos íntimos para tal a sua necessidade de se justificar e de justificar aquilo que conseguiu, de pagar pelo sucesso que fez por merecer.

As próximas edições ditarão se Zdarsky continua a merecer encómios ou se desta vez deu um tiro no pé.

Graficamente, a edição é inevitavelmente desigual, já que o traço de Marco Checchetto (aqui ao lado) brilha a um nível do qual Manuel Garcia, Chris Mooneyham e Francesco Mobili (acima) não se conseguem aproximar, apesar da competência demonstrada.


Demolidor #5: Verdade/Consequência
Compila os comics Daredevil (2019) #21-#25 e Daredevil Annual #1 (2020)
Chip Zidarsky (argumento)
Marco Checchetto, Manuel Garcia, Chris Mooneyham e Francesco Mobili (desenho)
Panini
Brasil, Outubro de 2021
179 x 260 mm, 144 p., cor, capa cartão
R$31,90 / 10,60 €

(capa disponibilizada pela Panini; pranchas disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

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