22/09/2022

O Jardim Secreto

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Mesmo sendo a banda desenhada uma arte com uma componente gráfica predominante, sempre fui muito mais um leitor de argumentistas do que desenhadores.
Defendo, aliás, que um bom desenhador vende um álbum; um bom argumentista vende uma série completa.

Vem este intróito a propósito de O Jardim Secreto, lançamento recente da Fábula, (mais) uma adaptação de um romance infanto-juvenil, feita por Mariah Marsden, uma autora que desconhecia há pouco mais de um ano, mas cujo nome me ficou no ouvido pelo belo trabalho executado em Anados Cabelos Ruivos.

Se seguiram a ligação acima, verificaram já que na altura escrevi que ‘Numa época em que (também entre nós) se multiplicam as edições de BD com adaptações de romances literários, poucas se podem gabar de cumprir tão bem o primeiro quesito desse tipo de obras: funcionar de forma autónoma enquanto banda desenhada, como este Ana dos Cabelos Ruivos, baseado no romance homónimo de Lucy Maud Montgomery’.

Agora, em O Jardim Secreto, a argumentista volta a desempenhar de forma muito consistente a sua função, captando a essência do original - tanto quanto me é possível aperceber-me em função da leitura desta obra e da pesquisa que fiz sobre o romance de Frances Hodgson Burnett, publicado pela primeira vez em 1911 - e dando-lhe as características próprias de uma banda desenhada: legibilidade total mesmo perante o desconhecimento do romance em que se baseou; uma boa simbiose texto/desenho e mesmo uma hegemonia deste sobre aquele.

Pela estrutura que este texto acabou por assumir, torna-se inevitável a comparação entre o grafismo das duas desenhadoras que trabalharam com Marsden. Apesar de algumas similitudes, nomeadamente no facto de cada uma delas - Brenda Thummier e Hanna Luetchfeld - não apresentar um traço propriamente atraente (para mim?), mas perfeitamente funcional muito bem enquanto parte de um todo que dá pelo nome de banda desenhada, agradou-me mais o de Thumier, mas reforço que é apenas uma questão de gosto…

...ou então, porque na minha cabeça a outra narrativa estimulou-me mais. No caso presente, a protagonista é a pequena Mary Lennox que, após a morte dos pais, deixa a vida de fausto na Índia a que estava habituada, para ir viver com um tio, numa casa isolada na charneca de Yorkshire.

Relato iniciático que parte de um trauma, O Jardim Secreto fala-nos na criação de amizades e das descobertas que, mesmo simples e banais, podem mudar uma vida. No caso de Mary, é a descoberta de um jardim secreto, algures na propriedade, com amigos imprevisíveis - um passarinho, um velho jardineiro, um menino especial… - que lhe vai mostrar que a vida pode ser melhor quando é partilhada com os outros e quando deixamos que os olhos e o coração se abram para as maravilhas na natureza e para a importância da amizade e do companheirismo.


O Jardim Secreto
Mariah Marsden (argumento)
Hanna Luechtfeld (desenho)
Fábula
Portugal, Agosto de 2022
150 x 230 mm, 228 p., cor, capa dura
18,79

(imagens disponibilizadas pela Fábula; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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