13/02/2024

Dylan Dog: Picada mortal

Descida ao inferno numa cidade chamada céu


Hoje em dia, quando se fala de banda desenhada popular, de certa forma evocando um tempo em que ela se encontrava em generosas quantidades nos quiosques, há um nome que vem logo à mente, o de Sergio Bonelli e da editora italiana que leva o seu nome. Alicerçado no sucesso de Tex, um western puro e duro em publicação ininterrupta desde 1948, este editor milanês conseguiu criar um sistema editorial que permite alimentar, sem grandes oscilações de qualidade, ao nível gráfico e temático, as revistas de 100 páginas que mensalmente são colocadas à venda.

Entre outras séries - Martin Mystère, Julia, Dragonero… - que vale a pena conhecer, há uma que se destacou e chegou até a fazer concorrência à popularidade de Tex: Dylan Dog, uma criação de Tiziano Sclavi estreada em 1986, tendo por modelo gráfico o actor britânico Ruppert Everett. Ex-inspector da Scotland Yard, também conhecido como Detective do Pesadelo, pelo equilíbrio entre o real, o fantástico e o onírico que pontua as suas histórias, DD tem vindo a protagonizar a maior parte dos volumes da colecção Aleph, em que a editora A Seita apresenta aos leitores portugueses títulos da Sergio Bonelli Editore.

O mais recente é Picada Mortal, escrito por Alberto Ostini e Francesco Ripoli, dois nomes menos conhecidos daquela editora milanesa. O aparecimento de mais um cadáver de uma prostituta, horrivelmente desfigurada, a boiar num rio, irá levar Dylan até Southeaven, para investigar um assassino em série e recordar memórias, nem todas agradáveis, de umas férias da adolescência, passadas naquele local.

Será assim que reencontrará Tiffany, paixão dessa época e fará de tudo para evitar que ela seja mais uma vítima de uma dupla ameaça: o assassino e do vício da droga que a domina.

Se até aqui nada parece soar muito original, Picada mortal tem dois trunfos que fazem dele uma leitura aconselhável. O primeiro, é o facto de longos excertos serem narrados em voz off pela própria Tiffany, numa forma aparentemente etérea, antecipando, sem desvendar completamente, o que ainda está por acontecer, criando em simultâneo a curiosidade e a dúvida no leitor, o que o impele a continuar a leitura; o segundo é o desfecho, inesperado e chocante, desta vez bem ancorado na vida real.

E se Ripoli até denota algumas dificuldades na representação do protagonista, demasiado rígido e dando a sensação de ter sido desenhado a custo, numa série em que se costumam cruzar referências das mais variadas origens, (aquel)a originalidade é uma das explicações para o sucesso deste anti-herói.


Dylan Dog - Picada mortal
Alberto Ostini (argumento)
Francesco Ripoli (desenho)
A Seita
Portugal, Janeiro de 2024
165 x 240 mm, 104 p., pb, capa dura
14,99 €

(versão revista do texto publicado na página online do Jornal de Notícias de 2 de Fevereiro de 2024 e na versão em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas por A Seita; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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