22/12/2025

El Diablo

Aquém






Lewis Trondheim é um dos autores mais importantes deste século e até de um pouco antes. Como co-fundador da hoje agónica e falida editora L'Association e como autor completo e/ou argumentista.

Como autor completo ou apenas como argumentista - tal como Joann Sfar - mostrou que qualidade e rapidez de execução podiam andar juntas e legou-nos uma série de obras de inegável humor.

Uma das suas obras mais recentes - sabendo o risco que se corre quando se coloca na mesma frase o adjetivo recente e o nome de Trondheim - é El Diablo, um dos exemplos de uma das 'galinha de ovos de ouro' descoberta há anos pelas edições francesas: o marsupilami. O princípio, anteriormente aplicado a Lucky Luke, a Spirou e a outros heróis clássicos intemporais é o mesmo: entregar, pelo tempo de uma história, a personagem criada por Franquin a um ou dois autores para nos fornecerem a sua visão de autor da personagem.

Mas, onde Zidrou e Franck Pé brilharam intensamente com os dois volumes de A Fera, Trondheim e Alexis Nesme revelam pouca inspiração. 

O princípio que adoptaram foi simples: colocar o marsupilami - mais exactamente um dos seus antepassados - no século XVI durante a chegada dos conquistadores espanhóis aos territórios da América Central, entre os quais, inevitavelmente, a Palômbia. A falta de alimentos, que provoca uma surpreendente (no registo adoptado) propensão para o canibalismo entre os conquistadores - na que é possivelmente a mais divertida sequência do álbum - o encontro com El Diablo - que é como quem diz o marsupilami - a ligação deste com o 'candidato a guisado', o aparecimento dos (não tão) selvagens locais e a incontornável febre do ouro, são os pressupostos que vão balizar o relato - e podiam ter dado mais.

Se o humor, uma das principais características das obras do argumentista está presente numa dose razoável, o traço de Nesme, desinteressante, demasiado próximo de um certo estilo de animação, acaba por se tornar algo cansativo e desenquadrado dos cenários, eles sim uma excelente prova do talento deste desenhador, cujas belíssimas cores, quero frisar, caracterizam bem a selva em que se desenrola praticamente todo o relato.

Assim sendo, a leitura, claramente num registo mais juvenil, faz-se de forma rápida e descontraída, com um ao outro sorriso aqui e ali, mas sem nada que a torne especialmente marcante, que deixe boas memórias ou até a vontade de um dia voltar a ela. 

Felizmente, para o nosso mercado, depois do sublime A Fera, há uma proposta similar mais consistente a caminho.

... onde, como em El Diablo, há uma explicação (diferente) para a origem do nome Palômbia!


El Diablo
Lewis Trondheim (argumento)
Alexis Nesme (desenho)
A Seita
Portugal, Outubro de 2025
240 x 330 mm, 64 p., cor, capa dura
18,95

(imagens disponibilizadas pela editora A Seita; clicar nesta ligação para ver mais ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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