20/10/2009

Astérix 50 anos - A triplicar

























Astérix Legionário 
Astérix na Córsega 
Obélix e Companhia 
René Goscinny (argumento) 
Albert Uderzo (desenho) Edições 
ASA (Portugal, (Março e Maio de 2007) 
222 x 291 mm, cor, 48 p., cartonados 

Enquanto se agrada pela próxima quinta-feira, dia 22, para conhecer - aqui no blog às 00h01 - "O Aniversário de Astérix e Obélix - O Livro de Ouro", o 34º álbum das aventuras de Astérix e Obélix, fica a evocação de três títulos fundamentais da série.
Corria o ano de 2007 e, continuando a reedição dos álbuns de Astérix, integrada na comemoração dos seus 45 anos (em Outubro de 2004), com novas traduções e edições numeradas e identificadas com selo branco, a ASA lançava no mercado mais meia dúzia de títulos entre os quais três dos melhores álbuns da série - "Astérix Legionário" (1967), "Astérix na Córsega" (1973) e "Obélix e Companhia" (1976) -, se tal distinção é permitida, sendo os restantes "O Domínio dos Deuses" (1971), "Os Louros de César" (1972) e "O Presente de César" (1974). Vinham com a nova tradução, com defeitos e qualidades em relação à anterior, a que se pode apontar como aspectos mais negativos o uso de expressões anacrónicas ("vira o disco e toca o mesmo") ou de nomes associados a regionalismos… lisboetas (Transtejix), eu se destacava pelo facto de todos, com excepção de Astérix, Obélix e Panoramix, terem novos nomes, aportuguesados. A reedição em si, tem a vantagem de poder levar muitos a reencontrar o bom, velho Astérix, que tão maltratado tem sido nos álbuns que Uderzo assinou a solo, e outros a redescobri-lo em toda a sua pujança. Isto porque basta uma leitura superficial pode fazer sorrir (pelo menos…) com as situações recorrentes - a pancada que os gauleses distribuem aos romanos, o hábito de Obélix coleccionar capacetes de legionários, a razia (anti-ecológica…!) que os gauleses provocam nos javalis, os constantes desaires dos piratas ou as desavenças entre o peixeiro Ordemalfabétix e o ferreiro Éautomatix - resolvidas sempre de forma diferente mas sempre de forma hilariante. Mas é uma leitura mais atenta (e também mais culta…) que permite desfrutar em pleno de uma das melhores séries humorísticas de todos os tempos e não me refiro apenas à banda desenhada. Isto porque René Goscinny, numa demonstração de um sentido de humor ímpar e de uma bagagem cultural invejável, aproveitou-a para fazer crítica social e de costumes, satirizar pessoas, regiões, países e povos, de uma forma que resiste perfeitamente ao passar dos anos, abordando aspectos como a ecologia, 
a imobiliária, a organização política e militar, o relacionamento inter-pessoal, a própria realidade histórica ou brincando até com as convenções da própria linguagem da BD. Assim, “Astérix Legionário” é uma sátira brilhante e arrasadora à instituição militar, desmontando e ridicularizando os seus formalismos, burocracias, métodos de treino e tácticas de combate, quando Astérix e Obélix se alistam para libertar um amigo feito voluntário à força em tempo de guerra civil. Já “Obélix e Companhia” é uma incursão pelo intrigante mundo dos negócios, quase um tratado de economia em menos de meia centena de páginas que exemplificam magistralmente conceitos como oferta e procura, desvalorização da moeda ou falência. Finalmente, “Astérix na Córsega”, traça um retrato irresistível de um povo (muito) "susceptível", incapaz de esquecer e perdoar, ciente dos seus valores e tradições e dos seus queijos de cheiro nauseabundo. E este álbum, mais do que qualquer um deste lote, destaca-se por mostrar um Uderzo em plena posse das suas (muitas e inexcedíveis) faculdades gráficas, combinando o tom caricatural da série com o tratamento semi-realista aplicado aos corsos e à pujante representação da sua ilha, e combinando o seu traço suave, vivo e dinâmico com o bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura.

(Versão revista do artigo publicado no Jornal de Notícias de 26 de Agosto de 2007)

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