Desberg (argumento)
Marini (desenho)
Edições ASA (Portugal, Outubro de 2010)
230 x 297 mm, cor, 48 p., cartonado
Resumo
As conspirações no seio da Igreja Católica e as (muitas) dúvidas sobre a veracidade de alguns dogmas sobre os quais assenta, não sendo um tema novo, está na moda, embora a BD já o explorasse antes do fenómeno Dan Brown (e subsequentes sequelas).
Esta é também a temática base da série "O Escorpião", ambientada no século XVIII, que narra a procura da verdadeira cruz onde o apóstolo Pedro supostamente teria sido crucificado de cabeça para baixo, para desmascarar o Cardeal Trebaldi, auto-assumido ateu, recém-eleito Papa com o objectivo de se servir da muito poderosa organização católica, refundando-a à imagem dos seus interesses.
Para além dos seus sequazes, a busca pelo médio oriente envolve um aventureiro conhecido como Escorpião, filho ilegítimo do anterior Papa e que vive na fronteira da lei, as belas - mas perigosas - Ansea e Méjai, e o impiedoso Rochnan, mercenário ao serviço de Trebaldi.
Desenvolvimento
Série de (justo) sucesso, pelos ingredientes que combina em proporções adequadas -equilíbrio entre ficção, veracidade histórica e tradição religiosa, cenas de acção bem conseguidas, um toque de romance e de sexo, armadilhas, traições, surpresas, intriga e mistério – O Escorpião ilustra bem o melhor da banda desenhada de aventuras franco-belga. O que já não é pouco.
Para isso, contribui em grande parte o traço realista ágil, fluído e expressivo, as cores, geralmente quentes, e a planificação cinematográfica de Marini que servem na perfeição o guião de Desberg que demonstra toda a sua mestria num relato de ritmo intenso, com diversos volte-faces e cuja leitura prende e entusiasma, mesmo que muitas vezes quase nada se passe, como acontecia, por exemplo, no tomo anterior, O Vale Sagrado…
O que não é o caso desta vez, pois a narrativa que, de forma interessante e bem conseguida, alterna entre o grupo onde está o Escorpião e a marcha solitária de Rochnan – cujo terrível segredo por detrás da máscara é finalmente desvendado – até à sua junção e confronto final (mas possivelmente não definitivo…) progride bastante, encerrando mesmo aquilo que pode ser designado como um ciclo.
Nele, a busca pela cruz de Pedro – durante a qual as alianças e traições se sucedem a um ritmo impressionante, mostrando a volatilidade do ser humano quando guiado pela ganância e a cupidez - chega ao seu fim, embora de forma infrutífera para aqueles que procuravam riquezas e/ou poder. E com o Escorpião a antever numa declaração do seu inimigo um novo sentido para a sua procura. E no qual Desberg, habilmente – sem os excessos (serão?) de Jodorowsky e Manara, em Borgia – a continuar a pôr a nu os podres de uma Igreja Católica, cujas cúpulas sempre estiveram mais interessadas nos bens terrenos e na satisfação imediata dos prazeres carnais – fraca e enganadoramente desmentidos regularmente por pouco sentidos pedidos de desculpas - do que em seguir os ensinamentos de amor e compaixão daquele que (teoricamente) apresentam como seu Senhor.
E, como nos álbuns anteriores, terminado a leitura, fechado o livro, fica o desejo de prosseguir de imediato com a leitura do seguinte. Cabe à ASA satisfazê-lo, aproximando-se rapidamente da edição francófona que já vai no nono volume.
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29/11/2010
Tex Edição em Cores #5 - O Casamento de Tex
Gianluigi Bonelli (argumento)
Aurelio Galleppini (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Julho de 2010)
160 x 210 mm, 252 p., cor, brochado
1. Já escrevi aqui, não sou grande adepto das cores Bonelli. Porque são demasiado impessoais, lisas, sem profundidade. Fundamentalmente porque são aplicadas em obras pensadas originalmente a preto e branco. O que faz toda a diferença.
2. O que não invalida que perceba perfeitamente a sua utilidade. Seja para marcar edições especiais (normalmente os números centenários das colecções dos heróis Bonelli que já são pensados dessa forma…), seja numa reedição como a actual, em que podem funcionar como chamariz para novos leitores, que têm hoje hábitos e exigências diferentes dos de há 60 anos quando Tex foi publicado pela primeira vez, seja como factor distintivo de uma reedição (de qualidade gráfica) melhorada, apontada também aos fãs do ranger.
3. E a verdade é que funciona, pois, criada em Itália em 2007 para ser vendida durante 50 semanas com o jornal “La Reppublica” e a revista “L’Espresso”, esta colecção colorida ultrapassou já os 200 números e as várias datas apontadas para o seu fim.
4. O mesmo se passa agora no Brasil (e por arrasta-mento em Portugal), onde depois de seis números bimestrais a título de experiência, a continuidade da colecção já está assegurada durante pelo menos mais seis tomos, a partir de Fevereiro de 2011, com periodicidade mensal.
5. E também outros países - Noruega, Finlândia e Croácia - aderiram a este modelo.
6. Independentemente disso, Tex é um clássico que fez sonhar – ainda faz! – gerações de leitores e, mesmo que alguns o considerem uma banda desenhada menor – seja lá isso o que for, não é por esse caminho que quero enveredar hoje – a verdade é que, pelo menos, é um exemplo (marcante e de sucesso) de uma época e de uma forma de fazer e de editar histórias aos quadradinhos que, com ajustes mínimos, prosseguiu até aos nossos dias.
7. Como todos os clássicos, também Tex tem aventuras e momentos mais marcantes do que outros. Este volume traz um dos mais significativos: o seu casamento com a índia Lilyth.
8. Casamento de conveniência – Tex aceitou-o para não morrer no poste de torturas –, é verdade, mas que de alguma forma marcou o resto da saga.
9. E curiosamente, este episódio marcou-a por diversas razões, algumas das quais antagónicas até.
10. Casamento de conveniência, escrevi atrás, decerto imaginado por Gianluigi Bonelli no “calor” da escrita, acabaria por se revelar – desde logo para o argumentista – como um passo em falso, por obrigar Tex a uma realidade mais “caseira”, incompatível com a sua vida aventurosa. Daí o facto de Lilyth rapidamente ter sido descartada da série.
11. Ou não, porque a verdade é que tendo sido curto, o tal casamento de conveniência, entretanto transformado em cumplicidade e depois mesmo em amor, acabou por ser para toda a vida, justificando o posterior longo celibato do herói, fiel à memória da sua amada.
12. Casamento que foi também um (insuspeitado) sinal de modernidade, ao antecipar em muitos anos, uma moda dos anos 70 que levaria ao altar Mandrake, Fantasma, Spiderman e Superman, entre outros.
13. Lilyth não morreria, no entanto, sem dar a Tex um filho varão – (também) símbolo da sua masculinidade – que, mais tarde, permitiria seguir a moda dos ajudantes juvenis dos heróis dos quadradinhos.
14. Mas deixemos estas considerações e voltemos a este volume em concreto, actualmente disponivel nas bancas portuguesas. Nele Tex, depois de concluir a libertação do seu amigo Montales no México, entra então no longo e atribulado episódio que o levará ao casamento com Lilyth e a desbaratar uma organização dedicada ao tráfico de armas, numa história em ritmo acelerado, semeada de inúmeras peripécias, confrontos, tiroteios, emboscadas, inflexões e mudanças de rumo, que se lê com agrado, como quem vê um filme de cowboys clássico, daqueles em que, aconteça o que acontecer, se sabe que no fim o herói ficará de pé. E, para já, casado!
Curiosidades
- Sendo Tex o único a vestir uma camisa amarela em todo o livro, não deixa de ser curiosa a facilidade como ele arranja modelos iguais, sempre que a sua é destruída.
- A aplicação a posteriori da cor, por vezes tem destas coisas: na página 13, a manga “tão ensanguentada” de Lupe – a descrição é do próprio Tex - é mostrada de um branco imaculado…
- Não deixa também de ser curioso um outro aspecto: até este momento, as várias mulheres com quem Tex se cruzara eram belas e sensuais, sempre vestidas com curtas saias e decotes mais ou menos generosos. Agora, Lilyth, a “esposa” – símbolo de castidade e respeito? – em contraste absoluto, veste uma túnica até aos pés, de manga comprida e sem decote… E - por arrastamento? - a vilã de serviço, Bessie, apresenta-se como uma matrona gorda e feia e não como uma jovem sedutora...
- Como curiosidade ainda, também referida por Júlio Schneider na introdução, refira-se a colagem de Tex, neste episódio, a um outro justiceiro, o Fantasma, uma das séries de sucesso de então, vestindo um fato com máscara e tendo, tal como o herói criado por Lee Falk e Ray Moore, um cavalo e um cão (que desapareceriam com o tempo).
(Texto publicado originalmente a 28 de Novembro no Tex Willer Blog)
Aurelio Galleppini (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Julho de 2010)
160 x 210 mm, 252 p., cor, brochado
1. Já escrevi aqui, não sou grande adepto das cores Bonelli. Porque são demasiado impessoais, lisas, sem profundidade. Fundamentalmente porque são aplicadas em obras pensadas originalmente a preto e branco. O que faz toda a diferença.
2. O que não invalida que perceba perfeitamente a sua utilidade. Seja para marcar edições especiais (normalmente os números centenários das colecções dos heróis Bonelli que já são pensados dessa forma…), seja numa reedição como a actual, em que podem funcionar como chamariz para novos leitores, que têm hoje hábitos e exigências diferentes dos de há 60 anos quando Tex foi publicado pela primeira vez, seja como factor distintivo de uma reedição (de qualidade gráfica) melhorada, apontada também aos fãs do ranger.
3. E a verdade é que funciona, pois, criada em Itália em 2007 para ser vendida durante 50 semanas com o jornal “La Reppublica” e a revista “L’Espresso”, esta colecção colorida ultrapassou já os 200 números e as várias datas apontadas para o seu fim.
4. O mesmo se passa agora no Brasil (e por arrasta-mento em Portugal), onde depois de seis números bimestrais a título de experiência, a continuidade da colecção já está assegurada durante pelo menos mais seis tomos, a partir de Fevereiro de 2011, com periodicidade mensal.
5. E também outros países - Noruega, Finlândia e Croácia - aderiram a este modelo.
6. Independentemente disso, Tex é um clássico que fez sonhar – ainda faz! – gerações de leitores e, mesmo que alguns o considerem uma banda desenhada menor – seja lá isso o que for, não é por esse caminho que quero enveredar hoje – a verdade é que, pelo menos, é um exemplo (marcante e de sucesso) de uma época e de uma forma de fazer e de editar histórias aos quadradinhos que, com ajustes mínimos, prosseguiu até aos nossos dias.
7. Como todos os clássicos, também Tex tem aventuras e momentos mais marcantes do que outros. Este volume traz um dos mais significativos: o seu casamento com a índia Lilyth.
8. Casamento de conveniência – Tex aceitou-o para não morrer no poste de torturas –, é verdade, mas que de alguma forma marcou o resto da saga.
9. E curiosamente, este episódio marcou-a por diversas razões, algumas das quais antagónicas até.
10. Casamento de conveniência, escrevi atrás, decerto imaginado por Gianluigi Bonelli no “calor” da escrita, acabaria por se revelar – desde logo para o argumentista – como um passo em falso, por obrigar Tex a uma realidade mais “caseira”, incompatível com a sua vida aventurosa. Daí o facto de Lilyth rapidamente ter sido descartada da série.
11. Ou não, porque a verdade é que tendo sido curto, o tal casamento de conveniência, entretanto transformado em cumplicidade e depois mesmo em amor, acabou por ser para toda a vida, justificando o posterior longo celibato do herói, fiel à memória da sua amada.
12. Casamento que foi também um (insuspeitado) sinal de modernidade, ao antecipar em muitos anos, uma moda dos anos 70 que levaria ao altar Mandrake, Fantasma, Spiderman e Superman, entre outros.
13. Lilyth não morreria, no entanto, sem dar a Tex um filho varão – (também) símbolo da sua masculinidade – que, mais tarde, permitiria seguir a moda dos ajudantes juvenis dos heróis dos quadradinhos.
14. Mas deixemos estas considerações e voltemos a este volume em concreto, actualmente disponivel nas bancas portuguesas. Nele Tex, depois de concluir a libertação do seu amigo Montales no México, entra então no longo e atribulado episódio que o levará ao casamento com Lilyth e a desbaratar uma organização dedicada ao tráfico de armas, numa história em ritmo acelerado, semeada de inúmeras peripécias, confrontos, tiroteios, emboscadas, inflexões e mudanças de rumo, que se lê com agrado, como quem vê um filme de cowboys clássico, daqueles em que, aconteça o que acontecer, se sabe que no fim o herói ficará de pé. E, para já, casado!
Curiosidades
- Sendo Tex o único a vestir uma camisa amarela em todo o livro, não deixa de ser curiosa a facilidade como ele arranja modelos iguais, sempre que a sua é destruída.
- A aplicação a posteriori da cor, por vezes tem destas coisas: na página 13, a manga “tão ensanguentada” de Lupe – a descrição é do próprio Tex - é mostrada de um branco imaculado…
- Não deixa também de ser curioso um outro aspecto: até este momento, as várias mulheres com quem Tex se cruzara eram belas e sensuais, sempre vestidas com curtas saias e decotes mais ou menos generosos. Agora, Lilyth, a “esposa” – símbolo de castidade e respeito? – em contraste absoluto, veste uma túnica até aos pés, de manga comprida e sem decote… E - por arrastamento? - a vilã de serviço, Bessie, apresenta-se como uma matrona gorda e feia e não como uma jovem sedutora...
- Como curiosidade ainda, também referida por Júlio Schneider na introdução, refira-se a colagem de Tex, neste episódio, a um outro justiceiro, o Fantasma, uma das séries de sucesso de então, vestindo um fato com máscara e tendo, tal como o herói criado por Lee Falk e Ray Moore, um cavalo e um cão (que desapareceriam com o tempo).
(Texto publicado originalmente a 28 de Novembro no Tex Willer Blog)
28/11/2010
Selos & Quadradinhos (2)
Tema/subject/sujet: Comic Strip Classics
País/country/pays: EUA
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1995
País/country/pays: EUA
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1995
27/11/2010
Jerry Spring - L'intégrale en noir et blanc - Tome 2 – 1955/1958
Jijé (argumento e desenho)
René Goscinny (argumento)
Acquaviva (argumento)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo da edição integral das aventuras de Jerry Spring a preto e branco, agrupa os álbuns “La Passe des Indiens”, “La piste du Grand Nord”, “Le Ranch de la Malchance” e “Les 3 Barbus de Sonoyta”, com a curiosidade de o segundo e o terceiro agruparem várias histórias de tamanho diverso, incluindo uma com argumento de René Goscinny.
Desenvolvimento
Se é (relativamente) difícil, num intervalo de tempo tão curto, voltar a escrever sobre a reedição integral de Jerry Spring, o prazer que a sua leitura me proporcionou, a par da qualidade da obra-prima de Jijé, obrigam-me a fazê-lo.
E aproveito a “repetição”, para destacar um aspecto distintivo deste western: o seu carácter humanista, o que o leva por caminhos diversos de outros expoentes do género, como Blueberry, que prima pela aventura trepidante em ritmo acelerado, Comanche, em que impera o confronto entre o oeste selvagem e as mudanças trazidas pelo ”progresso”, ou Tex e o seu peculiar sentido de justiça a qualquer custo. Ou ainda Buddy Longway, talvez o que mais se aproxima de J. Spring, embora o tom e os contornos sejam diferentes, pois onde aquele avança, apesar de tudo, pela temática tradicional, o segundo tem o núcleo familiar e o seu quotidiano como base. Embora se perceba perfeitamente porque reclama Derib a herança temática e de valores de Jijé (e não a sua herança gráfica, bem mais evidente nos primeiros trabalhos de Jean Giraud, que foi seu assistente).
Este carácter humanista de Jerry Spring, revela-se em pormenores como o facto de o protagonista nunca atirar a matar, o humor sempre patente nos relatos (talvez demasiado caricatural na última história deste tomo) ou os “tempos mortos” das histórias em que Spring se limita a desfrutar da amizade de Pancho ou do contacto com a natureza selvagem. E cujo prazer que Jijé experimentou no seu desenho é bem evidente, pela naturalidade e o realismo das paisagens e, principalmente, dos belos cavalos. Daí também, o facto de a maior parte das narrativas decorrer fora dos locais habitados.
Para tudo isto contribuíram, sem dúvida, a temporada que Jijé e a sua família passaram nos Estados Unidos, e também a sua educação católica, que o levariam a exercitar a sua mestria noutras temáticas como a biografia de Don Bosco aos quadradinhos.
O que não impede que o seu traço, leve, delicado, vivo e dinâmico, bem trabalhado no contraste entre o branco e as manchas de negro, revele uma insuspeita sensualidade, revelada, por exemplo, nos surpreendentes nus mostrados neste tomo ou na graça da bela co-protagonista da última narrativa.
E não retira, também, longe disso, o tom aventuroso a Jerry Spring, envolvido na investigação de disputas fraudulentas de terrenos, roubos violentos, assaltos a minas de ouro ou bandidos mexicanos. Para nosso deleite e prazer.
Curiosidade
O primeiro tomo desta reedição integral, faz parte da selecção do Festival de Angoulême, na lista de candidatos ao Prémio do Património. Justamente.
René Goscinny (argumento)
Acquaviva (argumento)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo da edição integral das aventuras de Jerry Spring a preto e branco, agrupa os álbuns “La Passe des Indiens”, “La piste du Grand Nord”, “Le Ranch de la Malchance” e “Les 3 Barbus de Sonoyta”, com a curiosidade de o segundo e o terceiro agruparem várias histórias de tamanho diverso, incluindo uma com argumento de René Goscinny.
Desenvolvimento
Se é (relativamente) difícil, num intervalo de tempo tão curto, voltar a escrever sobre a reedição integral de Jerry Spring, o prazer que a sua leitura me proporcionou, a par da qualidade da obra-prima de Jijé, obrigam-me a fazê-lo.
E aproveito a “repetição”, para destacar um aspecto distintivo deste western: o seu carácter humanista, o que o leva por caminhos diversos de outros expoentes do género, como Blueberry, que prima pela aventura trepidante em ritmo acelerado, Comanche, em que impera o confronto entre o oeste selvagem e as mudanças trazidas pelo ”progresso”, ou Tex e o seu peculiar sentido de justiça a qualquer custo. Ou ainda Buddy Longway, talvez o que mais se aproxima de J. Spring, embora o tom e os contornos sejam diferentes, pois onde aquele avança, apesar de tudo, pela temática tradicional, o segundo tem o núcleo familiar e o seu quotidiano como base. Embora se perceba perfeitamente porque reclama Derib a herança temática e de valores de Jijé (e não a sua herança gráfica, bem mais evidente nos primeiros trabalhos de Jean Giraud, que foi seu assistente).
Este carácter humanista de Jerry Spring, revela-se em pormenores como o facto de o protagonista nunca atirar a matar, o humor sempre patente nos relatos (talvez demasiado caricatural na última história deste tomo) ou os “tempos mortos” das histórias em que Spring se limita a desfrutar da amizade de Pancho ou do contacto com a natureza selvagem. E cujo prazer que Jijé experimentou no seu desenho é bem evidente, pela naturalidade e o realismo das paisagens e, principalmente, dos belos cavalos. Daí também, o facto de a maior parte das narrativas decorrer fora dos locais habitados.
Para tudo isto contribuíram, sem dúvida, a temporada que Jijé e a sua família passaram nos Estados Unidos, e também a sua educação católica, que o levariam a exercitar a sua mestria noutras temáticas como a biografia de Don Bosco aos quadradinhos.
O que não impede que o seu traço, leve, delicado, vivo e dinâmico, bem trabalhado no contraste entre o branco e as manchas de negro, revele uma insuspeita sensualidade, revelada, por exemplo, nos surpreendentes nus mostrados neste tomo ou na graça da bela co-protagonista da última narrativa.
E não retira, também, longe disso, o tom aventuroso a Jerry Spring, envolvido na investigação de disputas fraudulentas de terrenos, roubos violentos, assaltos a minas de ouro ou bandidos mexicanos. Para nosso deleite e prazer.
Curiosidade
O primeiro tomo desta reedição integral, faz parte da selecção do Festival de Angoulême, na lista de candidatos ao Prémio do Património. Justamente.
26/11/2010
Blake e Mortimer - A Maldição dos Trinta Dinheiros - Tomo 2 - A Porta de Orfeu
Jean Van Hamme (argumento)
Antoine Aubin (desenho)
Étienne Schréder (cenários e arte-final)
Edições ASA (Portugal, Novembro de 2010)
236 x 316 mm, 56 p., cor, cartonado
Chega hoje às livrarias nacionais um dos álbuns de banda desenhada mais aguardados do ano. Lançado pela ASA em simultâneo com a edição original francesa, trata-se de uma nova aventura de Blake e Mortimer, mais concretamente “A Porta de Orfeu”, o segundo tomo do díptico “A Maldição dos Trinta Denários”, que levou os fleumáticos heróis britânicos até à Grécia, onde teriam sido descobertas as moedas com que Judas foi recompensado por ter entregue Jesus Cristo ao sinédrio judaico.
Partindo de uma boa conjugação entre factos históricos, a tradição judaico-cristã e ficção, Jean Van Hamme construiu uma intriga forte e credível, situada em meados dos anos 50 do século passado. Nela, estes dois heróis de referência da BD franco-belga, criados por Edgar. P. Jacobs em 1946, têm que defrontar mais uma vez o coronel Olrik, desta vez coligado com um antigo oficial nazi que pretende restaurar o III Reich com a ajuda da maldição associada às moedas.
Maldição que parecia ter também afectado a génese da obra, pois o primeiro tomo, sofreu diversos atrasos, o último dos quais causado pelo falecimento súbito do seu desenhador, René Sterne, tendo a obra sido concluída mais tarde pela sua esposa, Chantal De Spiegeleer.
Para este tomo, a parte gráfica foi entregue a Antoine Aubin, um autor sem grande experiência em banda desenhada mas que conseguiu entrar no espírito da obra com um traço a um tempo artesanal e dinâmico, tendo contado com o auxílio de Étienne Schreder nos cenários e na passagem a tinta. O resultado foi de tal forma satisfatório que Van Hamme prepara já novo argumento de Blake e Mortimer para ele desenhar.
A edição portuguesa da ASA tem também como aliciante a existência de duas capas diferentes, uma igual à original e outra, exclusiva para a FNAC.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 26 de Novembro de 2010)
Chega hoje às livrarias nacionais um dos álbuns de banda desenhada mais aguardados do ano. Lançado pela ASA em simultâneo com a edição original francesa, trata-se de uma nova aventura de Blake e Mortimer, mais concretamente “A Porta de Orfeu”, o segundo tomo do díptico “A Maldição dos Trinta Denários”, que levou os fleumáticos heróis britânicos até à Grécia, onde teriam sido descobertas as moedas com que Judas foi recompensado por ter entregue Jesus Cristo ao sinédrio judaico.
Partindo de uma boa conjugação entre factos históricos, a tradição judaico-cristã e ficção, Jean Van Hamme construiu uma intriga forte e credível, situada em meados dos anos 50 do século passado. Nela, estes dois heróis de referência da BD franco-belga, criados por Edgar. P. Jacobs em 1946, têm que defrontar mais uma vez o coronel Olrik, desta vez coligado com um antigo oficial nazi que pretende restaurar o III Reich com a ajuda da maldição associada às moedas.
Maldição que parecia ter também afectado a génese da obra, pois o primeiro tomo, sofreu diversos atrasos, o último dos quais causado pelo falecimento súbito do seu desenhador, René Sterne, tendo a obra sido concluída mais tarde pela sua esposa, Chantal De Spiegeleer.
Para este tomo, a parte gráfica foi entregue a Antoine Aubin, um autor sem grande experiência em banda desenhada mas que conseguiu entrar no espírito da obra com um traço a um tempo artesanal e dinâmico, tendo contado com o auxílio de Étienne Schreder nos cenários e na passagem a tinta. O resultado foi de tal forma satisfatório que Van Hamme prepara já novo argumento de Blake e Mortimer para ele desenhar.
A edição portuguesa da ASA tem também como aliciante a existência de duas capas diferentes, uma igual à original e outra, exclusiva para a FNAC.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 26 de Novembro de 2010)
25/11/2010
Scott Pilgrim #1 – Na boa vida e #2 – Contra o Mundo
Bryan Lee O’Malley (argumento e desenho)
Booksmile (Portugal, Outubro de 2010)
127 x 190 mm, 168 p, pb, brochado
Resumo
Scott Pilgrim tem 23 anos, é canadiano, viciado em jogos de computador, está desempregado, toca numa banda de garagem e namora com uma miúda gira da escola secundária. O problema, é que entretanto conhece Ramona Flowers e encontra-se dividido entre “dois amores”- fora as antigas namoradas que possam reaparecer.
A juntar a tudo isto, há ainda a necessidade de combater (literalmente) os Sete Maléficos ex-Namorados de Ramona para poder ficar com ela.
Desenvolvimento
Se o resumo lhe pareceu estranho, dando a ideia de ter havido uma “colagem acidental” entre excertos de duas obras diferentes, deixe-se surpreender: a sensação é compreensível mas a história é mesmo assim.
É verdade que, na sua base, Scott Pilgrim traça um retrato fiel e (bem) próximo da realidade da geração jovem adulto actual, perdida numa fase de transição – que noutros tempos significava passar dos estudos para o mercado de trabalho, mas que hoje não passa de um prolongamento – muitas vezes vazio – da juventude, sem directrizes nem ambições. Emprego é difícil de encontrar, o amadurecimento (intelectual, sentimental) surge (muito) mais tarde, o assumir de posições/relações/objectivos é raro. Em suma, a indefinição – a todos os níveis – rege as vidas daqueles que serão, um dia – bem mais tarde do que muitos desejavam e do que dantes acontecia – a realidade e/ou o futuro das nossas sociedades.
Scott Pilgrim, surge, assim, pelo que atrás fica (d)escrito, como o estereótipo do completo perdedor, vivendo às custas do amigo gay, tocando sem grande empenho numa banda de garagem, saltando entre namoradas sem assumir (ou se assumir) maiores compromissos, deslumbrado pelo que está longe, dando de barato o que conseguiu (mas raramente conquistou).
É neste registo, repleto de referências actuais, da BD e dos videojogos, mas também da música, do cinema e da TV, que O’Malley desenvolve um relato geralmente rápido – embora também tenha momentos mortos, correspondentes aos (muitos) vazios da vida de Pilgrim - condimentado com humor, que inclui alusões ao futuro dos seus próprios quadradinhos. A par disto, revela uma invulgar segurança na gestão dos diálogos (das palavras e dos silêncios), naturais, espontâneos, não mais palavrosos do que o necessário; numa palavra: credíveis.
E depois, em absoluto contraste com o tom realista da narrativa e dos cenários (cujos locais de referência são facilmente reconhecíveis), acrescenta um toque surpreendente e insólito: combates de artes marciais (irreais e) grandiosos, na esteira da tradição geralmente associada à BD nipónica, quebrando (com a ajuda do já referido humor) o tom depressivo que a história poderia tomar e conquistando novos leitores para ela.
Assim, junta ao estilo também a forma porque, graficamente, a referência do autor é a BD asiática, utilizando um traço vivo e dinâmico, perso-nagens de olhos esbuga-lhados e o recurso frequente a linhas de movi-mento, num todo que podendo não ser muito atraente em termos plásticos, é extremamente funcional em termos narrativos. O que é fundamental numa banda desenhada.
A reter
- O aparecimento de uma nova editora na área da banda desenhada. Mais a mais, com uma escolha inteligente, lançada atempadamente, de forma a estar disponível – e poder ser trabalhada – quando a 8 de Dezembro estrear o filme baseado nesta obra. A seguir com atenção.
- A qualidade dos diálogos, não pelo seu “recorte literário”, mas pela perfeita adequação à narrativa e à faixa etária que ela retrata.
- Sem requintes, a edição é sóbria e bem conseguida (com a excepção abaixo referida), o que lhe permite um preço interessante e competitivo. O que é importante porque um livro também deve ir ao encontro (do poder de compra) dos seus leitores preferenciais. No caso, uma faixa jovem adulto, que facilmente se identificará com o protagonista, os seus gostos e os seus dramas. O que, se não exclui os outros leitores, possivelmente, também não os atrairá especialmente – o que não é crime nenhum!
Menos conseguido
- Confesso que o traço muito estilizado de O’Malley não me encheu as medidas, especial-mente porque obriga a um certo esforço para identificar as diferentes personagens.
- A forma como foram guilhotinados (pelo menos os meus exemplares d)os livros, “aparando” as margens de alguns balões de texto.
Booksmile (Portugal, Outubro de 2010)
127 x 190 mm, 168 p, pb, brochado
Resumo
Scott Pilgrim tem 23 anos, é canadiano, viciado em jogos de computador, está desempregado, toca numa banda de garagem e namora com uma miúda gira da escola secundária. O problema, é que entretanto conhece Ramona Flowers e encontra-se dividido entre “dois amores”- fora as antigas namoradas que possam reaparecer.
A juntar a tudo isto, há ainda a necessidade de combater (literalmente) os Sete Maléficos ex-Namorados de Ramona para poder ficar com ela.
Desenvolvimento
Se o resumo lhe pareceu estranho, dando a ideia de ter havido uma “colagem acidental” entre excertos de duas obras diferentes, deixe-se surpreender: a sensação é compreensível mas a história é mesmo assim.
É verdade que, na sua base, Scott Pilgrim traça um retrato fiel e (bem) próximo da realidade da geração jovem adulto actual, perdida numa fase de transição – que noutros tempos significava passar dos estudos para o mercado de trabalho, mas que hoje não passa de um prolongamento – muitas vezes vazio – da juventude, sem directrizes nem ambições. Emprego é difícil de encontrar, o amadurecimento (intelectual, sentimental) surge (muito) mais tarde, o assumir de posições/relações/objectivos é raro. Em suma, a indefinição – a todos os níveis – rege as vidas daqueles que serão, um dia – bem mais tarde do que muitos desejavam e do que dantes acontecia – a realidade e/ou o futuro das nossas sociedades.
Scott Pilgrim, surge, assim, pelo que atrás fica (d)escrito, como o estereótipo do completo perdedor, vivendo às custas do amigo gay, tocando sem grande empenho numa banda de garagem, saltando entre namoradas sem assumir (ou se assumir) maiores compromissos, deslumbrado pelo que está longe, dando de barato o que conseguiu (mas raramente conquistou).
É neste registo, repleto de referências actuais, da BD e dos videojogos, mas também da música, do cinema e da TV, que O’Malley desenvolve um relato geralmente rápido – embora também tenha momentos mortos, correspondentes aos (muitos) vazios da vida de Pilgrim - condimentado com humor, que inclui alusões ao futuro dos seus próprios quadradinhos. A par disto, revela uma invulgar segurança na gestão dos diálogos (das palavras e dos silêncios), naturais, espontâneos, não mais palavrosos do que o necessário; numa palavra: credíveis.
E depois, em absoluto contraste com o tom realista da narrativa e dos cenários (cujos locais de referência são facilmente reconhecíveis), acrescenta um toque surpreendente e insólito: combates de artes marciais (irreais e) grandiosos, na esteira da tradição geralmente associada à BD nipónica, quebrando (com a ajuda do já referido humor) o tom depressivo que a história poderia tomar e conquistando novos leitores para ela.
Assim, junta ao estilo também a forma porque, graficamente, a referência do autor é a BD asiática, utilizando um traço vivo e dinâmico, perso-nagens de olhos esbuga-lhados e o recurso frequente a linhas de movi-mento, num todo que podendo não ser muito atraente em termos plásticos, é extremamente funcional em termos narrativos. O que é fundamental numa banda desenhada.
A reter
- O aparecimento de uma nova editora na área da banda desenhada. Mais a mais, com uma escolha inteligente, lançada atempadamente, de forma a estar disponível – e poder ser trabalhada – quando a 8 de Dezembro estrear o filme baseado nesta obra. A seguir com atenção.
- A qualidade dos diálogos, não pelo seu “recorte literário”, mas pela perfeita adequação à narrativa e à faixa etária que ela retrata.
- Sem requintes, a edição é sóbria e bem conseguida (com a excepção abaixo referida), o que lhe permite um preço interessante e competitivo. O que é importante porque um livro também deve ir ao encontro (do poder de compra) dos seus leitores preferenciais. No caso, uma faixa jovem adulto, que facilmente se identificará com o protagonista, os seus gostos e os seus dramas. O que, se não exclui os outros leitores, possivelmente, também não os atrairá especialmente – o que não é crime nenhum!
Menos conseguido
- Confesso que o traço muito estilizado de O’Malley não me encheu as medidas, especial-mente porque obriga a um certo esforço para identificar as diferentes personagens.
- A forma como foram guilhotinados (pelo menos os meus exemplares d)os livros, “aparando” as margens de alguns balões de texto.
24/11/2010
23/11/2010
Leituras de Banca
Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas:
Panini Brasil
DC Comics
Liga da Justiça #88
Batman #89
Esta revista inclui a segunda e última parte da excelente história “O que aconteceu com o Cavaleiro das Trevas?”, escrita por Neil Gaiman e desenhada por Andy Kubert.
Superman #89
No Brasil, esta revista chegou às bancas com uma edição defeituosa, com uma página pertencente à revista Liga da Justiça. A Panini fez uma nova edição, correcta e disponibilizou-se para fazer a troca sem custos para os leitores . Como será em Portugal?
Marvel
Homem-Aranha #100
Os Novos Vingadores #75
X-Men #100
Avante Vingadores #39
Universo Marvel #57
Wolverine #66
Destaque para os centésimos números de Homem-Aranha e X-Men, a primeira com um poster e a última com mais páginas – 148 – e, por isso, mais cara - 6,20 €.
Turma da Mónica
Mônica #41
Cebolinha #41
Cascão #41
Chico Bento #41
Magali #41
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #41
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #40
Almanaque da Mônica #21
Almanaque do Cebolinha #21
Almanaque do Cascão #21
Revista da Turma da Mônica – Uma aventura no parque #41
Almanaque Temático #14 – Cascão – Futebol
Grande Almanaque da Turma da Mônica #7
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #19 – Magalice no País das Melancias
Maurício Apresenta #9 – Turma da Mônica em todas as Copas do Mundo – parte 1
Turma da Mónica – Saiba mais #32 – Mata Atlântica
Turma da Mônica – Colecção Histórica #17
Turma da Mônica – Histórias de 2 páginas #5
Turma da Mônica Jovem #23
Mythos Editora
Tex #461 - Enforquem Kit Willer
Tex Colecção #253 - O Ouro do Colorado
Tex Ouro #40 - A Pousada dos Fantasmas / A Carta Queimada
Tex Edição em Cores #5 - Pacto de Sangue
Zagor Extra #74 - Ouro Maldito
Zagor #110 - Nas Águas do Passado
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #67 - A Morte de Betsy Blue
Mágico Vento #9 6- A Árvore dos Enforcados
Panini Brasil
DC Comics
Liga da Justiça #88
Batman #89
Esta revista inclui a segunda e última parte da excelente história “O que aconteceu com o Cavaleiro das Trevas?”, escrita por Neil Gaiman e desenhada por Andy Kubert.
Superman #89
No Brasil, esta revista chegou às bancas com uma edição defeituosa, com uma página pertencente à revista Liga da Justiça. A Panini fez uma nova edição, correcta e disponibilizou-se para fazer a troca sem custos para os leitores . Como será em Portugal?
Marvel
Homem-Aranha #100
Os Novos Vingadores #75
X-Men #100
Avante Vingadores #39
Universo Marvel #57
Wolverine #66
Destaque para os centésimos números de Homem-Aranha e X-Men, a primeira com um poster e a última com mais páginas – 148 – e, por isso, mais cara - 6,20 €.
Turma da Mónica
Mônica #41
Cebolinha #41
Cascão #41
Chico Bento #41
Magali #41
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #41
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #40
Almanaque da Mônica #21
Almanaque do Cebolinha #21
Almanaque do Cascão #21
Revista da Turma da Mônica – Uma aventura no parque #41
Almanaque Temático #14 – Cascão – Futebol
Grande Almanaque da Turma da Mônica #7
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #19 – Magalice no País das Melancias
Maurício Apresenta #9 – Turma da Mônica em todas as Copas do Mundo – parte 1
Turma da Mónica – Saiba mais #32 – Mata Atlântica
Turma da Mônica – Colecção Histórica #17
Turma da Mônica – Histórias de 2 páginas #5
Turma da Mônica Jovem #23
Mythos Editora
Tex #461 - Enforquem Kit Willer
Tex Colecção #253 - O Ouro do Colorado
Tex Ouro #40 - A Pousada dos Fantasmas / A Carta Queimada
Tex Edição em Cores #5 - Pacto de Sangue
Zagor Extra #74 - Ouro Maldito
Zagor #110 - Nas Águas do Passado
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #67 - A Morte de Betsy Blue
Mágico Vento #9 6- A Árvore dos Enforcados
22/11/2010
Almanaque Tex #39 – O substituto
Claudio Nizzi (argumento)
Ferdinando Fusco (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Maio de 2010)
135 x 178 mm, 114 p., pb, brochado
Resumo
Na origem desta história está uma missão entregue a Tex: transferir para a Penitenciária de Yuma Ray Bonner, um jovem condenado a prisão perpétua, por não revelar onde está escondido o saque de um banco assaltado por ele e mais seis homens. A chamada do ranger justifica-se porque Bonner ameaçou revelar a identidade dos seus cúmplices se estes não o libertarem durante o percurso.
Só que, quando o ranger chega a Flagstaff, onde Bonner está preso, tem à sua espera um cadáver pois ele foi envenenado. É então que Kit Willer assume o lugar do prisioneiro, servindo de engodo aos restantes assaltantes.
Desenvolvimento
1. Não sendo original, nem sequer em Tex – e tendo um (mais habitual) desfecho a tender para o massacre – não deixa de ser curioso o estratagema utilizado pelo ranger para atrair os ladrões do banco. Mesmo que esta ideia-base pudesse ter sido levada mais longe, ganhando com isso o relato, desde logo explorando, por exemplo, as ameaças feitas pelas suas vítimas…
2. Por isso, afinal, a maior curiosidade desta narrativa acabam por ser diversas cenas pausadas nela incluídas, nada habituais nas aventuras do ranger. Em especial nas primeiras páginas, onde é possível encontrar algumas sequências (de uma ou mais pranchas), quase sempre vezes mudas, nas quais nada mais acontece do que uma personagem deslocar-se de um local para outro, muitas vezes sem que isso esteja sequer associado a momentos de suspense. Cenas que contrastam com o longo tiroteio final.
3. Finalmente, um destaque duplo: primeiro, para o belo traço fino, realista, detalhado e pormenorizado de Ferdinando Fusco, com poucas sombras mas um bem trabalhado contraste negro/branco, que – segundo ponto - está desta vez bem impresso pela Mythos. O que, diga-se em abono da justiça, tem acontecido com maior frequência.
(Texto publicado originalmente no Tex Willer Blog, a 18 de Novembro de 2010)
21/11/2010
Selos & Quadradinhos (0) e (1)
Stamps & Comics (0/1) / Timbres & BD (0/1)
Não são banda desenhada, mas são quadradinhos - ou, as mais das vezes, rectangulozinhos…
Não são leitura, mas inspiraram-se nela e evocam muitas horas (muito) bem passadas com um livro nas mãos.
Estão cada vez mais em desuso mas mantêm um charme e uma atracção muito especiais.
Estou a referir-me a selos cuja temática é a banda desenhada, por apresentarem os seus heróis ou serem desenhados pelos seus criadores, que passarão a ser presença regular neste blog, geralmente aos sábados e domingos.
Desfrutem deles!
Ils ne sont pas des bandes dessinées, mais sont des petits carrés - ou, plus souvent, des petits rectangles... Ne sont pas pour lire, mais ils sont inspirés et évoquent les nombreuses heures (très) bien passées avec un livre de BD dans les mains. Ils sont de plus en plus en désuétude mais ils conservent un charme et une attraction très spéciale. Je parle des timbres dont le thème est la bande dessinée, parce qu’ils rendent hommage à leurs héros ou sont dessinés par ses créateurs, qui seront une présence régulière sur ce blog, habituellement les samedis et les dimanches. Profitez!
There are no comics, but they are small squares - or, more often, small rectangles … They are not for read, but they are inspired and evoke many hours (very) well spent with a comic book in hands.
They are increasingly in disuse but retain a charm and a very special attraction.
I’m talking about those stamps whose theme is the comics, because they show their heroes or are drawn by its creators, who will be a regular presence on this blog, usually on Saturdays and Sundays. Enjoy them!
Não são leitura, mas inspiraram-se nela e evocam muitas horas (muito) bem passadas com um livro nas mãos.
Estão cada vez mais em desuso mas mantêm um charme e uma atracção muito especiais.
Estou a referir-me a selos cuja temática é a banda desenhada, por apresentarem os seus heróis ou serem desenhados pelos seus criadores, que passarão a ser presença regular neste blog, geralmente aos sábados e domingos.
Desfrutem deles!
Ils ne sont pas des bandes dessinées, mais sont des petits carrés - ou, plus souvent, des petits rectangles... Ne sont pas pour lire, mais ils sont inspirés et évoquent les nombreuses heures (très) bien passées avec un livre de BD dans les mains. Ils sont de plus en plus en désuétude mais ils conservent un charme et une attraction très spéciale. Je parle des timbres dont le thème est la bande dessinée, parce qu’ils rendent hommage à leurs héros ou sont dessinés par ses créateurs, qui seront une présence régulière sur ce blog, habituellement les samedis et les dimanches. Profitez!
There are no comics, but they are small squares - or, more often, small rectangles … They are not for read, but they are inspired and evoke many hours (very) well spent with a comic book in hands.
They are increasingly in disuse but retain a charm and a very special attraction.
I’m talking about those stamps whose theme is the comics, because they show their heroes or are drawn by its creators, who will be a regular presence on this blog, usually on Saturdays and Sundays. Enjoy them!
Tema/subject/sujet: Heróis Portugueses de Banda Desenhada
País/country/pays: Portugal
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 8 de Outubro de 2004
20/11/2010
Sinfonia Quadripolar na Mundo Fantasma
Data: 20 de Novembro de 2010 a 2 de Janeiro de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 2oh: Domingo das 15h às 19h
“Sinfonia Quadripolar” é o título da exposição de ilustração e banda desenhada que é inaugurada hoje, às 17 horas, na Galeria Mundo Fantasma, junto à loja especializada em BD com o mesmo nome, no Centro Comercial Brasília, no Porto.
Patente até 2 de Janeiro de 2011, esta é uma mostra a quatro mãos pois reúne originais de Pepedelrey, Nuno Duarte, Ricardo Venâncio e João Tércio, que estarão presentes para conversar com os visitantes e autografarem algumas das suas obras, entre as quais “The Lisbon Studio Mag”, uma revista semestral que serve de cartão de apresentação e portfolio ao colectivo com o mesmo nome, que todos integram.
À frente do projecto está Pepedelrey, editor e responsável pela El Pep, uma pequena editora independente, que tem publicado os projectos destes quatro autores. Para além disso, Pepedelrey é também desenhador e argumentista de livros como “Virgin’s trip” ou “Paris Morreu”. Este último, um policial negro, tem a assinatura gráfica de Nuno Duarte, também responsável, num registo completamente diferente, pelo pouco sociável “Mocifão”, personagem nascida online (http://mocifao.blogspot.com/), mas cujo segundo livro já está quase pronto.
Quanto a Ricardo Venâncio, publicou no ano passado o primeiro tomo de “Defier”, uma narrativa pós-apocalíptica, tendo chegado a trabalhar com C. B. Cebulski, um “caça-talentos da Marvel, numa BD de ficção-científica intitulada “No Quarter”, projecto entretanto suspenso.
Finalmente, João Tércio lançou este ano o seu primeiro livro, “Março Anormal”, uma reflexão crítica e sarcástica sobre o tempo actual e os seus ícones.
Os quatro autores possuem estilos e temáticas diferentes, traduzidas em discursos gráficos díspares mas não inconciliáveis, agora mostrados num mesmo local, o que permite distinguir afinidades e divergências nas suas visões diferenciadas de uma mesma realidade.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Novembro de 2010)
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 2oh: Domingo das 15h às 19h
“Sinfonia Quadripolar” é o título da exposição de ilustração e banda desenhada que é inaugurada hoje, às 17 horas, na Galeria Mundo Fantasma, junto à loja especializada em BD com o mesmo nome, no Centro Comercial Brasília, no Porto.
Patente até 2 de Janeiro de 2011, esta é uma mostra a quatro mãos pois reúne originais de Pepedelrey, Nuno Duarte, Ricardo Venâncio e João Tércio, que estarão presentes para conversar com os visitantes e autografarem algumas das suas obras, entre as quais “The Lisbon Studio Mag”, uma revista semestral que serve de cartão de apresentação e portfolio ao colectivo com o mesmo nome, que todos integram.
À frente do projecto está Pepedelrey, editor e responsável pela El Pep, uma pequena editora independente, que tem publicado os projectos destes quatro autores. Para além disso, Pepedelrey é também desenhador e argumentista de livros como “Virgin’s trip” ou “Paris Morreu”. Este último, um policial negro, tem a assinatura gráfica de Nuno Duarte, também responsável, num registo completamente diferente, pelo pouco sociável “Mocifão”, personagem nascida online (http://mocifao.blogspot.com/), mas cujo segundo livro já está quase pronto.
Quanto a Ricardo Venâncio, publicou no ano passado o primeiro tomo de “Defier”, uma narrativa pós-apocalíptica, tendo chegado a trabalhar com C. B. Cebulski, um “caça-talentos da Marvel, numa BD de ficção-científica intitulada “No Quarter”, projecto entretanto suspenso.
Finalmente, João Tércio lançou este ano o seu primeiro livro, “Março Anormal”, uma reflexão crítica e sarcástica sobre o tempo actual e os seus ícones.
Os quatro autores possuem estilos e temáticas diferentes, traduzidas em discursos gráficos díspares mas não inconciliáveis, agora mostrados num mesmo local, o que permite distinguir afinidades e divergências nas suas visões diferenciadas de uma mesma realidade.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Novembro de 2010)
19/11/2010
Fernando Bento em Beja
Centenário do nascimento de Fernando Bento
Bailados de Papel
Exposição de Banda Desenhada e Ilustração
Data: 19 de Novembro a 31 de Dezembro
Local: Galeria de Exposições Temporárias da Bedeteca de Beja (1º andar da Casa da Cultura)
Horário: De 2ª a 6ª feira das 9h00 às 23h00; Sábados das 14h00 às 20h00
Quando Fernando Bento desenhou o cabeçalho de um prospecto do Coliseu dos Recreios, em 1931, não adivinhava certamente que viria a ser um dos artistas mais significativos no contexto da banda desenhada portuguesa dos anos 40 e 50. Bento nasceu em Lisboa, em 1910. Desde muito pequeno que começou a contactar de perto com a magia contagiante do espectáculo, quer se tratasse do circo, da ópera, do musical ou do teatro. O pai trabalhava com o artista Ricardo Covões, o que permitiu ao jovem Fernando Bento o acesso aos bastidores do Coliseu e aos seus segredos. Aos poucos, naturalmente, Bento foi desenhando cenários, figurinos e cartazes, chegando a atingir grande sucesso em meados da década de 30. A crítica, através do Diário de Lisboa, do Diário de Notícias e d’O Século, entre outros periódicos, teceu enormes elogios ao seu trabalho de cenógrafo e figurinista. Parecia natural que Bento seguisse este percurso… Tinha então 25 anos e o mundo à espera. E na verdade foi o mundo que encontrou, mas o mundo das histórias aos quadradinhos, como então se chamava à banda desenhada…
Fernando Bento começou então a fazer banda desenhada para o jornal República, em 1938. A princípio as suas histórias não excediam algumas vinhetas, mas à medida que a linguagem dos quadradinhos se lhe tornava mais próxima foi enveredando por narrativas mais longas, dando-lhes maior consistência. Desenhou depois no Pim Pam Pum, no Diabrete, no Cavaleiro Andante e noutras publicações, deslumbrando centenas de jovens com as suas esguias figuras.
O traço de Bento é estilizado, a fazer lembrar, por vezes, o desenho de figurinista. Não é de estranhar por isso que os seus desenhos atinjam uma elegância que o torna, talvez, o desenhador mais original da sua geração… Algumas das sequências que desenhou lembram verdadeiros bailados de papel.
Bento, à semelhança da enorme maioria dos autores portugueses de banda desenhada, nunca criou uma personagem central para as suas histórias, como é costume entre muitos artistas do resto da Europa ou dos Estados Unidos. Preferiu perder-se pelos caminhos aventurosos do mundo seguindo a pena de Verne, Melville, Stevenson, Walter Scott ou, claro, Adolfo Simões Muller…
A exposição que agora se mostra, organizada pela Câmara Municipal de Moura, pelo Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, e pelo Grupo Bedéfilo Sobredense, assinala o centenário do nascimento de Fernando Bento, deixando descobrir o percurso ímpar de um artista incontornável para a história da banda desenhada portuguesa. Sem querer deixar de contribuir para a exposição, a Bedeteca de Beja juntou-lhe várias publicações (algumas de grande raridade) onde se pode apreciar o traço do Mestre…
(texto da responsabilidade da Bedeteca de Beja)
Bailados de Papel
Exposição de Banda Desenhada e Ilustração
Data: 19 de Novembro a 31 de Dezembro
Local: Galeria de Exposições Temporárias da Bedeteca de Beja (1º andar da Casa da Cultura)
Horário: De 2ª a 6ª feira das 9h00 às 23h00; Sábados das 14h00 às 20h00
Quando Fernando Bento desenhou o cabeçalho de um prospecto do Coliseu dos Recreios, em 1931, não adivinhava certamente que viria a ser um dos artistas mais significativos no contexto da banda desenhada portuguesa dos anos 40 e 50. Bento nasceu em Lisboa, em 1910. Desde muito pequeno que começou a contactar de perto com a magia contagiante do espectáculo, quer se tratasse do circo, da ópera, do musical ou do teatro. O pai trabalhava com o artista Ricardo Covões, o que permitiu ao jovem Fernando Bento o acesso aos bastidores do Coliseu e aos seus segredos. Aos poucos, naturalmente, Bento foi desenhando cenários, figurinos e cartazes, chegando a atingir grande sucesso em meados da década de 30. A crítica, através do Diário de Lisboa, do Diário de Notícias e d’O Século, entre outros periódicos, teceu enormes elogios ao seu trabalho de cenógrafo e figurinista. Parecia natural que Bento seguisse este percurso… Tinha então 25 anos e o mundo à espera. E na verdade foi o mundo que encontrou, mas o mundo das histórias aos quadradinhos, como então se chamava à banda desenhada…
Fernando Bento começou então a fazer banda desenhada para o jornal República, em 1938. A princípio as suas histórias não excediam algumas vinhetas, mas à medida que a linguagem dos quadradinhos se lhe tornava mais próxima foi enveredando por narrativas mais longas, dando-lhes maior consistência. Desenhou depois no Pim Pam Pum, no Diabrete, no Cavaleiro Andante e noutras publicações, deslumbrando centenas de jovens com as suas esguias figuras.
O traço de Bento é estilizado, a fazer lembrar, por vezes, o desenho de figurinista. Não é de estranhar por isso que os seus desenhos atinjam uma elegância que o torna, talvez, o desenhador mais original da sua geração… Algumas das sequências que desenhou lembram verdadeiros bailados de papel.
Bento, à semelhança da enorme maioria dos autores portugueses de banda desenhada, nunca criou uma personagem central para as suas histórias, como é costume entre muitos artistas do resto da Europa ou dos Estados Unidos. Preferiu perder-se pelos caminhos aventurosos do mundo seguindo a pena de Verne, Melville, Stevenson, Walter Scott ou, claro, Adolfo Simões Muller…
A exposição que agora se mostra, organizada pela Câmara Municipal de Moura, pelo Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, e pelo Grupo Bedéfilo Sobredense, assinala o centenário do nascimento de Fernando Bento, deixando descobrir o percurso ímpar de um artista incontornável para a história da banda desenhada portuguesa. Sem querer deixar de contribuir para a exposição, a Bedeteca de Beja juntou-lhe várias publicações (algumas de grande raridade) onde se pode apreciar o traço do Mestre…
(texto da responsabilidade da Bedeteca de Beja)
18/11/2010
Turma da Mônica Jovem #21 e #22
No País das Maravilhas
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Abril e Maio de 2010)
160 x 210 mm, mensal, 128 p., preto e branco, brochada
Na banda desenhada – como em qualquer outra arte – variedade e diversidade é fundamental. Quanto mais não seja, para haver possibilidade de escolha, para poder definir gostos através da comparação.
Se só houvesse Dot & Dash, ou só Stuart, ou só Tintin, ou só J. Kendall, ou só Corto Maltese, ou só Iron Man, ou só humor, ou só acção, ou só aventura, ou só crítica social, ou só História, ou só manga, ou só super-heróis, ou só franco-belga, ou só autobiografia, seria impossível desfrutar em toda a plenitude de qualquer destas obras ou de qualquer destes géneros.
Porque, todos eles têm o seu lugar, o seu interesse, a sua importância: na formação de jovens leitores ou no seu acompanhamento ao longo do crescimento e amadurecimento, na diversificação da oferta ou na exploração de novas vias e tendências, na combinação de diferentes géneros e sensibilidades artísticas ou na adaptação de obras de outros meios de expressão à linguagem própria dos quadradinhos.
Por isso, quando nas minhas Melhores Leituras de um qualquer mês eu indico Tex e Jerry Spring e André Carrilho e Blacksad, não estou de forma alguma a dizer que todos os livros em questão me satisfizeram de igual forma ou me tocaram da mesma maneira. Apenas indico que todos eles me satisfizeram no momento da sua leitura, que todos eles corresponderam ou superaram as minhas expectativas. Até porque não tenho – não posso ter, ninguém pode – as mesmas expectativas para todas as obras. Mas, a diferentes níveis, todas podem satisfazer-me (ou não, também é verdade). Porque, em todas, há lugar para profissionalismo e para arte, para génio e para trabalho, para diversão e para reflexão. E para obras-primas, (também) em sentido absoluto, cuja leitura se recomenda – eu recomendo muitas vezes.
Por isso, neste espaço que preencho com as reflexões das minhas leituras, tenho procurado diversificar o leque de obras sugeridas, cumprindo, de algum modo – menos do que desejava – o propósito que estabeleci no início do ano.
Por isso, também, hoje, a minha proposta de leitura são os dois mais recentes (nas nossas bancas) números da Turma da Mônica Jovem.
Escolha que certamente levará muitos a torcer o nariz e a seguirem adiante. Perdendo, em minha opinião, a hipótese de desfrutarem de um produto (não, não é um termo pejorativo) bem feito e adequado aos propósitos que o seu autor previamente estabeleceu: educar, formar, divertir. O maior número de leitores que for possível.
Daí, o uso de personagens conhecidas e (muito) populares recriadas numa nova fase da sua vida, o estilo gráfico adequado aos gostos dos seus leitores potenciais, os adolescentes (o que não significa que não toque igualmente crianças e adultos), um tom ligeiro e leve (não displicente ou menor, até porque estão lá os ingredientes para fazer pensar) -, uma colagem consistente a temas actuais, o recurso a referências por todos (re)conhecidas. No caso vertente, o clássico de Lewis Carrol, “Alice no País das Maravilhas”, potenciado pela (então) próxima estreia do filme de Tim Burton… Que é abordado com uma boa exploração do universo original, mesclando-o com o universo da Turma da Mônica (e não só a Jovem), recorrendo ao humor (muitas vezes à custa da própria criação), à clareza dos diálogos e a um ritmo narrativo que se adequa às diferentes cenas, que são apanágio tradicional das obras de Maurício de Sousa. Um bom exemplo? As primeiras páginas do tomo #21, com o próprio Maurício a surgir, com o seu “lápis mágico”, ao lado da sua esposa Alice, que faz a ponte para a outra, a do País das Maravilhas, antes da Mônica assumir a personagem…
E mensalmente, em cada nova história escrita e desenhada, as personagens vão desenvolvendo as suas personalidades – mantendo muitas das características já conhecidas, recorrentemente evocadas, para aumentar a ligação com os leitores -, o novo universo vai sendo estruturado, relações e sentimentos vão sendo aprofundados.
E, o mínimo que pode ser escrito é que os objectivos traçados têm sido alcançados. Provam-no os resultados comerciais (que, sim, são – sempre - importantes), a forma agradável como estas histórias se apresentam, o prazer que a sua leitura pode proporcionar.
Como leitura exclusiva? Não, de forma alguma! Como leitura capaz de satisfazer integralmente um leitor exigente? Também não (embora a resposta possa ser sim, se pensada para situações específicas). Mas, sem dúvida, como MAIS uma leitura, capaz de agradar e dispor bem, e de permitir desfrutar, (também) a outros níveis, de outras leituras diferentes.
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Abril e Maio de 2010)
160 x 210 mm, mensal, 128 p., preto e branco, brochada
Na banda desenhada – como em qualquer outra arte – variedade e diversidade é fundamental. Quanto mais não seja, para haver possibilidade de escolha, para poder definir gostos através da comparação.
Se só houvesse Dot & Dash, ou só Stuart, ou só Tintin, ou só J. Kendall, ou só Corto Maltese, ou só Iron Man, ou só humor, ou só acção, ou só aventura, ou só crítica social, ou só História, ou só manga, ou só super-heróis, ou só franco-belga, ou só autobiografia, seria impossível desfrutar em toda a plenitude de qualquer destas obras ou de qualquer destes géneros.
Porque, todos eles têm o seu lugar, o seu interesse, a sua importância: na formação de jovens leitores ou no seu acompanhamento ao longo do crescimento e amadurecimento, na diversificação da oferta ou na exploração de novas vias e tendências, na combinação de diferentes géneros e sensibilidades artísticas ou na adaptação de obras de outros meios de expressão à linguagem própria dos quadradinhos.
Por isso, quando nas minhas Melhores Leituras de um qualquer mês eu indico Tex e Jerry Spring e André Carrilho e Blacksad, não estou de forma alguma a dizer que todos os livros em questão me satisfizeram de igual forma ou me tocaram da mesma maneira. Apenas indico que todos eles me satisfizeram no momento da sua leitura, que todos eles corresponderam ou superaram as minhas expectativas. Até porque não tenho – não posso ter, ninguém pode – as mesmas expectativas para todas as obras. Mas, a diferentes níveis, todas podem satisfazer-me (ou não, também é verdade). Porque, em todas, há lugar para profissionalismo e para arte, para génio e para trabalho, para diversão e para reflexão. E para obras-primas, (também) em sentido absoluto, cuja leitura se recomenda – eu recomendo muitas vezes.
Por isso, neste espaço que preencho com as reflexões das minhas leituras, tenho procurado diversificar o leque de obras sugeridas, cumprindo, de algum modo – menos do que desejava – o propósito que estabeleci no início do ano.
Por isso, também, hoje, a minha proposta de leitura são os dois mais recentes (nas nossas bancas) números da Turma da Mônica Jovem.
Escolha que certamente levará muitos a torcer o nariz e a seguirem adiante. Perdendo, em minha opinião, a hipótese de desfrutarem de um produto (não, não é um termo pejorativo) bem feito e adequado aos propósitos que o seu autor previamente estabeleceu: educar, formar, divertir. O maior número de leitores que for possível.
Daí, o uso de personagens conhecidas e (muito) populares recriadas numa nova fase da sua vida, o estilo gráfico adequado aos gostos dos seus leitores potenciais, os adolescentes (o que não significa que não toque igualmente crianças e adultos), um tom ligeiro e leve (não displicente ou menor, até porque estão lá os ingredientes para fazer pensar) -, uma colagem consistente a temas actuais, o recurso a referências por todos (re)conhecidas. No caso vertente, o clássico de Lewis Carrol, “Alice no País das Maravilhas”, potenciado pela (então) próxima estreia do filme de Tim Burton… Que é abordado com uma boa exploração do universo original, mesclando-o com o universo da Turma da Mônica (e não só a Jovem), recorrendo ao humor (muitas vezes à custa da própria criação), à clareza dos diálogos e a um ritmo narrativo que se adequa às diferentes cenas, que são apanágio tradicional das obras de Maurício de Sousa. Um bom exemplo? As primeiras páginas do tomo #21, com o próprio Maurício a surgir, com o seu “lápis mágico”, ao lado da sua esposa Alice, que faz a ponte para a outra, a do País das Maravilhas, antes da Mônica assumir a personagem…
E mensalmente, em cada nova história escrita e desenhada, as personagens vão desenvolvendo as suas personalidades – mantendo muitas das características já conhecidas, recorrentemente evocadas, para aumentar a ligação com os leitores -, o novo universo vai sendo estruturado, relações e sentimentos vão sendo aprofundados.
E, o mínimo que pode ser escrito é que os objectivos traçados têm sido alcançados. Provam-no os resultados comerciais (que, sim, são – sempre - importantes), a forma agradável como estas histórias se apresentam, o prazer que a sua leitura pode proporcionar.
Como leitura exclusiva? Não, de forma alguma! Como leitura capaz de satisfazer integralmente um leitor exigente? Também não (embora a resposta possa ser sim, se pensada para situações específicas). Mas, sem dúvida, como MAIS uma leitura, capaz de agradar e dispor bem, e de permitir desfrutar, (também) a outros níveis, de outras leituras diferentes.