17/01/2011

Conventum

Pascal Girard (argumento e desenho)
Delcourt (França, 5 de Janeiro de 2011)
147 x 210 mm, 160 p., pb, brochado com badanas

13,50 €

Resumo

A vida tranquila de Pascal Girard, no Quebeque, sofre uma reviravolta ao receber um convite para participar num encontro com os antigos colegas de liceu, 10 anos depois.
Sentindo-se, gordo, envelhecido, desleixado, tem quatro meses para mudar a sua imagem e apresentar-se como um ganhador.

Desenvolvimento
“Instituição” em voga nos EUA (e no Canadá), os encontros com antigos colegas (o tal “conventum” do título, termo utilizado pelos canadianos para designar este tipo de reuniões), não têm muita expressão entre nós.
O que de certa forma se compreende porque, se por um lado permitem o reencontro entre pessoas que há muito não se vêem, apesar de terem passado juntas uma fase importante da vida, por outro (na maior parte dos casos?), servirão apenas para o reencontro com velhos ódios, relembrar momentos embaraçantes, confirmar como se envelheceu mal e verificar como ficaram por cumprir tantos sonhos e objectivos. Até porque, as relações que interessavam, foram com certeza mantidas.
É por (tudo) isso, aliás, que a primeira decisão de Pascal é recusar o convite e manter a sua vid(inh)a desinteressante mas (relativamente) sossegada, dividida entre a relação (complicada) com a companheira, as obsessões quotidianas, o medo do que é novo ou diferente. Só que, um (surpreendente) mail de Lucie, antiga paixão (platónica porque nunca declarada) do liceu, propondo irem juntos para o encontro, reacende antigos desejos e fá-lo decidir-se a ir.
Começa então para Pascal uma corrida contra o tempo, passada em stress constante, para perder peso, mudar o visual, comprar novo guarda-roupa… Esquecendo que o principal, o interior, é bem mais difícil de mudar. E mesmo o exterior…
Como acabará por descobrir durante o “conventum”, numa noite para esquecer, em que tudo lhe corre mal e na qual (surpreso?) verifica que os colegas – ao contrário da ideia que ele tinha de si próprio (!) – sempre o consideraram um perdedor. Por isso, talvez, as melhores recordações das horas lá passadas parecem ser do tempo que passou com… a cozinheira. A conversar, entenda-se, ou, melhor ainda, a ser enxotado por ela da cozinha, pese o facto de ser a única a demonstrar alguma compreensão por ele…
Isto, num relato longo e detalhado, em que os momentos negativos se sucedem: Lucie acaba por não aparecer, esqueceu de fazer (e pagar) a marcação, tem que ir no camião do pai, leva vestido o casaco (apertado) do irmão e calçadas meias rotas desfeitas no jogging que com afinco praticou dia-a-dia, os seus óculos partem-se, os antigos companheiros ignoram-no ou só recordam os momentos que Pascal fez por esquecer, a sua profissão (incompreendida) de desenhador destoa com as carreiras de “sucesso” feitas pelos colegas na construção civil ….
Profissão que lhe serve, pelo menos, para nos narrar cinco meses da sua vida, com um traço fino, suficientemente expressivo e pormenorizado q.b., que serve de base a uma narrativa maioritariamente depressiva e derrotista, contrastada por alguns momentos de humor bem conseguidos. Que, no entanto, são insuficientes para amenizar um relato demasiado longo e pormenorizado, que valoriza e explora aspectos que, podendo ser importantes para o autor/per-sonagem, o são menos para o leitor. Um dos problemas, aliás, que afecta, por vezes, a BD autobiográfica.

A reter
- O bom domínio do ritmo narrativo por parte de Girard, apesar do que atrás fica escrito. O problema da narrativa não é o seu ritmo, mas a sua extensão, a exploração demasiado minuciosa de alguns momentos ou situações.
- A dureza (realismo?) do (auto-)retrato de Girard, apresentando-se não só como um anti-social constantemente angustiado, mas também rude, antipático e mal-educado, que nunca desperta qualquer tipo de simpatia no leitor ao longo de todo o relato. Em resumo, alguém que não interessa, de todo, conhecer.

Menos conseguido
- A extensão do relato que, apesar de algum humor que desarma o seu tom quase catastrófico, o torna aborrecido a espaços. Porque a preparação e o reencontro com antigos colegas é uma linha condutora demasiado frágil para sustentar centena e meia de páginas.
- A total ausência de delimitação das vinhetas porque torna um pouco confusas algumas passagens, embora tenha o efeito de tornar menos pesadas a maioria das pranchas.

Curiosidade
- O site de Pascal Girard.

Sem comentários:

Enviar um comentário