Tentando tornar mais abrangente - e menos personalizado - o balanço de 2019 que As Leituras do Pedro estão a levar a cabo durante este mês de Janeiro, foi pedido aos responsáveis das editoras portuguesas com mais títulos lançados no ano passado, que destacassem (até) três dos seus títulos e três títulos de outras editoras que gostariam de ter sido eles a editar.
As
respostas estão a ser publicadas aqui por ordem de recepção, sendo
hoje a altura de conhecermos a opinião de José de Freitas, editor
da G. Floy.
Edições da G. Floy
Ed Brubaker e Sean Phillips
Jeff Lemire e Andrea Sorrentino
Fábio Moon e Gabriel Bá
Livros de outras editoras
Oliver Vatine e Alberto Varanda
Ala dos Livros
André Oliveira e Bernardo Majer
Polvo
Jeff Lemire e Dean Ormston
Levoir
Comentário
É
sempre complicado pedir a um editor que escolha os seus livros
preferidos no seu catálogo num dado ano, presume-se que ele gosta de
todos, ou da maioria, e ficamos sempre com um amargo na boca por
escolher uns em vez de outros. É verdade que todos os editores
acabam por vexes por editar livros de que não são super fãs - p.
ex., no nosso caso, eu não sou especialmente fã de Deadpool, e
mesmo assim a G. Floy edita uma série de Deadpool. Acho que são
bons livros para fãs da Marvel e de super-heróis, mas não são nem
de longe os meus preferidos.
No
caso da G. Floy temos também o facto de que o nosso catálogo é
co-impresso com os nossos colegas da Polónia, e que os gostos podem
divergir, e por isso por vezes editamos coisas que foram propostas
entusiasticamente por eles, mesmo que eu cá, sozinho, talvez não
editasse. Todos os catálogos são feitos de transigências, acasos,
e de escolhas que por vezes reflectem apenas aquilo que é possível,
e não aquilo que desejamos.
Creio
que de modo geral, todos os livros que editámos em 2019 tinham muita
qualidade, possivelmente direccionados para grupos de fãs
diferentes. Da longa lista de novidades, escolhi estes três (com
alguma dificuldade). Somos fãs de Ed Brubaker, de quem já editámos
muitos livros, mas Criminal é talvez o maior triunfo da dupla
Brubaker/Phillips, e este ano já lançámos três títulos desta
série. Apesar de poder ter escolhido a "série" nestes
três, optei por seleccionar o Livro Dois, porque dos três
livros que editámos até agora, é o que tem a melhor história, e
aquele que desvenda uma parte das "fundações" daquela
cidade negra em que as histórias se passam. Ao contrário, no caso
de Gideon Falls escolhi a série em si, porque não faz
sentido separar um dos volumes: a história é seguida e constitui um
todo. Jeff Lemire é um dos grandes argumentistas contemporâneos, e
cada nova série dele é uma grande surpresa, sendo que aqui está
acompanhado pelo excelente Andrea Sorrentino na arte, fazendo da
série não só uma história fantástica, mas um regalo visual.
Finalmente, Dois Irmãos é não só um dos maiores romances
brasileiros contemporâneos, escrito por Milton Hatoum, mas uma das
mais maravilhosas adaptações à BD que já vi, num preto e branco
fantástico, uma saga da lenta desintegração de uma família de
origem libanesa na Manaus dos anos 40 a 60. Um dos livros de que mais
orgulho tenho em ter editado este ano.
Dito
isto, 2019 foi mais um ano de muitas e boas edições, de grande
diversidade, e não foi difícil arranjar uma dezena de títulos que
adorava ter sido eu a editar, quanto mais três. Seleccionei aqueles
que me parecem os três que mais gostaria de ter "agarrado"!
Toutinegra de André Oliveira e Bernardo Majer é um excelente
romance gráfico, e talvez aquele em que André Oliveira conseguiu
melhor controlar a narrativa duma maneira ao mesmo tempo evocativa e
melancólica, e "económica", abrindo caminho para um final
surpreendente. Recomendo sem reservas este livro (edição Polvo).
Como já acima falei de Jeff Lemire, acho que não preciso de
explicar as razões pelas quais adorava ter sido eu a editar a sua
saga de super-heróis, uma homenagem à Idade da Prata dos supers
americanos, Black Hammer (edição Levoir). Finalmente,
seleccionei um livro para o qual fiz aliás uma proposta ao detentor
dos direitos, A Morte Viva, de Alberto Varanda e Olivier
Vatine, que adapta o romance de FC homónimo de Stefan Wul, a meio
caminho entre o relato de terror e o pós-apocalíptico, numa
belíssima edição da Ala dos Livros.
Agora,
é esperar que 2020 nos traga mais e melhores edições de BD!
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