21/01/2020

2019: As escolhas da G. Floy





Tentando tornar mais abrangente - e menos personalizado - o balanço de 2019 que As Leituras do Pedro estão a levar a cabo durante este mês de Janeiro, foi pedido aos responsáveis das editoras portuguesas com mais títulos lançados no ano passado, que destacassem (até) três dos seus títulos e três títulos de outras editoras que gostariam de ter sido eles a editar.
As respostas estão a ser publicadas aqui por ordem de recepção, sendo hoje a altura de conhecermos a opinião de José de Freitas, editor da G. Floy.

Edições da G. Floy

Criminal Livro Dois
Ed Brubaker e Sean Phillips


 
Gideon Falls (série)
Jeff Lemire e Andrea Sorrentino


Dois Irmãos
Fábio Moon e Gabriel Bá

Livros de outras editoras

A Morte Viva
Oliver Vatine e Alberto Varanda
Ala dos Livros

Toutinegra
André Oliveira e Bernardo Majer
Polvo

 
Black Hammer (série)
Jeff Lemire e Dean Ormston
Levoir

Comentário
É sempre complicado pedir a um editor que escolha os seus livros preferidos no seu catálogo num dado ano, presume-se que ele gosta de todos, ou da maioria, e ficamos sempre com um amargo na boca por escolher uns em vez de outros. É verdade que todos os editores acabam por vexes por editar livros de que não são super fãs - p. ex., no nosso caso, eu não sou especialmente fã de Deadpool, e mesmo assim a G. Floy edita uma série de Deadpool. Acho que são bons livros para fãs da Marvel e de super-heróis, mas não são nem de longe os meus preferidos.
No caso da G. Floy temos também o facto de que o nosso catálogo é co-impresso com os nossos colegas da Polónia, e que os gostos podem divergir, e por isso por vezes editamos coisas que foram propostas entusiasticamente por eles, mesmo que eu cá, sozinho, talvez não editasse. Todos os catálogos são feitos de transigências, acasos, e de escolhas que por vezes reflectem apenas aquilo que é possível, e não aquilo que desejamos.

Creio que de modo geral, todos os livros que editámos em 2019 tinham muita qualidade, possivelmente direccionados para grupos de fãs diferentes. Da longa lista de novidades, escolhi estes três (com alguma dificuldade). Somos fãs de Ed Brubaker, de quem já editámos muitos livros, mas Criminal é talvez o maior triunfo da dupla Brubaker/Phillips, e este ano já lançámos três títulos desta série. Apesar de poder ter escolhido a "série" nestes três, optei por seleccionar o Livro Dois, porque dos três livros que editámos até agora, é o que tem a melhor história, e aquele que desvenda uma parte das "fundações" daquela cidade negra em que as histórias se passam. Ao contrário, no caso de Gideon Falls escolhi a série em si, porque não faz sentido separar um dos volumes: a história é seguida e constitui um todo. Jeff Lemire é um dos grandes argumentistas contemporâneos, e cada nova série dele é uma grande surpresa, sendo que aqui está acompanhado pelo excelente Andrea Sorrentino na arte, fazendo da série não só uma história fantástica, mas um regalo visual. Finalmente, Dois Irmãos é não só um dos maiores romances brasileiros contemporâneos, escrito por Milton Hatoum, mas uma das mais maravilhosas adaptações à BD que já vi, num preto e branco fantástico, uma saga da lenta desintegração de uma família de origem libanesa na Manaus dos anos 40 a 60. Um dos livros de que mais orgulho tenho em ter editado este ano.

Dito isto, 2019 foi mais um ano de muitas e boas edições, de grande diversidade, e não foi difícil arranjar uma dezena de títulos que adorava ter sido eu a editar, quanto mais três. Seleccionei aqueles que me parecem os três que mais gostaria de ter "agarrado"! Toutinegra de André Oliveira e Bernardo Majer é um excelente romance gráfico, e talvez aquele em que André Oliveira conseguiu melhor controlar a narrativa duma maneira ao mesmo tempo evocativa e melancólica, e "económica", abrindo caminho para um final surpreendente. Recomendo sem reservas este livro (edição Polvo). Como já acima falei de Jeff Lemire, acho que não preciso de explicar as razões pelas quais adorava ter sido eu a editar a sua saga de super-heróis, uma homenagem à Idade da Prata dos supers americanos, Black Hammer (edição Levoir). Finalmente, seleccionei um livro para o qual fiz aliás uma proposta ao detentor dos direitos, A Morte Viva, de Alberto Varanda e Olivier Vatine, que adapta o romance de FC homónimo de Stefan Wul, a meio caminho entre o relato de terror e o pós-apocalíptico, numa belíssima edição da Ala dos Livros.

Agora, é esperar que 2020 nos traga mais e melhores edições de BD!

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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