Lição de História. Lição de contar histórias. Lição de contar histórias com História. Com a História como pano de fundo da história que se pretende contar.
É
isso que faz neste
livro, de
forma consistente e conseguida, Giuseppe De Nardo, que já tinha
feito algo similar
em Le Storie: ¡Matad a Caravaggio!,
uma outra biografia romanceada, de um outro grande mestre italiano,
outra leitura (já) recomendada por As
Leituras do Pedro.
É
verdade - reconheço - que uma completa fruição desta obra passará
por conhecer (um pouco) da História italiana na época de Leonardo
Da Vinci, com as constantes mudanças de poder, de estatuto e de
alianças entre as diversas cidades-estado que dividiam o território
hoje conhecido por Itália e os confrontos intermináveis entre elas,
mas o contrário não impede a abordagem do
leitor a
Leonardo
Da Vinci: La sombra de la conspiración
e
a percepção da história, até porque as
informações essenciais estão
disponíveis
no relato ou em notas de rodapé. Mas
que o conhecimento - de que Leonardo era ávido - nunca fez mal a
ninguém...
História
que, apesar da contextualização histórica e da referência - de
passagem mas com intuitos narrativos que se vão revelando - a
diversos aspectos da vida e da obra do inventor - a verdade e o
realismo que buscava nas suas pinturas, a (herética) dissecação de
cadáveres para melhor conhecer a anatomia e o funcionamento do corpo
humano, a invenção da besta… - é, na sua essência, um relato
policial, a investigação de um assassinato - específico, mesmo
que sejam vários aqueles a que assistimos no desenrolar das páginas.
Investigação
- para retomar o fio narrativo exposto acima - que inclui todos os
passos que hoje reiteramos como fundamentais: investigação do local
do crime, análise das provas, contextualização da vítima no tempo
e no espaço, inquérito, audição de possíveis testemunhas… e a
revelação, nas páginas finais, cerca de 20 anos mais tarde - por
razões que De Nardo justifica e porque o tempo histórico é
diferente do nosso - do culpado.
Em
termos gráficos, se - como tantas vezes acontece - a capa não
espelha o que vamos encontrar no miolo, desta vez fá-lo por defeito,
porque as belas aguarelas de Antonio Lucchi revelam-se ideais para
recriar os mais de 30 anos do Renascimento em que decorre a história
e, mais do que isso, o meio artístico em que boa parte dela tem
lugar, criando, ademais disso, um belo contraste com as cenas
evocadas perante o leitor - como se ele a elas não ‘assistisse’
da mesma forma - que são apresentadas de forma mais crua e violenta,
como que ainda em fase de esboço, desnudadas de acabamento.
Giuseppe
De Nardo (argumento)
Antonio
Lucchi (desenho)
Panini
Espanha,
9 de Janeiro de 2020
195
x 259 mm, 144
p., cor, capa dura
16,00
€
(capa
disponibilizada pela Panini que
tem excerto da obra aqui;
pranchas
italianas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar
nas
imagens
para as aproveitar em toda a sua extensão)
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