Apesar de anterior à versão de Milo Manara - e de ter uma abordagem bastante díspar - foi-me impossível ler esta obra sem ter em mente aquela, que já conhecia dos dois volumes - O Pincel e a Espada e O Indulto - da versão portuguesa da Arte de Autor.
O
que, curiosamente, me fez valorizar ainda mais este
Caravaggio
de Giuseppe de Nardo e Giampiero Casertano.
Quero
ser claro: não é propósito deste texto comparar as duas versões ponto a ponto, mas algumas comparações serão inevitáveis.
A primeira, evidente, passa por afirmar que o traço de Manara é mais virtuoso - embora ambos sirvam bem os respectivos argumentos e o tom escolhido. O que não invalida que Casertano - como Manara - trace um credível e bem sustentado retrato de época, com um traço realista, de expressões fortes e enquadramentos variados, onde, mais do que uma vez, enquadra muito bem algumas das obras de Caravaggio.
A primeira, evidente, passa por afirmar que o traço de Manara é mais virtuoso - embora ambos sirvam bem os respectivos argumentos e o tom escolhido. O que não invalida que Casertano - como Manara - trace um credível e bem sustentado retrato de época, com um traço realista, de expressões fortes e enquadramentos variados, onde, mais do que uma vez, enquadra muito bem algumas das obras de Caravaggio.
A
grande diferença, entre as duas versões, está no protagonista.
Enquanto Manara colocou o pintor milanês no centro da acção, De
Nardo prefere contar a História - e apreciar a arte - através de um
olhar diferente. O seu protagonista é um dos dois assassinos a
soldo, contratados - por pessoas diferentes - para pôr fim aos dias
de Michelangelo Merisi da Caravaggio, sobre cujos ombros pendia uma
pena de morte por ter matado um adversário em duelo.
O
protagonista desta ficção é então
Pablo
Domingo Serrano, antigo capitão da guarda, famoso pela sua
capacidade de perseguir e capturar
- ou matar - fugitivos e é pelos seus lábios - ou pelos daqueles
com quem interage - pelo seu olhar e pelas suas deambulações pelos
locais onde foi precedido por Caravaggio, que vamos conhecer a
história deste - e a História que o rodeia e de que foi também
protagonista. Os seus quadros, os seus feitos, o seu mau feitio, as
contendas em que se envolveu, os castigos que sofreu ou lhe tentaram
infligir, os sucessivos protectores ou detractores, vão-nos sendo
apresentados como que em segunda mão, o que não significa menor
credibilidade, coerência ou veracidade, apesar do narrador principal
ser
alguém a quem falta objectividade, embora as razões
para isso vão mudando ao longo do relato.
Isso permite aos autores atenuar a carga histórica e também uma maior
liberdade ficcional e a introdução de diversas
cenas de acção, em boa parte devido aos confrontos que opõem Pablo
Serrano e o francês Lagarde, outro caçador de recompensas, de cuja
rivalidade e contas pendentes acabaremos por conhecer a origem, em
paralelo com o relato principal.
No
entanto, se isto permite aparentar
um relato de cariz histórico a
uma
consistente banda desenhada de aventuras, o grande mérito de De
Nardo é a forma como aos poucos leva o seu protagonista
a passar de perseguidor a admirador, conseguindo, desta forma, fazer
de ¡Matad
a Caravaggio!,
antes
do mais, uma
bela homenagem à arte e à sua influência sobre quem tem o
privilégio de a apreciar, compreender e de se deixar tocar por ela.
Nota
final
Uccidere
Caravaggio!,
primeiro número especial da colecção Le
Storie,
nesta edição espanhola - mais uma vez bem impressa, em bom papel e
com uma sólida capa dura - conclui com um dossier em que Giuseppe de
Nardo e Giampiero Casertano confessam a sua admiração pelo objecto
da sua obra e narram na primeira pessoa como ela nasceu.
Giuseppe
de Nardo (argumento)
Giampiero
Casertano (desenho)
Panini
Comics
Espanha,
27 de Junho de 2019
195
x 259 mm, 144 p., cor, capa dura
ISBN:
9788491678946
17,00
€
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