Há autores que parecem melhorar com os anos. Manara – como
Hermann – é um deles e a primeira parte deste ‘seu’ Caravaggio demonstra-o à saciedade.
Pode ser a passagem do tempo – a experiência ganha? a
maturidade adquirida? a possibilidade de se dedicar ao que verdadeiramente o
move? - a responsável por esta magnífica obra, com a qual Manara pretendeu um
dos pintores que mais o influenciaram, mas de uma ou outra forma, nós,
leitores, só temos que ser gratos por isso.
Biografia fiel – à luz do que hoje dele sabemos – de
Caravaggio, com um inevitável – mas contido - toque ficcional, O Pincel e a Espada narra-nos a chegada
a Roma de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), a sua ascensão no meio
artístico como retratista único e admirável, capaz dos mais surpreendentes
enquadramentos – quase cinematográficos, como refere Claudio Strinati,
historiador de arte, no prefácio – e de um aproveitamento ímpar dos efeitos de
luz.
Frenético, impulsivo, conflituoso, responsável pelo
despertar de grandes paixões que sempre secundarizou em função da (sua) arte e
ignorando os conselhos sensatos de mentores, patrocinadores e amigos,
Caravaggio viveu de forma irreflectida, dia a dia, acabando por entrar em
conflito com o poder religioso que tanto o protegeu, ao utilizar uma prostituta
morta como modelo para o seu (magnífico e provocador) O Retrato da Virgem.
A resolução de conflitos antigos à força da espada – que utilizava com (quase) igual mestria que o pincel… - foram a gota de água que provocaram a sua fuga de Roma, com que termina o actual volume.
A resolução de conflitos antigos à força da espada – que utilizava com (quase) igual mestria que o pincel… - foram a gota de água que provocaram a sua fuga de Roma, com que termina o actual volume.
Manara, contido – mas não limitado – naquilo que fez a sua
fama – a sensualidade das suas belas mulheres, o erotismo latente nas suas
páginas – surge aqui com um traço realista deslumbrante, como excelente
retratista e melhor (?) paisagista – inspirado em quadros de artistas clássicos
contemporâneos de Caravaggio - , conseguindo transportar-nos para a Roma de
finais do século XVI, uma Roma de contrastes, entre a decadência latente e a
opulência dos poderes religiosos, ao mesmo tempo que nos narra uma história
viva, cativante e apaixonante.
Nota final
(Boa) estreia na edição - também no que ao objecto livro diz
respeito - da nova editora Arte de Autor, Caravaggio
– O Pincel e a Espada, mesmo podendo não ter sido primeira escolha,
revela-se escolha ajustada não só pela sua qualidade mas também porque trabalha
um nicho de mercado – com potencial inegável - ignorado nos últimos tempos. E
com uma grande vantagem: está já editado e disponível em tempo útil …
Caravaggio – Primeira parte: O Pincel e a Espada
Milo Manara
Arte de Autor
Portugal, Outubro de 2015
320 x 240 mm, 64 p., cor, cartonado
18,80€
Excelente livro e edição!
ResponderEliminarFica água na boca para novas edições da Arte de Autor...