Depois de ter inovado com a introdução da cor em Tex, esta
revista quebra agora uma outra ‘regra’, pois a tradicional opção por histórias
longas, deu lugar, neste quarto número, à inclusão de quatro narrativas de
apenas 32 pranchas.
Não que já não existisse cor em Tex: os números centenários
da colecção regular ostentam-na desde os anos 1960 - e todos eles foram alvo de
colorização para a Collezione Storica a
Colori, que a Sergio Bonelli Editore criou em parceria com o jornal La Repubblica e a revista L’Expresso.
De igual modo, em quase 70 anos a cavalgar nas grandes
pradarias, Tex já tinha vivido uma mão cheia de aventuras curtas – reunidas no
Almanaque Tex #44 – mas também não é esse o seu modelo padrão.
Embora pudesse (também) ser, como parecem comprovar – de
formas diferentes - as quatro narrativas presentes neste Tex Especial Colorido
#4, agora distribuído em Portugal.
Obviamente, a redução de páginas obriga a modelos
diferentes. Em Os Suspeitos a
descoberta de um assassino contratado entre os passageiros de uma diligência,
obriga Tex a um trabalho quase de detective e o final, inesperado, ostenta um
humor desconcertante, raramente presente nas histórias do ranger.
O final desconcertante surge de novo em Um covil de feras, uma história com – um nada habitual – protagonismo
no feminino e o Tex detective está de novo presente em O último da lista, quando tem de encontrar um antigo assaltante,
entretanto redimido, para o proteger de uma vingança.
Finalmente, O vale
sagrado, ambientado em montanhas rodeadas de deserto e com uma vingança
vinda do passado como gatilho da narrativa, assume um tom místico.
De comum a todas, o facto de se sustentarem por si só e
dificilmente poderem ser apenas um episódio numa trama mais longa (em especial
no que toca às duas primeiras) e o facto de terem tido dos melhores tratamentos
de cor que já foi possível ver em Tex.
E apesar de tudo isto, podem ser também vistas como
experiências – duplas - no universo de Tex: como teste a novos autores, como o
trilhar de (possíveis?) novos caminhos narrativos e como uma tentativa de
oferta de uma leitura mais imediatista – mais de acordo com os padrões dos
jovens actuais?
Porque – e aqui o texto diverge para um âmbito mais vasto –
acredito que com este Tex Especial
Colorido, a Sergio Bonelli Editore, não pondo de parte os habituais
leitores de Tex, visa mais longe, tentando conquistar novos (ou não tão novos)
leitores, possivelmente como única forma de sobrevivência a – médio? – prazo de
um dos mais longevos e importantes selos editoriais de BD do velho continente.
Na verdade, os anos recentes têm revelado uma mudança de
orientação por parte da Sergio Bonelli Editore no que a Tex diz respeito -
mesmo que para alguns constitua traição digna de um tratamento duro à moda do
ranger. Refiro-me obviamente, às edições especiais e de luxo e à retoma – mesmo
que pontualmente – do mais célebre herói da casa Bonelli por outros autores,
como é o caso dos álbuns (em formato europeu) desenhados por Eleuteri Serpieri
– mas sem Druna… - ou Horacio Altuna. Ou às edições de ‘livraria’ – recém-estreadas
com Vendetta Indiana – para onde são
também vocacionados os luxuosos Teg Gigantes coloridos da Mythos Editora.
[E abro aqui um parêntesis, para citar a antecipação
portuguesa neste campo, com a bela, elogiada e cobiçada edição de Patagónia, pela Polvo, cujo intuito
também vai, obviamente, bem para lá do núcleo duro dos leitores de Tex.]
A estas ‘inovações texianas’ há que juntar outros passos na
mesma direcção dados com outros heróis fortes da casa Bonelli, com direito
também a edições especiais coloridas, em formato mais próximo do livro ou com
capas variantes, como aconteceu – no exemplo mais marcante? - em Julia #200, que a par da edição com capa
tradicional, teve outra, de menor tiragem, com a capa desenhada por… Vittorio
Giardino!
A razão de tudo isto – óbvia e compreensível, diria eu – é a
procura de novos leitores noutros segmentos, a par da oferta de produtos de
maior qualidade para um leque (alargado?) de leitores tradicionais que, pela
mudança de hábitos – em comparação com outros géneros de banda desenhada – e de
poder económico (?) querem ver o(s) seu(s) herói(s) em edições que façam jus à
qualidade que vêem nele(s).
No entanto – e acho importante reforçar esta ideia – nada disto
coloca em causa as origens – apetece-me escrever ‘humildes’ – das personagens
nas edições (claramente) populares, a preto e branco, papel (só) razoável e
baixo preço. Edições que se mantêm disponíveis como a base do império editorial
(bem sucedido) que a Bonelli alicerçou em Tex e onde ele – e à sua sombra
protectora muitos outros - continua a viver a maior parte das suas aventuras.
Tex Especial Colorido #4
Os suspeitos
Tito Faraci e
Giampiero Casertano
Um covil de
feras
Pasquale Ruju
e Sandro Scascitelli
O último da
lista
Gianfranco
Manfredi e Stefano Biglia
O vale
sagrado
Mauro Boselli
e Nicola Genzianella
Histórias originalmente
publicadas em Color Tex italiano 4
Mythos Editora, Brasil, Abril de 2015
160 x 210 mm, 132 p., cor, brochado
R$ 19,90 / 10,00 €
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