Não
é a primeira vez que uma história de Tex tem base histórica, longe
disso, mas, na minha leitura, este foi um dos relatos do ranger em
que o peso dos factos históricos mais se fez notar e o tornou mais
consistente e contido.
O
que pode unir,
nesta partilha de impressões de leituras, Tex
e Harlem,
mesmo que ação decorra
no
mesmo país,
embora em locais separados por mais de 1800 quilómetros e três
quartos de século? A
resposta, que
mantém triste actualidade nos nossos dias, está
já a seguir.
Foi
uma sensação brusca e incómoda: durante a leitura deste Tex
Gigante, senti a história
estava partida a meio e que as duas partes (quase) faziam sentido em
separado.
Qualquer
série de banda desenhada (o que me interessa no presente caso)
obedece a um determinado número de regras e princípios. São
eles definem o que a série é, que lhe dão consistência e
continuidade e que permitem ao leitor saber o que deve esperar quando
se abeira dela - é isso que faz dele leitor fiel (ou não). Paradoxalmente,
a quebra dessas regras ou os desvios a esses princípios não são
necessariamente negativos e, nalguns casos, até podem (e)levar a sua
leitura a um outro nível.
Já
ouvi dizer - no alto da sua ignorância e/ou suposta superioridade -
que ‘os livros do Tex são todos iguais’ mas
parafraseando vocês sabem quem, apetece
escrever que na verdade ’há uns mais iguais do que
outros’. Que é como quem diz,
pela negativa - que neste caso, na verdade é pela positiva - que
alguns são bem diferentes, para melhor, como acontece com este
Tex, o implacável.
Se
em mercados em que a banda desenhada tem maior expressão e indústria
são vulgares obras sobre ela própria, os autores ou os heróis,
devido à pequena dimensão do mercado português são poucas as
obras com estas temáticas Uma
das excepções - e também uma das mais significativas - é Tex
- Mais que um herói, uma edição da
cooperativa A Seita, com assinatura de Mário João Marques, lançada
no final do ano passado.
Para
(leitores)
coleccionadores - para aqueles que em determinado momento das suas
vidas, geralmente n(o
final d)a
infância e adolescência (e
por aí fora),
colecciona(ra)m revistas de banda desenhada - há momentos -
editoriais - que fazem História e poder acompanhá-los - mesmo que a
alguma distância temporal
(na
verdade isto aconteceu há meses...)-
proporciona experiências que são inexplicáveis para quem nunca as
vivenciou. É
o que acontece - duplamente - com estas edições de Tex
que
hoje aqui trago -primeiras
de muitas, desejam os seguidores do ranger.
O
Museu Vinho Bairrada, em Anadia, acolhe este fim-de-semana a 8.ª
Mostra do Clube Tex Portugal, dedicada ao western aos quadradinhos há
mais tempo em publicação ininterrupta. Autores
italianos Rossano Rossi e Dante Spada e o português João Amaral,
são os destaques.
Há
leituras que faço e acabam por não passar por aqui. Falta de tempo, de
inspiração ou simples indolência deixam quem visita este blog
privado de apontamentos de leitura que - acredito - podiam ser
úteis. De
forma breve, registo de seguida três leituras (mais ou menos)
recentes que sofreram do descrito acima. Para além disso, porquê
juntá-las? Porque cada uma, à sua maneira, espelha e afirma o
melhor da banda desenhada dita popular.
Ernesto
Rudesindo García Seijas,
desenhador argentino, faleceu ontem, contava 81 anos. O
mundo da BD, bastante fustigado pela partida de alguns dos seus
expoentes em tempos recentes, fica mais pobre.
Há
algum tempo ausente aqui do blog - mas não das minhas leituras, mas
porque outras escritas se têm imposto - Tex regressa hoje, num
díptico com alguns aspectos curiosos.
Em
anos recentes, tem-se falado - e escrito - recorrentemente como o
mercado português de banda desenhada tem crescido. Por um lado, na
quantidade, que é visível
nas estantes e nas
bolsas vazias
de
quem compra BD; por outro, na qualidade, que é inegável, de obras e
edições. E, num terceiro aspecto não menos importante, na
diversificação de públicos, tendo acabado de vez - penso eu - a
velha ideia de que há em Portugal um pequeno núcleo de leitores de
BD que compra tudo. O
recente Amadora BD mostrou este mesmo mercado a dar mais um salto em
frente, ao serem propostas obras que recuperam clássicos nacionais
ou que reflectem sobre a BD - nacional, mas não só...
Caravana do Oeste, Sioux, Bonanza,
Mascarilha, Buffalo Bill... foram
algumas das muitas revistas de BD dedicadas aos heróis do velho
Oeste, que encheram os quiosques nas décadas de 1970 e 1980. E
títulos marcantes do jornalismo infanto-juvenil nacional, como O
Mosquito, Cavaleiro Andante, Tintin ou Mundo de Aventuras,
tiveram sempre nas suas páginas lugar para os heróis de tiro
certeiro. A última, aliás, durante alguns anos, na década de 1960,
chegou a publicar exclusivamente histórias daquele género. Depois, as revistas foram desaparecendo e dando
lugar aos álbuns e na BD - como no cinema e noutros géneros
narrativos - decresceu o interesse por esta temática.
Em
anos recentes, tem sido visível o esforço por parte da Sergio
Bonelli Editore para diversificar a sua oferta em geral, e no que a
Tex diz respeito, em particular. Neste
último caso, a par da introdução da cor em edições clássicas -
criadas para o preto e branco... - tem havido histórias coloridas,
formatos diferentes e - o que vos trago aqui hoje - o preenchimento
das muitas lacunas do passado do ranger, que Gianluigi Bonelli no seu
tempo apenas referir episodicamente e de forma passageira.