António Gomes
Dalmeida (argumento)
Artur Correia
(desenho)
Bertrand Editora
(Portugal, Abril de 2012)
165 x 245 mm, 88 p.,
cor, cartonado
18,80 €
Esta é uma banda desenhada de traço divertido e
enganadoramente infantil, que retrata em tom sarcástico a história recente de
um país habitado por cágados, que avança a passo de tartaruga e tem estranhas
semelhanças com Portugal. O relato inicia-se com o nascimento de um certo
António de Oliveira Azar, o Cágado das Botas, e decorre até à actualidade, após
a subida ao poder de Pedro Cágado Coelho e da sua submissão aos cágados (vampiros…)
da troika, comandados pela Tartaruga Berkel e pelo Cágado Jacuzy...
Ao longo de quase uma centena de pranchas, os autores –
parceiros de longa data em obras como “História
Alegre de Portugal”, “Super-Heróis da História de Portugal” ou “Romance da
Raposa” – introduzem-nos também à Revolução dos Cágados levada a cabo pelos
Cágados Capitães que depôs o Cágado Marítimo e o Cágado Morcela, famoso pelas
suas conversas na televisão, e a personagens como o Cágado do Monóculo, o
Cágado Colares, o Cágado Pinhal, o Cágado Ramalhe, o professor A. Cágado Silva
ou o corredor Cágado Zé Sopras-te, sendo que qualquer semelhança entre eles e
personagens políticas que bem conhecemos não são mera coincidência.
“O País dos Cágados” foi criado no final dos anos 1970 por
Gomes Dalmeida e Artur Correia que, durante quase uma década procuraram sem
sucesso editor, tendo optado por uma edição de autor, em 1989, que teve tiragem
limitada e distribuição restrita e pode ser lida aqui.
Para a actual edição, os autores acrescentaram mais de duas
dezenas de páginas novas, desenvolvendo o capítulo dedicado ao cágado A. De Oliveira
Azar e prolongando o relato até aos nossos dias (menos aprofundado do que as
épocas anteriores), pois o original terminava com a eleição presidencial ganha
pelo Cágado Ramalhe. Para além disso, o álbum agora lançado pela Bertrand
Editora tem uma nova capa e é colorido, enquanto que a edição original era a
preto e branco.
Apesar do intervalo de tempo que decorreu entre as duas
edições, tal facto não é visível graficamente na actual edição, pois Artur
Correia conseguiu mimetizar o seu traço de então de forma assinalável.
É verdade que a opção – hoje menos compreensível - por
cartuchos de texto sobre as imagens, que frequentemente também incluem balões
de fala – torna menos ágil a leitura, pois uns e outras recorrentemente
repetem-se, mas também se compreende que a intenção não era recriar
completamente a obra mas sim dar-lhe continuidade e uma visibilidade que então
não teve mas que indiscutivelmente merece.
Não só pelo traço de Artur Correia, muito expressivo e à
vontade no estilo animalístico que prefere – e que já usara em “Romance daRaposa” -, afirmando-se mais uma vez como um dos grandes desenhadores portugueses, mas
também pelo texto mordaz e corrosivo de Gomes Dalmeida que, claramente – mas
pode ser doutra maneira? – não morre de amores pelos políticos portugueses,
perdão, do país dos cágados!
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de
Notícias de 29 de Abril de 2012)
Nota
Artur Correia e António Gomes Dalmeida, os autores deste livro,
estarão amanhã, sábado, 5 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro de Lisboa,
para uma sessão de autógrafos.
E no dia 15 de Maio, pelas 18,30, estarão no CNBDI, na Amadora, para uma apresentação do livro a cargo de João Miguel Lameiras.