Western
datado
do início da década de 1950, com tudo o que podemos imaginar devido
à época, de bom - na liberdade criativa, na ausência de
politicamente correcto e na variedade temática apresentada - e de
mau - nalguns estereótipos, na rápida resolução das situações a
que obrigava a publicação semanal das pranchas dominicais - tem,
nesta quinta entrega na edição de Manuel Caldas - que já
disponibilizou a sexta - uma pequena pérola, um episódio daqueles
que marcam e ficam para a vida.
O leitor de banda desenhada é a
espécie mais irritante que existe. Em termos de heróis, fauna que
lhe é especialmente querida, exige constância, características bem
definidas, perenidade e a certeza de saber - sempre - com o que
conta. Mas delira - no bom ou no mau
sentido - quando o(s) autor(es) se
atrevem a alterar isso.
A
História
das grandes séries de banda desenhada muitas vezes faz-se à
margem
da vontade dos detentores
dos
direitos ou por falta dela.
Em
Portugal,onde pela primeira vez foi publicado fora
do mercado francófono e pela primeira vez a
cores,
Tintin teve
um percurso singular que,
se era normal e até inovador na época,
hoje -
naturalmente... - seria
considerado um
atentado à obra original de Hergé.
O que não invalida que esses factos sejam verdadeiros,
façam parte da tal História
do "repórter que nunca escreveu uma linha" e mereçam
ser conhecidos.
Nos
últimos meses,
por razões que agora não vêm ao caso,
as minhas leituras, numa parte não desprezável,
têm sido marcadas por uma carga de pura
nostalgia,
num regresso a séries (Tiger
Joe,
Paul
Foran, Jess Long, Archie Cash, Yalek...)
que, numa segunda linha, marcaram a minha adolescência
e tinham ficado lá. Ou, de forma mais abrangente, numa
recuperação/descoberta de um género,
a BD franco-belga,
que continua a ser a minha principal praia, na sua vertente de séries
(Ric Hochet, Bob Morane, Sammy, Les Tuniques Bleues, Luc Orient...)
a que hoje devemos chamar clássicas.
Por
vezes, o ‘remexer em velhos títulos’ - que é como quem escreve
ler ‘velhas histórias’ (mas não histórias velhas…) - traz
revelações curiosas.
É
o que acontece com este Drago
- a mais recente proposta de Manuel Caldas no seu afã restaurador -
criado pelo grande Burne Hogarth no ‘intervalo’ de duas longas e
assinaláveis passagens por Tarzan.
Há
leituras que faço e acabam por não passar por aqui. Falta de tempo, de
inspiração ou simples indolência deixam quem visita este blog
privado de apontamentos de leitura que - acredito - podiam ser
úteis. De
forma breve, registo de seguida três leituras (mais ou menos)
recentes que sofreram do descrito acima. Para além disso, porquê
juntá-las? Porque cada uma, à sua maneira, espelha e afirma o
melhor da banda desenhada dita popular.
Ainda sob o peso de alguns preconceitos, este novo
reencontro
com o Príncipe
Valente
- a
caminhar a passos largos para uma decadência (hoje (re)conhecida) -
foi
como encontrarmos
um parente ou um velho amigo de quem já fomos
próximo mas
que
já não víamos
há muitos anos. As
histórias
que contam
parecem familiares, outras
soam como repetidas, mas o entusiasmo que provocam não é o mesmoe
a afinidade que em tempos se sentiu parece ter desaparecido - ou pelo
menos desvaneceu-se em grande parte. Percebe-se com tristeza que os
tempos mudaram e que não há volta a dar.
Já conhecia
a fase em que John Cullen Murphy esteve à frente dos destinos
(gráficos) do Príncipe Valente, mas apenas de forma superficial e
através de umas
poucas leituras esparsas e desgarradas e nunca senti muita vontade de aprofundar esse conhecimento. Assim, fiz a leitura destes
primeiros anos desse consulado sob o signo desse preconceito, que
não consegui afastar, pelo que não respondo pela isenção das
linhas que se seguem.
A minha leitura deste novo volume de Tarzan,
publicado com o conhecimento e o carinho típicos de Manuel Caldas,
fez-se a dois níveis. Num primeiro momento mais pessoal, num
reencontro com fragmentos do meu passado feliz. A
um outro nível - o que interessará mais a quem lê estas linhas -
na (re)descoberta de fragmentos de tempos passados,
que relevam a qualidade e a mestria do trabalho que Russ Manning
realizou a partir dos originais de Edgar Rice Burroughs
e mais além.