Mais do que História
A História das grandes séries de banda desenhada muitas vezes faz-se à margem da vontade dos detentores dos direitos ou por falta dela. Em Portugal, onde pela primeira vez foi publicado fora do mercado francófono e pela primeira vez a cores, Tintin teve um percurso singular que, se era normal e até inovador na época, hoje - naturalmente... - seria considerado um atentado à obra original de Hergé. O que não invalida que esses factos sejam verdadeiros, façam parte da tal História do "repórter que nunca escreveu uma linha" e mereçam ser conhecidos.
Porque, é incontornável que foi assim que foi publicado, foi assim que foi divulgado, foi assim que chegou a milhares de leitores e foi assim que criou uma legião de fãs, admiradores e leitores fiéis.
Por iniciativa de um desses fãs e admiradores, que se deu ao trabalho de compilar e digitalizar a obra, chegou-me às mãos esta edição de Tim-Tim em Angola nas páginas de O Papagaio - o modo como foi rebatizado em Portugal, aquando da sua primeira publicação, Tintim no Congo, uma obra que, por motivos questionáveis, em anos recentes tem sido alvo de polémica - a maior parte das vezes bacoca - e a verdade é que esta versão não contribui(ria) em nada para a atenuar.
Publicada em O Papagaio a partir de 13 de Abril de 1939, Tim-Tim em Angola teve em relação a Tintin no Congo, lê-se nesta edição, "pranchas remontadas com cores que não existiam na versão original e uma tradução libérrima", a que se pode ainda acrescentar supressão de vinhetas ou páginas, inclusão de resumos... e a assinatura de Hergé apagada em muitas das pranchas.Nesta edição para consumo pessoal, são incluídos uma série de notas sobre as modificações - no texto e nas imagens - que a versão portuguesa introduziu, para além da reprodução integral de um exemplar de O Papagaio, no caso o número 209 em que começou a ser publicado Tim-Tim em Angola, e ainda alguns exemplos da 'recriação' de Tintin nas suas páginas, por autores 'da casa', por diferentes motivos.
Para além da curiosidade e da sua valência como documento histórico, a leitura desta edição permite dar um salto a um passado hoje muito distante e até inimaginável e perceber como eram as revistas infanto-juvenis da época.
Tim-Tim
en Angola nas páginas de O Papagaio
Hergé
Edição
particular
210
x 297 mm, 138 p., cor, capa cartolina com badanas
(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
"Tintim no Congo, uma obra que, por motivos questionáveis, em anos recentes tem sido alvo de polémica - a maior parte das vezes bacoca"
ResponderEliminar...a maior parte das vezes, não-- tem sido SEMPRE bacoca. Mas a correcção política é o que agora move muito crítico sem inspiração. Viva "Tintin au Congo"!
Sempre não. Há um bom vídeo sobre isso no YouTube do canal "quadrinhos na sarjeta".
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