Eternamente actual
Possivelmente, se fossem auscultados os portugueses - alguns deles, claro - seria este o clássico da literatura nacional que mais facilmente iriam reconhecer e conseguir resumir, em grande parte, claro, devido às várias adaptações televisivas e cinematográficas, mais ou menos romanceadas, de que o romance original de Eça de Queirós beneficiou, em tempos relativamente recentes.
E, também, é justo reconhecê-lo, porque a sua temática, com variações reconhecíveis, mantém-se (infelizmente) actual, ou seja um olhar crítico, sarcástico e mordaz sobre os abusos - de vário tipo e a vários níveis - dos membros do clero sobre os seus fiéis.
Para os mais distraídos, relembro que O Crime do Padre Amaro relata a chegada de um jovem pároco a uma diocese importante, ainda inebriado com a justeza e a importância da sua missão redentora e cheio dos valores m0rais que ela deveria espelhar, mas aos poucos, porque a carne é fraca e os exemplos dos seus iguais abundavam, acaba por se perder de amores - ou só de desejos? - por uma das suas paroquianas. O que se segue, deverá ser (re)descoberto nesta adaptação que André Oliveira e Ricardo Santo nos apresentam, equilibrada e respeitadora do espírito original de Eça, mais duro e crítico, muito pouco dado a olhares mais delicodoces, e também credível e funcional neste formato aos quadradinhos, o mínimo que se pode exigir aos volumes desta colecção que, em boa hora, a Levoir e a RTP decidiram criar.
O traço semi-caricatural de Santo revela-se ideal para as diabruras dos membros do clérigo, destacando-se especialmente a força dos olhares que as personagens trocam nas mais diferentes situações, bem como a hábil gestão das diversas sequências silenciosas possíveis numa banda desenhada que adapta em quarenta e tal pranchas um romance com várias centenas de páginas.
Clássicos
da Literatura Portuguesa em BD #8 O Crime do Padre Amaro
Adaptação
da obra original de Eça de Queirós
André
Oliveira (adaptação e argumento)
Ricardo
Santo (desenho)
José
Veira (dossier)
Levoir/RTP
Portugal,
Julho de 2024
210
x 285 mm, 56 p., cor, capa dura
15,90
€
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nesta ligação para ler entrevista com os autores; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Estou a acabar de ler. Deliciosa a expressividade da padralhada, das impudicas beatas e da lasciva inocente
ResponderEliminarSem dúvida!
EliminarBoas leituras!