Primeiros
voos
A
29 de Outubro de 1959 - há quase 65 anos, portanto - chegava às
bancas francófonas o número inaugural da revista Pilote,
pensado e dirigido por René Goscinny, Jean-Michel Charlier e Albert
Uderzo.
Os
leitores estavam longe de imaginar a revolução em que estavam a
entrar. Um certo Astérix
e
Tanguy
e Laverdure eram
as grandes propostas do
número inagural a
que se viriam a juntar rapidamente,
entre outros Valérian
ou
Blueberry.
Tanguy e Laverdure, surgia
com as assinaturas de Charlier e Uderzo e era indiscutivelmente um
marco do seu tempo Os dois, iriam assinar as primeiras sete
aventuras, aquelas que a ASA edita a partir de hoje, semanalmente, em nova parceria com o
jornal Público.
'Sete aventuras', escrevi acima, porque a primeira, publicada sem quebras na revista, seria depois dividida em duas aquando da edição em álbum, exactamente estes: Escola de Pilotos e Pela Honra da Esquadrilha.
A banda desenhada de aviação não era novidade para Charlier. Com Hubinon, assinava há uma dúzia de anos as aventuras de Buck Danny na Spirou, num registo mais realista e sério do que viria a ser Tanguy e Laverdure.
Na verdade, a série que estreava nas páginas da Pilote inaugural, vivia do (des)equilíbrio entre o humor, potenciado pelos disparates constantes de Ernest Laverdure, e a aventura, geralmente centrada no mais competente e sensato Michel Tanguy. Quando a série arranca, os dois, recém-licenciados pela escola de pilotos aéreos, apresentam-se na base de Meknès, em Marrocos, para prosseguirem a sua formação. Depois de um longo - excessivo... - intróito cómico - que se repetirá noutros relatos... - a história assume o registo mais sério e realista, acentuando três vectores: a aventura em estado puro, o patriotismo dos protagonistas e a união entre os pilotos.
Sem muitas surpresas nem grandes momentos de suspense, já que o leitor está sempre um passo à frente dos intervenientes, com conhecimento amplo do que se está a passar, ao contrário de outros argumentos assinados por Charlier, neste primeiro díptico os dois protagonistas, a par do seu instrutor Darnier e de James de Saint-Helier, considerado pelos demais como covarde e um piloto perigoso, têm de correr contra o tempo para encontrarem primeiro um míssil desviado por uma potência inimiga para se apoderar dele.
Com a forte sensação de que Charlier - assoberbado de trabalho - foi escrevendo ao correr da pena e da publicação semanal, a história vai-se desenrolando com uma forte carga de ingenuidade e a necessidade de fazer ressaltar os valores já apontados, com alguns dos esquemas e temáticas a repetirem-se de alguma forma nos diferentes álbuns.
O trabalho gráfico de Uderzo - feito em paralelo com a criação do universo de Astérix - tem um forte pendor caricatural, que funciona melhor nas rocambolescas sequências cómicas do que no registo aventuroso, embora se venha a notar uma clara melhoria ao longo dos oito álbuns.
E ainda...
A série granjeou grande popularidade na época devido à sua adaptação numa série televisiva, entre 1967 e 1970, com três temporadas que somaram 39 episódios de 26 minutos, criada pelo próprio Charlier, dirigida por François Villiers e com interpretação de Jacques Santy (como Tanguy) e Christian Marin (Laverdure). Intitulada Les Chevaliers du Ciel, chegou a passar na RTP. É isso que explica que muitas das capas originais utilizem a imagem dos autores e fotos reais em vez das tradicionais ilustrações.
E escrevi desenhadores porque, após Uderzo, Jijé viria a assumir a série durante treze álbuns (correspondentes ao seu período áureo), seguindo-se Patrice Serres (3 álbuns) e Al Coutelis (1), para fazer referência apenas aos 25 álbuns escritos por Charlier (até 1988).
Em anos mais recentes, a série foi retomada, contando já 40 álbuns.
Edições portuguesas
Em Portugal, Tanguy e Laverdure estreou-se em O Foguetão, logo em 1961, tendo passado igualmente pelas páginas do Cavaleiro Andante, Zorro, Tintin, Jornal da BD e Selecções BD (1.ª série).
Em álbum, a estreia deu-se na Editorial Íbis, tendo passado também pelo catálogo da Meribérica/Líber, sem grande cuidado cronológico. Dos oito álbuns que compõem a actual colecção, quatro são inéditos em álbum: Perigo no Céu (publicado na Zorro), Canhão Azul já não responde, Rumo Zero, Piratas do Céu.
- Escola de Pilotos foi publicado em álbum pela Íbis (como Escola das Águias, 1969) e pela Meribérica (1986), tendo igualmente passado pelas páginas de O Foguetão, Zorro, Cavaleiro Andante e Jornal da BD (nalguns casos rebaptizado como Céu de Glória);
- Perigo no Céu foi publicado na Zorro como Águias ao Sol;
- Pela Honra da Esquadrilha foi publicado em álbum pela Íbis (1969) e pela Meribérica (como Pela Honra dos Distintivos, 1986) e no Jornal da BD;
- Esquadrilha de Cegonhas foi publicado em álbum pela Meribérica (1981) e no Jornal da BD.
- Mirages de Oriente foi publicado em álbum pela Meribérica (1984).
Tanguy
e Laverdure #1 - Escola
de Pilotos
Tanguy
e Laverdure #2
- Pela
Honra da Esquadrilha
Jean-Michel
Charlier (argumento)
Albert
Uderzo (desenho)
ASA
Distribuição
com o jornal Público
Portugal,
28
de Agosto/4 de Setembro
de
2024
240
x 320
mm, 48
p.
(cada),
cor, capa dura
11,90
€
(cada)
(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Seria óptimo a editora continuar com o resto da colecção, por que senão sabe a muito pouco.
ResponderEliminarE já que falou no Buck Danny, para quando a edição em álbuns?
Buck Danny? Muito bom! Tenho uma série de integrais em língua espanhola! Mesmo muito bom!!!
ResponderEliminarE relativamente à continuação da colecção, parecia-me uma excelente ideia!
ResponderEliminarAinda bem que concorda comigo, assim temos mais um apoiante.
ResponderEliminarNão percebo o título do primeiro volume, devia ser Escola de Águias ou algo parecido, Escola de Élite? eles já são pilotos, trata-se aqui de irem treinar para uma escola especializada, tipo Top Gun, de maneira a aperfeiçoarem os seus treinos de combate.
ResponderEliminarConfesso que nunca tinha lido com atenção, conheço Charlier do Barba-Ruiva e do Blueberry mas estas aventuras nunca atrairam a minha leitura, até agora... estou a gostar das tramas e do uso de termos técnicos, o desenho do Uderzo está excelente, menos caricatural do que no Astérix. São obras que envelheceram pouco.
Venham mais.