Último
volume (cronológico, que não de lançamento, pois o
tomo #29 Os
Desastres de Sofia só
será distribuído no
final do mês) da segunda série da colecção Clássicos da Literatura em BD,
este Auto
da Barca do Inferno é,
também, a terceira adaptação de uma obra literária portuguesa no
seu âmbito, facto
que nunca é demais realçar, pelo que significa de aposta por parte da Levoir.
A
conhecida expressão “espaço branco [ou vazio] entre as vinhetas”
define de forma extremamente feliz a magia desta arte narrativa que,
na sua essência, vive da forma como o leitor preenche mentalmente
esse espaço para sequenciar a narrativa, ‘adivinhando’ o que
decorre entre cada duas vinhetas. Tentando
fazer uma transposição do conceito, posso escrever que o livro
Conversas
de Banda Desenhada
tenta preencher o que existe por detrás das vinhetas, ou seja, dar a
conhecer um pouco de quem são os criadores de histórias aos
quadradinhos.
Em
anos recentes, tem-se falado - e escrito - recorrentemente como o
mercado português de banda desenhada tem crescido. Por um lado, na
quantidade, que é visível
nas estantes e nas
bolsas vazias
de
quem compra BD; por outro, na qualidade, que é inegável, de obras e
edições. E, num terceiro aspecto não menos importante, na
diversificação de públicos, tendo acabado de vez - penso eu - a
velha ideia de que há em Portugal um pequeno núcleo de leitores de
BD que compra tudo. O
recente Amadora BD mostrou este mesmo mercado a dar mais um salto em
frente, ao serem propostas obras que recuperam clássicos nacionais
ou que reflectem sobre a BD - nacional, mas não só...
Cerca
de 14 meses e 14 volumes depois, chega ao fim a colecção Clássicos
da Literatura em BD.
Não foi um percurso linear - como os números atrás podem dar a
entender - nem sempre foi pacífico nem
consensual,
mas dificilmente poderia terminar melhor. Porque
termina com uma adaptação de um romance de autor português: Amor
de Perdição,
de Camilo Castelo Branco. Porque
termina com uma adaptação assinada por autores portugueses: João
Miguel Lameiras e Miguel Jorge. Reforça, por isso, a sua relevância em relação à importância que concedi há semanas ao lançamento de Os Maias. Porque
termina com uma das melhores adaptações que a colecção viu - e
com uma boa adaptação tout
court,
não venham já aí os habituais Velhos do Restelo questionar os
termos de comparação.