Se
é evidente que, apesar das suas limitações, a começar pela
pequena dimensão, o mercado português de BD tem vindo a mudar ao
longo da última década, a verdade é que essa mudança de paradigma
vai para além da multiplicação de editoras e da oferta crescente
em registos variados, muitas vezes procurando os seus leitores para
lá do nicho dos que habitualmente lêem BD.
Segunda
entrevista do mês, no âmbito da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, editada pela Levoir e a RTP, apresenta
as opiniões de Carina Correia e Joana Afonso, responsáveis pela
adaptação de Maria Moisés,
de Camilo Castelo Branco.
As
respostas, obtidas por correio electrónico, estão já a seguir.
Se
alguns destes clássicos que a colecção Levoir/RTP são desafiantes
pela forma como os autores conseguem recriar obras que todos
(re)conhecem, outros surpreendem por adaptarem
criações 'obscuras' - passe o exagero - dos grandes escritores
portugueses, como é o caso deste Maria
Moisés,
saído da pena de Camilo Castelo Branco.
Último
volume (cronológico, que não de lançamento, pois o
tomo #29 Os
Desastres de Sofia só
será distribuído no
final do mês) da segunda série da colecção Clássicos da Literatura em BD,
este Auto
da Barca do Inferno é,
também, a terceira adaptação de uma obra literária portuguesa no
seu âmbito, facto
que nunca é demais realçar, pelo que significa de aposta por parte da Levoir.
Tal como fiz recentemente com edições de histórias curtas e séries (ditas) populares, agrupo hoje três
livros com um denominador comum: terem autores portugueses. Mais uma vez, para recuperar leituras
‘esquecidas’ pela voragem dos tempos, embora sob a forma de
apontamentos curtos, embora (mais?) incisivos.
Da
primeira leitura que fiz do Bestiário
da Isa
- ainda na versão parcial, em edição de autor(a) - ficou-me na
memória o ritmo vivo e o bom encadeamento desenho/texto. Agora,
a leitura completa, confirmou o perfeito funcionamento como banda
desenhada de uma história, simples, divertida e... fantástica!
Lançado no recente Amadora BD, Pedro
e o Imperador parte de um
encontro surreal para discutir os contratempos do império. Assinado
pelo argumentista brasileiro Marcos Batista e pela desenhadora
portuguesa Joana Afonso, numa co-edição das
editoras Lote 42 e Polvo, é um álbum integrado nas comemorações
do Bicentenário da Independência do Brasil. É
também o
primeiro livro de um projecto que
pretende juntar autores e editores do Brasil e dos PALOP e faz parte
do Programa Brasil em Quadrinhos, criado em 2019 pelo Ministério das
Relações Exteriores - Itamaraty, com apoio e produção da Bienal
de Quadrinhos de Curitiba. Foi
o pretexto para realizar mini-entrevistas ao editor português, Rui
Brito, da Polvo, e aos dois autores.
Editar - ser
editor - é bem mais do que pagar ao autor, à gráfica, à
distribuidora e... Ser editor,
no completo sentido do termo - e da missão - é zelar para que tudo
na edição saia perfeito - ou o mais próximo possível disso - o
que passa por apontar, corrigir ou até recusar o que é proposto. Não sei como
funciona o colectivo Ditirambos,
mas a verdade é que esta terceira colectânea me parece um bom
exemplo de um trabalho editorial assertivo
e bem feito.
Ou quase.
Cinco
anos depois, chega ao seu termo um projecto único na banda desenhada
portuguesa: Living Will, um romance gráfico escrito por André
Oliveira, publicado sob a forma de fascículos.
Valeu
a pena a espera para ter completa este drama humano, aguarda-se agora
a (merecida) publicação em livro.
O título é Zahna,
é o mais recente livro de Joana Afonso, na Polvo, foi lançado na Comic Con e foi o pretexto para a conversa que podem ler já a seguir.
E de
repente - que é como quem diz, perante um livro com quase 120
pranchas! - Joana Afonso resolve deixar os relatos de tom mais
intimista - que muitos acreditariam ser a sua zona de conforto - para
nos brindar com uma história de espada e feitiçaria.