Novembro
de 1935, adivinha-se que o fim da vida de Fernando Pessoa está a
chegar e o Diário de Lisboa encarrega Simão Cerdeira, um jovem com
aspirações a escritor e jornalista, de cabelos rebeldes e calças
de golfe - evocação e piscar de olho a um outro repórter
desenhado...? - de preparar antecipadamente o obituário do poeta.
O
assinalável crescimento do mercado nacional de banda desenhada, para
além do fortalecimento dos segmentos dominantes de franco-belga e
manga, trouxe também a aposta de editoras que geralmente não se
dedicavam a este género narrativo e uma maior diversidade da oferta.
Com
O
Regresso do Capitão Nemo fecha
a sétima série da colecção Novela Gráfica,
possivelmente aquela em que as propostas foram menos consensuais e
mais desafiadoras - afinal um dos principais propósitos da Levoir ao
criá-la. E
fecha em beleza, com o mais recente livro de um dos mais fabulosos
livros que a banda desenhada já nos proporcionou, o d’As Cidades Obscuras,
editado em simultâneo com a edição original francófona.
Não
foi Franz
Kafka
(1883
- 1924) quem
escreveu Uma
metamorfose iraniana
- mas podia ter sido. Aliás,
neste livro, as
alusões a
obras
- A
Metamorfose, O Processo -
do
escritor checoslovaco são evidentes
e tornam-se até
extremamente
incómodas pelo paralelismo evidente
entre a ficção de há século e meio e a autobiografia
contemporânea do
autor.