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28/03/2024

Noir Burlesco #2

Contar sempre a mesma história

Há quem defenda que só existe um punhado de histórias para contar e o que varia são as épocas, os locais e as roupagens com que são vestidas as personagens que as vão interpretar. E acima de tudo, a forma como são (re)contadas.
Por essa ordem de ideias, Noir Burlesco é (mais) uma variação de uma temática tantas vezes abordada, aquela que tem por base o eterno triângulo amoroso.

18/04/2023

Go West Young Man

O Oeste ao ritmo de um tique-taque



Dos tempos dos confrontos entre franceses e britânicos até às vésperas da II Guerra Mundial, Go West Young Man, acabado de editar em português pela Gradiva, traça uma história do Oeste norte-americano ao ritmo do tique-taque de um relógio de ouro que vai passando de mão em mão.

29/03/2023

Batman: O Príncipe Encantado das Trevas #1/#2

Por...

Este díptico passaria poderia perfeitamente integrar uma colecção do género Batman por…, a exemplo do que, a nível franco-belga, tem sido (tão bem feito) com Lucky Luke ou Spirou...
Exemplar único - neste contexto, na época específica - de visão/versão europeia do Homem-Morcego, justifica plenamente a leitura por parte dos admiradores do super-herói, tanto quanto por parte dos que seguem Marini.

17/01/2023

Noir Burlesco #1

A roupa com que a veste
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Filadélfia 1950. Terry Slick é um gangster dos duros, um lobo solitário, com preferência por trabalhar sozinho, especialista em assaltos ousados e rentáveis. Os acasos da vida - ou o que dela fez - obrigam-no a trabalhar para Hollow, um dos senhores do crime locais, por razões diversas entre as quais pagar uma dívida do seu irmão.
Se por motivos óbvios, a relação entre ambos nunca foi a ideal, torna-se mais complicada quando Slick, após ausência para prestar serviço militar que o levou a combater na Europa, na II Guerra Mundial, descobre que Deb Caprice, a sua grande paixão de sempre, permanente e mal resolvida, é agora noiva de Hollow.

03/11/2017

Batman 1

À espera do que a montanha vai parir





Um dos lançamentos mais esperados do ano - para leitores de franco-belga que também gostam de super-heróis... - o Batman de Marini está a partir de hoje disponível.
Feita a leitura, ressoa uma questão: a montanha pariu um rato? Ainda não, mas…

12/05/2017

Le Scorpion

  
Poder(es)

Uma (oportuna) coincidência, face ao ruído de fundo da actualidade nacional, fez com que terminasse a leitura integral (até agora) da série Le Scorpion, a tempo de publicar hoje este texto hoje sobre uma série em cuja base está o retrato da forma como a Igreja Católica – os seus responsáveis - sempre colocaram à frente da sua missão original – proteger e servir os desamparados e os necessitados – valores bem mais materiais e terrenos como o dinheiro, o poder, as influências ou o próprio sexo.

22/12/2016

As Águias de Roma V








Com alguma surpresa, dado o historial recente, a ASA alegra o nosso fim de ano com a edição do quinto livro de As Águias de Roma, dois meses após a edição original francófona.
(o texto a seguir tem spoilers; prossigam a leitura por vossa conta e risco…)

18/12/2013

As Águias de Roma – Livro IV





Este quarto volume, editado pela ASA quase em simultâneo com o original francês, ainda herança do consulado de Maria José Pereira no departamento de BD da editora, em contraste com a ideia criada pelo tomo inicial, vem reforçar tudo o que escrevi a propósito do Livro III da série. E, confesso, para mim faria sentido ter copiado e colado aqui o texto que então escrevei a propósito desse álbum. Algo impossível por respeito para quem me lê, mas aplicável em termos de conteúdo, porque as ideias lá expressas continuam a aplicar-se perfeitamente 56 pranchas depois.
As razões vêm já a seguir.

05/12/2011

As Águias de Roma

Livro III
Marini (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Novembro de 2011)
240 x 320 mm, 60 p., cor, cartonado
16,50 €

Resumo
Em território Germano, Armínio (ou Armanamer) hesita (?) entre manter a sua posição como cidadão romano ou aceitar a chamada do seu povo para o comandar numa rebelião contra o invasor, enquanto Marco chega com a missão de espiar ao serviço do imperador o que há de verdade numa eventual rebelião dos germanos.

Desenvolvimento
Apesar do que escrevi a propósito do Livro I desta série – opinião que mantenho inalterada e estendo ao segundo volume – confesso que a chegada de um novo tomo levou-me a lê-lo rapidamente.
Porque a época do Império Romano exerce sobre mim um grande fascínio, é uma das razões; outra é porque admiro o traço atraente de Marini, realista na reconstrução credível da época retratada, à vontade na representação de animais selvagens ou de seres humanos, quer se trate de másculos atletas, belas e sensuais mulheres ou seres a caminho da decadência física, muito dinâmico e e variado na planificação das páginas, magnífico no tratamento dos cenários, servidos por um colorido soberbo, assente numa diversificada paleta cromática, de tom global sombrio, mas adequada quer às gélidas florestas da Germânia, quer aos abafados salões das orgias romanas.
Essa leitura acabou por me revelar um Marini mais seguro como argumen-tista, a explorar novos caminhos que, embora conduzam ao inevitável confronto entre Armínio e Marco, prendem o leitor, enredado na teia que Marini vai tecendo, onde conspirações, traições, ambição, ódio, paixão, desejo e luxúria se vão cruzando e sendo alimentados por quem por eles se rege ou os utiliza para chegar aos seus fins.
Desta trama de ritmo acelerado, que por vezes leva o leitor de arrasto, impedindo-o de atentar aos pormenores que suportam e são mais valia para o enredo geral, fica como principal imagem um retrato cru e violento da fase final do Império Romano, sobrando à saciedade as razões que levaram à sua decadência.

A reter
- O belíssimo trabalho gráfico de Marini.
- A maior consistência e originalidade do argumento, em relação aos dois tomos iniciais.
- O bom ritmo a que a ASA está a editar esta série…

Menos conseguido
- … lamentando-se apenas que Marini não trabalhe mais depressa, pois esta é uma obra que dá vontade de ler de um só fôlego - quem sabe, no futuro não muito distante, num apetecível integral…

13/06/2011

As Águias de Roma #1

Marini (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Maio de 2011)
240 x 320 mm, 60 p., cor, cartonado
16,50 €

Há autores de banda desenhada que caíram no goto dos leitores portugueses. Vá lá saber-se porquê. Apesar da sua indiscutível qualidade ou de outros predicados que lhes são reconhecidos.
Possivelmente, porque neles o editor apostou, insistiu, até ter resultados. O que devia, merecia, se justificava, acontecer com todos. Pelo menos com bastantes mais. Porque, se assim fosse, possivelmente não haveria nos catálogos dos editores portugueses de BD tantas séries deixadas incompletas…

Vou recomeçar.

Há autores de banda desenhada que caíram no goto dos leitores portugueses. Vá lá saber-se porquê.
Apesar da sua indiscutível qualidade ou de outros predicados que lhes são reconhecidos.
É o caso de Bourgeon, Bilal, Prado, Jodorowsky, Manara… E, mais recentemente, de Marini.
Neste caso, há razões evidentes. Que saltam à vista. Gráficas.
O seu traço é agradável, interessante, uma boa súmula do semi-realismo franco-belga – rigoroso na anatomia e nos cenários, convincente, credível – e da banda desenhada asiática – no dinamismo, nas sucessivas mudanças de enquadramento, na transmissão da ideia de movimento… Ao que alia um óptimo trabalho ao nível da aplicação da cor.
E isto é evidente num western como “A Estrela do Deserto”, na aventura histórica medieval de “O Escorpião” ou nos futuros mais ou menos próximos de “Rapaces”, “Gipsy” e (no menos interessante) “Os Dossiers de Oliver Varese”.
Ou, agora, no passado mais distante de “As Águias de Roma”, na transição entre o antes e o depois de Cristo, a época áurea do império romano, hoje na moda, e que a BD já tratou muito bem, do classicismo do “Alix”, de Jacques Martin, à magnífica ficção histórica de “Murena”, de Dufaux e Delaby.
No caso de “As Águias de Roma”, o contexto histórico surge leve e diáfano, apenas para situar a acção, dividida entre Roma e a Germânia bárbara…
É nelas que Marini, agora também argumentista, depois de já ter trabalhado com nomes como Desberg, Dufaux e Smolderen, situa a sua história, onde se destaca o dinamismo das cenas de acção, as belas mulheres, a facilidade de distinção das personagens, o à-vontade tanto nas cenas exteriores como nas interiores, no tratamento da figura humana ou animal, nos cenários urbanos como nos campestres ou selvagens.
É a história de Ermanamer, um jovem príncipe bárbaro (germânico), levado como refém/garantia para Roma onde rapidamente desenvolve uma inimizade/rivalidade com o filho do seu tutor, Marco.
Ambos avessos à autoridade, senhores do seu nariz, verão com o tempo esse sentimento transformar-se em amizade sólida, alicerçada no facto de Marco salvar a vida a Ermanamer durante uma caçada, tornando-se os dois inseparáveis. Juntos vão crescer, fortalecer o corpo e o espírito, descobrir o amor, o prazer e a volúpia, viver intensas aventuras.
Pelo meio há ainda tempo para a paixão entre o bárbaro e a irmã de Marco, prometida a um velho romano, e o ódio daquela à sua mãe adoptiva (dois aspectos que, refira-se acabam por não ter o desenvolvimento que possivelmente justificavam – bem como a relação de Marco (e de Ermanamer) com o pai - a não ser que venham a ser explorados – tardiamente…? - em tomos futuros).
Futuro no qual, não custa adivinhar mesmo sem ter lido o volume 2, os dois jovens se virão a defrontar no campo de batalha – e talvez não só…
Porque, se a história está bem narrada, bem planificada e bem desenhada e tem bases para ser interessante, assenta num estereótipo muitas vezes explorado, o que a torna previsível e lhe retira encanto. Porque Marini, sem dúvida melhor desenhador do que argumentista, até agora ainda não conseguiu dar-lhe o toque que faça a diferença, que a torne diferente e capaz de surpreender o leitor.
Apesar disso, e se no final da (re)leitura deste álbum, essa previsibilidade provoca uma ligeira amargura, ela não é suficiente para deixar de ler o segundo tomo, que a ASA deve fazer chegar às livrarias durante este mês de Junho.

30/11/2010

O Escorpião #6 – O Tesouro do Templo

Desberg (argumento)
Marini (desenho)
Edições ASA (Portugal, Outubro de 2010)
230 x 297 mm, cor, 48 p., cartonado

Resumo

As conspirações no seio da Igreja Católica e as (muitas) dúvidas sobre a veracidade de alguns dogmas sobre os quais assenta, não sendo um tema novo, está na moda, embora a BD já o explorasse antes do fenómeno Dan Brown (e subsequentes sequelas).
Esta é também a temática base da série "O Escorpião", ambientada no século XVIII, que narra a procura da verdadeira cruz onde o apóstolo Pedro supostamente teria sido crucificado de cabeça para baixo, para desmascarar o Cardeal Trebaldi, auto-assumido ateu, recém-eleito Papa com o objectivo de se servir da muito poderosa organização católica, refundando-a à imagem dos seus interesses.
Para além dos seus sequazes, a busca pelo médio oriente envolve um aventureiro conhecido como Escorpião, filho ilegítimo do anterior Papa e que vive na fronteira da lei, as belas - mas perigosas - Ansea e Méjai, e o impiedoso Rochnan, mercenário ao serviço de Trebaldi.

Desenvolvimento
Série de (justo) sucesso, pelos ingredientes que combina em proporções adequadas -equilíbrio entre ficção, veracidade histórica e tradição religiosa, cenas de acção bem conseguidas, um toque de romance e de sexo, armadilhas, traições, surpresas, intriga e mistério – O Escorpião ilustra bem o melhor da banda desenhada de aventuras franco-belga. O que já não é pouco.
Para isso, contribui em grande parte o traço realista ágil, fluído e expressivo, as cores, geralmente quentes, e a planificação cinematográfica de Marini que servem na perfeição o guião de Desberg que demonstra toda a sua mestria num relato de ritmo intenso, com diversos volte-faces e cuja leitura prende e entusiasma, mesmo que muitas vezes quase nada se passe, como acontecia, por exemplo, no tomo anterior, O Vale Sagrado…
O que não é o caso desta vez, pois a narrativa que, de forma interessante e bem conseguida, alterna entre o grupo onde está o Escorpião e a marcha solitária de Rochnan – cujo terrível segredo por detrás da máscara é finalmente desvendado – até à sua junção e confronto final (mas possivelmente não definitivo…) progride bastante, encerrando mesmo aquilo que pode ser designado como um ciclo.
Nele, a busca pela cruz de Pedro – durante a qual as alianças e traições se sucedem a um ritmo impressionante, mostrando a volatilidade do ser humano quando guiado pela ganância e a cupidez - chega ao seu fim, embora de forma infrutífera para aqueles que procuravam riquezas e/ou poder. E com o Escorpião a antever numa declaração do seu inimigo um novo sentido para a sua procura. E no qual Desberg, habilmente – sem os excessos (serão?) de Jodorowsky e Manara, em Borgia – a continuar a pôr a nu os podres de uma Igreja Católica, cujas cúpulas sempre estiveram mais interessadas nos bens terrenos e na satisfação imediata dos prazeres carnais – fraca e enganadoramente desmentidos regularmente por pouco sentidos pedidos de desculpas - do que em seguir os ensinamentos de amor e compaixão daquele que (teoricamente) apresentam como seu Senhor.
E, como nos álbuns anteriores, terminado a leitura, fechado o livro, fica o desejo de prosseguir de imediato com a leitura do seguinte. Cabe à ASA satisfazê-lo, aproximando-se rapidamente da edição francófona que já vai no nono volume.
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