ASA (Portugal, Maio de 2011)
240 x 320 mm, 60 p., cor, cartonado
16,50 €
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Há autores de banda desenhada que caíram no goto dos leitores portugueses. Vá lá saber-se porquê. Apesar da sua indiscutível qualidade ou de outros predicados que lhes são reconhecidos.
Possivelmente, porque neles o editor apostou, insistiu, até ter resultados. O que devia, merecia, se justificava, acontecer com todos. Pelo menos com bastantes mais. Porque, se assim fosse, possivelmente não haveria nos catálogos dos editores portugueses de BD tantas séries deixadas incompletas…
Vou recomeçar.
Há autores de banda desenhada que caíram no goto dos leitores portugueses. Vá lá saber-se porquê.
Apesar da sua indiscutível qualidade ou de outros predicados que lhes são reconhecidos.
É o caso de Bourgeon, Bilal, Prado, Jodorowsky, Manara… E, mais recentemente, de Marini.
Neste caso, há razões evidentes. Que saltam à vista. Gráficas.
O seu traço é agradável, interessante, uma boa súmula do semi-realismo franco-belga – rigoroso na anatomia e nos cenários, convincente, credível – e da banda desenhada asiática – no dinamismo, nas sucessivas mudanças de enquadramento, na transmissão da ideia de movimento… Ao que alia um óptimo trabalho ao nível da aplicação da cor.
E isto é evidente num western como “A Estrela do Deserto”, na aventura histórica medieval de “O Escorpião” ou nos futuros mais ou menos próximos de “Rapaces”, “Gipsy” e (no menos interessante) “Os Dossiers de Oliver Varese”.
Ou, agora, no passado mais distante de “As Águias de Roma”, na transição entre o antes e o depois de Cristo, a época áurea do império romano, hoje na moda, e que a BD já tratou muito bem, do classicismo do “Alix”, de Jacques Martin, à magnífica ficção histórica de “Murena”, de Dufaux e Delaby.
No caso de “As Águias de Roma”, o contexto histórico surge leve e diáfano, apenas para situar a acção, dividida entre Roma e a Germânia bárbara…
É nelas que Marini, agora também argumentista, depois de já ter trabalhado com nomes como Desberg, Dufaux e Smolderen, situa a sua história, onde se destaca o dinamismo das cenas de acção, as belas mulheres, a facilidade de distinção das personagens, o à-vontade tanto nas cenas exteriores como nas interiores, no tratamento da figura humana ou animal, nos cenários urbanos como nos campestres ou selvagens.
É a história de Ermanamer, um jovem príncipe bárbaro (germânico), levado como refém/garantia para Roma onde rapidamente desenvolve uma inimizade/rivalidade com o filho do seu tutor, Marco.
Ambos avessos à autoridade, senhores do seu nariz, verão com o tempo esse sentimento transformar-se em amizade sólida, alicerçada no facto de Marco salvar a vida a Ermanamer durante uma caçada, tornando-se os dois inseparáveis. Juntos vão crescer, fortalecer o corpo e o espírito, descobrir o amor, o prazer e a volúpia, viver intensas aventuras.
Pelo meio há ainda tempo para a paixão entre o bárbaro e a irmã de Marco, prometida a um velho romano, e o ódio daquela à sua mãe adoptiva (dois aspectos que, refira-se acabam por não ter o desenvolvimento que possivelmente justificavam – bem como a relação de Marco (e de Ermanamer) com o pai - a não ser que venham a ser explorados – tardiamente…? - em tomos futuros).Futuro no qual, não custa adivinhar mesmo sem ter lido o volume 2, os dois jovens se virão a defrontar no campo de batalha – e talvez não só…
Porque, se a história está bem narrada, bem planificada e bem desenhada e tem bases para ser interessante, assenta num estereótipo muitas vezes explorado, o que a torna previsível e lhe retira encanto. Porque Marini, sem dúvida melhor desenhador do que argumentista, até agora ainda não conseguiu dar-lhe o toque que faça a diferença, que a torne diferente e capaz de surpreender o leitor.
Apesar disso, e se no final da (re)leitura deste álbum, essa previsibilidade provoca uma ligeira amargura, ela não é suficiente para deixar de ler o segundo tomo, que a ASA deve fazer chegar às livrarias durante este mês de Junho.
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