09/11/2021

Miguel Jorge: “O pior que qualquer adaptação para banda desenhada consegue fazer é descobrir novos leitores”




Depois de uma pré-venda no Amadora BD 2021, a versão em banda desenhada de Amor de Perdição, o derradeiro volume da colecção Clássicos da Literatura em BD, já analisado aqui n’As Leituras do Pedro, está à venda em quiosques, bancas e livrarias desde o passado dia 2.
Foi este o pretexto para uma conversa com os autores, João Miguel Lameiras, o argumentista (publicada ontem), e Miguel Jorge, o desenhador (hoje).


As Leituras do Pedro - Como surgiu esta oportunidade de adaptar Amor de Perdição para BD?

Miguel Jorge - Fui contactado pelo João Miguel Lameiras sobre o meu interesse e disponibilidade. Como tinha terminado um outro álbum em pouco tempo, aproveitei o balanço e aceitei o desafio.


As Leituras do Pedro - Se tivesses podido escolher, teria sido esta a tua escolha? Porquê?

Miguel Jorge - Entre as duas obras seleccionadas para a colecção, em termos de desenho não havia grandes diferenças no desafio de as desenhar (os ambientes não são assim tão diferentes). Mas pela história provavelmente escolhia esta porque acredito que Os Maias obriguem a uma maior condensação da história para caber no número de páginas que tínhamos disponíveis.


As Leituras do Pedro - Conhecias os outros livros da colecção? Esse facto condicionou de alguma forma a tua adaptação?

Miguel Jorge - Li alguns e folheei os outros. Como artista não me influenciou muito porque não me senti pressionado em copiar o estilo de ninguém.


As Leituras do Pedro - Já conhecias o romance original? De que forma esta adaptação contribuiu para aprofundar o teu conhecimento da obra de Camilo?

Miguel Jorge - Nunca tinha lido o Amor de Perdição, por isso esta adaptação acabou por ser a minha janela para o mundo de Camilo de Castelo Branco.


As Leituras do Pedro - Achas que este tipo de obras pode contribuir para tornar mais conhecido o romance original de Camilo Castelo Branco?

Miguel Jorge - O pior que qualquer adaptação para banda desenhada consegue fazer é descobrir novos leitores. A obra original irá sempre existir em alguma forma e no caso específico de Camilo de Castelo Branco acredito que provavelmente será mais apelativo para as camadas mais jovens conhecer de uma forma mais visual a obra.


As Leituras do Pedro - Como se desenvolveu a tua colaboração com o João Miguel Lameiras? Que método de trabalho utilizaram?

Miguel Jorge - Gostei bastante de colaborar com o João. Devido ao prazo apertado, começámos quase em simultâneo. Ele entregava-me blocos de páginas para eu ir avançando com os layouts e a legendagem e contribuiu com ideias bastante interessantes para algumas páginas tornando o projecto bastante colaborativo. Por mim, é uma experiência a repetir.


As Leituras do Pedro - Quais as maiores dificuldades que te surgiram na adaptação?

Miguel Jorge - O tempo que tínhamos para terminar o livro.


As Leituras do Pedro - Que tipo de documentação utilizaste?

Miguel Jorge - Motores de pesquisa. Felizmente conseguimos encontrar muita referência visual desta época na Internet.


As Leituras do Pedro - Achas que o Camilo Castelo Branco ficaria satisfeito com o resultado final? Porquê?

Miguel Jorge - Espero que sim… Tentámos ser o mais fieis possível… Ele escreveu pelo menos grande parte do livro na prisão e nós desenvolvemos esta adaptação em confinamento obrigatório devido à Covid-19.

(versão integral da entrevista que serviu de base ao texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Novembro de 2021; imagens disponibilizadas pela Levoir, por João Miguel Lameiras e por Miguel Jorge; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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