Ciclicamente
- todos os anos neste caso - assinala-se o enésimo regresso
de Blake e Mortimer - e consequente esvaziamento do peso dos álbuns
originais de Jacobs na cronologia da série.
Desta
vez, esse duplo regresso - a que devemos acrescentar os de Nasir e
Olrik, por exemplo - celebra um outro: a interrupção da reforma por
Jean Van Hamme, para escrever a sua quinta aventura da fleumática
dupla britânica, 25
anos depois de dar continuidade à série com O
caso Francis Blake.
Desta vez, um dos mais aclamados escritores de banda desenhada, baseou-se num episódio da II Guerra Mundial, em que os nazis, com o auxílio do IRA (Exército Republicano Irlandês) planearam fazer explodir o palácio de Buckingham com toda a família real no seu interior, transpondo-o de alguma forma para o novo álbum.
Nele, três anos após o final daquele conflito, o projecto volta à liça orquestrado por ex-SS e elementos do IRA, que pretendem apoderar-se de uma das aeronaves com que os exércitos aliados ocidentais derrotaram a ameaça dos exércitos ‘amarelos’ na trilogia O Segredo do Espadão, a primeira aventura do professor Philippe Mortimer e do capitão Francis Blake.
Fundamentalmente uma história de espionagem, esta nova aventura na verdade passa um pouco ao lado do Espadão em si - que surge mais como um símbolo de poderio, algo esvaziado do seu lado mítico original, o que confere credibilidade ao relato - e os próprios protagonistas, sendo-o, acabam por ser muito pouco (aos olhos dos leitores - e vocês vão perceber porquê).
Próximo de O Segredo do Espadão, de que surge como continuação lógica e natural - a partir do momento que se aceite a total aniquilação do império ‘amarelo’ do imperador Basam Dandu - este álbum transpira também alguma da sua ingenuidade narrativa e das suas soluções fáceis para questões complicadas, para além de alguns saltos temporais excessivos e de um final algo precipitado.
No entanto, Van Hamme, dotou o seu argumento de um inesperado toque de humor que, aqui e ali, coloca em causa alguns dos marcos basilares da série, como a ementa do Centaur Club, a relação entre os protagonistas, a eterna patente de ‘capitão’ de Blake ou o destino seguinte de Olrik, o que, a par da revisitação recorrente de momentos de O Segredo do Espadão, dão ao conjunto um agradável sabor a um tempo nostálgico e desempoeirado.
Graficamente, não sei se por ‘simpatia’ com este lado mais jocoso da obra, o traço dos dois desenhadores, embora próximo do registo original de Jacobs, revela-se com frequência algo caricatural, o que o afasta do registo de espionagem mais realista que é pretendido.
Blake
e Mortimer: O Último Espadão
Jean
Van Hamme (argumento)
Teun
Berserik e Peter Van Dongen (desenho)
Edições
ASA
Portugal,
19
de Novembro de 2021
237
x 312
mm, 64
p., cor, capa dura
15,90
€
(capas disponibilizadas pela ASA; pranchas da edição francesa disponibilizadas pela Dargaud; clicar nas imagens aqui mostradas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Outra vez o Olrik?!?
ResponderEliminarJá era tempo de arranjarem alguma coisinha diferente, não?
Creio que o legado do Jacques Martin está a ser melhor estimado do que o do pobre Jacobs :(