Leituras...
Quantas
leituras tem um livro?
Se
a resposta óbvia - e até expectável - é: ‘tantas quantas os
leitores que o lerem’, a leitura deste Pecados
do Passado sugeriu-me
uma resposta alternativa - quatro - em função da familiaridade dos
leitores com o Universo Marvel.
Passo
a descriminar, avisando desde já que posso contar mais do que alguns
poderão querer
saber...
Não leitores Marvel
Será certamente o grupo potencialmente maior, mas poucos se sentirão atraídos por esta narrativa. Mas, se ousarem, ultrapassada a questão dos mascarados com poderes especiais, depararão com um bom relato de tom policial, em que do passado do protagonista - Peter Parker/Homem-Aranha - surge alguém que ameaça matá-lo, por razões que ele desconhece.
A descoberta dos potenciais assassinos e a forma como isso afecta de forma tão profunda a relação de Peter e Mary Jane, - a ponto de a colocar em causa... - são os dois pontos fulcrais de uma história cujo principal calcanhar de Aqulies - para estes leitores, como para (quase?) todos os outros - é a questão do crescimento acelerado de alguns dos seus intervenientes.
Leitores ocasionais Marvel
Para estes leitores, se os ‘mascarados’ não farão diferença, a principal surpresa será o tom ‘adulto’ de Pecados do Passado’, fora do que habitualmente encontramos - ainda hoje, muito mais em 2004, data da sua publicação original. Uma traição (com interacção sexual) é muito mais do que seria de esperar num relato da linha regular da Marvel, sendo este uma história que surgiria mais naturalmente num registo What if…?
Leitores Marvel da época
É aqui que tenho mais dificuldade em situar-me e compreender a ‘sua leitura’. Vivendo o momento cronológico (que para eles era) presente, sem grande conhecimento do passado do Homem-Aranha, terão encarado com alguma surpresa esta história, pelas razões já apontadas - tom policial, tom adulto - mas terão aceite os acontecimentos como naturais numa linha cronológica (que eles desconheciam estar) a ser reestruturada.
Leitores Marvel dos primórdios
Não pertenço a este grupo, mas comungo com eles do mesmo estupor perante Pecados do Passado.
Se na cronologia Marvel havia personagens fulcrais e intocáveis, Gwen Stacy era uma delas. Nascida - e morta - quando os super-heróis ainda ostentavam uma agradável aura de ingenuidade, Gwen ficou para sempre como o (primeiro) grande amor de Peter, aquela que ele nunca iria esquecer - nem ele, nem os milhares de fãs que ficaram chocados n’O dia em que Gwen Stacy morreu.
Fazer-lhe o que Straczynski e Deodato fizeram aqui - atrever-se a provar a sua traição a Peter Parker e logo com o seu arqui-inimigo - é imperdoável e nem sequer admissível como um What if…?, ainda menos na linha regular.
Para estes, uma história bem escrita e sustentada, que revisita alguns momentos e locais marcantes da cronologia do Aranha, desenhada com um traço mais realista por Mike Deodato, no lugar do que até este momento tinha a assinatura de John Romita Jr., foi, é - e será sempre - um crime inominável, mas que nenhum super-herói conseguiu evitar.
Obviamente, nestas coisas da edição de super-heróis - principalmente, mas não só… - manda o dinheiro e qualquer mediatismo conquistado é bom, porque alavanca vendas…
...resta saber quantas foram - foram? - perdidas à conta da história em si.
Marvel
Saga - O Espetacular Homem-Aranha #6
Inclui
The Amazing Spider-Man #509-#514 (EUA, 2004-2005
J.
Michael Straczynski
(argumento e desenho)
Mike
Deodato
(desenho)
Joe
Pimentel
(arte-final)
Panini
Comics
Brasil,
Dezembro
de
2020
Edição actualmente distribuída em bancas e quiosques
portugueses
170
x 260
mm, 152
p., cor,
capa dura
R$
59,90 / 11,30
€
(capa disponibilizada pela Panini; pranchas disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
O pior ainda está para vir O Outro,Um dia a mais......
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