A crueldade de contar o fim...
Nunca
fui às páginas finais de qualquer livro para saber como acabava,
antes de o ler. Mais, nunca consegui perceber qual o interesse dessa
manobra que tantos faziam regularmente.
Mas,
quando é o próprio autor a contar-nos o fim - como faz Brubaker
neste quinto tomo de Criminal,
como leitor senti um desafio, um estímulo extra que nunca tinha
experimentado. Tentei sempre perceber, antecipar, prever,
como
iria Teeg Lawless falecer. Ou melhor, porque iria falecer, porque o
‘como’,
há muito era evidente: de forma violenta e cruel.
Sendo mais um tomo de Criminal, sendo mais uma vez centrado em Teeg Lawless - e também no seu filho Ricky - Um verão cruel é bem mais do que ‘mais uma história’ neste universo criminoso, violento e letal que Brubaker criou com Sean Philips.
Arrancando como história familiar, de uma linhagem de pequenos bandidos - o avô, o pai, o filho/neto - torna-se rapidamente numa história de amor. De amores. Correspondidos ou não. A vários níveis, em várias direcções porque, se, como alguém disse, é o amor que faz mover o mundo, nem sempre ele está em condições de conduzir. E este trocadilho, rasca, reconheço, faz tanto sentido a páginas tantas deste livro, como irão perceber.
Mais uma vez história incómoda e dura - e tão cruel… - este relato continua a embrenhar-nos no submundo em que Lawless - toda a família - se move. Um mundo de jogadas arriscadas, apostas altas mas ganhos parcos, com a morte sempre latente, a violência a explodir por tudo e por nada, traições, mentiras e enganos, num retrato puro e duro do ser humano. Do ser humano que frente ao abismo, já mergulhado em desespero, dá sempre um passo em frente. Dá mesmo um passo em frente, quando tem tudo para recuar, virar-se e viver uma vida feliz. Feliz como nunca antes imaginara ser possível ou sequer existir.
Foi esse o destino de Teeg Lawless, será esse o destino de Ricky…?
O verão foi cruel; mas foi só uma questão de calendário, porque todas as estações o são, e não temos como lhes fugir.
Narrado em voz off, em tom intimista mas tão revelador por Brubaker, Um verão cruel é mais um tratado de narrativa gráfica assente no traço superlativo, agreste e duro de Sean Philips, bem servido pelas cores de Val Staples que definem ambientes e pontuam as emoções com que os autores uma e outra vez nos agridem. Cruelmente.
Criminal
Livro Cinco: Um verão cruel
Inclui
Criminal #1 e #5-#12
Ed
Brubaker (argumento)
Sean
Phillips (desenho)
Val
Staples (cores)
G.
Floy
Portugal,
Setembro 2021
190
x 280
mm, 288
p.,
cor, capa dura
30,o0
€
(versão completamente revista e alterada do texto publicado no Jornal de Notícias de 30 de Outubro de 2021; imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Estranho, até parece que alguém me "ouviu", a legendagem parece melhor... talvez compre.
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