Sem enquadramento
Colectânea
de seis contos tradicionais, este livro foi uma das boas propostas
surgidas no recente Amadora BD, um daqueles que considerei inserida em ‘outros mercados’.
Recuperar
a obra de Artur Correia é muito importante, mas
este é apenas um primeiro e curto passo.
Representante
maior (possivelmente)
do humor na banda
desenhada portuguesa, para além destes contos o
autor tem uma obra imensa e
muito interessante, de que outro exemplos também deveriam estar
disponíveis para os leitores de hoje.
Com um traço característico, divertido de acordo com as temáticas abordadas e muito dinâmico (também) devido ao muito que trabalhou em animação, Artur Correia utilizou-o indiscriminadamente em obras de humor puro, noutras de carácter aventuroso e muito em narrativas históricas ou de recuperação do património literário português. Mas raramente o fez de forma anódina.
É o caso destes seis contos que, para surpresa de muitos, surgem com algumas variações cómicas, sem imposição de questões éticas, práticas ou outras, nem imposição de valores morais ou moral de pacotilha, surgindo isso sim como narrativas divertidas, capazes de surpreender e desafiar o leitor, pelas situações caricatas e (muito) inesperadas que vão sendo narradas.
Se a recuperação desta parcela da obra do desenhador luso é de louvar, o livro da Polvo falha num aspecto igualmente importante: era fundamental que estes contos populares portugueses tivessem sido devidamente enquadrados.
Pegar na obra de Artur Correia ou na obra de qualquer autor dos anos 30, 40, 50, 60…, em Portugal ou no estrangeiro, é um risco se não houver um texto introdutório que explique quem é o autor, em que data e onde as obras foram publicadas originalmente e, mais do que isso, que as enquadre devidamente na sua época, nos respectivos contextos político, social e artístico.
Sem isso, mesmo um leitor medianamente avisado pode pegar neste livro - que até parece indicado para leitores muito jovens - e encontrar nos contos populares portugueses nele presentes atitudes, gestos, frases, acções que à luz do doentio, enjoativo e omnipresente politicamente correcto que hoje impera, são questionáveis. Dessa forma, poderá recusar, acusar e/ou pôr de lado uma obra que vale bem mais do que um punhado de detalhes, hoje controversos por alguns, mas que eram, vulgares e perfeitamente aceitáveis na época em que foram escritos e/ou desenhados - ou como elementos de humor.
Contos populares portugueses
Artur
Correia
Polvo
Portugal,
Outubro
de
2022
180
x 250
mm,
112
p.,
cor,
capa dura
15,95
€
(capa disponibilizada pela Polvo; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)
A obra de Artur Correia (e muitos outros bons autores nacionais) mereciam uma edição mais completa e abrangente e em maior formato. Pelo que pude confirmar na Amadora BD a qualidade de reprodução não é a melhor e, pelo que me foi dado a entender (pela POLVO), não foi permitido o acesso ao originais do autor para digitalização, o que é lamentável. Esperemos que outro editor, futuramente, possa trazer a luz do dia um livro que faça justiça á obra de Artur Correia
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