Evocação
Se
a primeira chamada de atenção foi a forma como a capa emula - pelo
menos na minha memória… - uma colecção de adaptações
de clássicos (?)
- embora maquete gráfica e ilustração não combinassem - foi a sua
distinção com o Premio Nacional de
Comic 2022 que
me fez olhá-lo com outros olhos.
A
descoberta da sua temática convenceu-me a comprá-lo e em boa hora o
fiz.
El pacto decorre sensivelmente no mesmo período de O Inverno do desenhador, de Paco Roca, a Espanha dos anos 1950, e tem igualmente a Editorial Bruguera, casa mãe de muita da banda desenhada espanhola da época (e não só), como foco, embora as duas abordagens sejam o mais díspares possíveis.
Na verdade, enquanto O Inverno... se centra na tentativa de alguns autores se tornarem independentes da grande editora e editarem uma revista própria (a Tio Vivo), El Pacto, num piscar de olhos ao humor desbragado que imperava em boa parte das criações da Bruguera, segue declaradamente esta via, numa dupla perspectiva de homenagem e de evocação de um legado que chegou aos nossos dias.
O livro começa com o pesadelo de qualquer autor: Manuel Gorriaga, o protagonista, vê o seu trabalho recusado pelo editor da Bruguera. A razão? O seu traço não se enquadra na linha editorial. A solução? Adaptá-lo, mais ou menos descaradamente, que é como quem diz ‘copiando’, à imagem dos sucessos da casa.
Contrariado, após uma tentativa de suicídio e conversas com o padre e a sua própria criação (!), o aspirante a autor decide raptar o grande Vázquez (criador de Anacleto, agente secreto, Las Hermanas Gilda ou La Familia Cebolleta), para que ele desenhe os seus argumentos.
Acrescentando ao relato alguns elementos reais que o credibilizam - como as ausências recorrentes de Vázquez, que obrigavam o editor a entregar as suas séries de sucesso a outras mãos (menos capazes) - e supostos depoimentos - mostrados em estilo e tons diferentes - de diversos elementos da editora, autores e historiadores dos comics espanhóis, Paco Sordo constrói um relato que revisita historicamente aquele período, de forma leve e descontraída e, em simultâneo o emula pelo traço humorístico adoptado, pelas tramas e defeitos de impressão e pelo non sense que impera ao longo de todo o livro, que o leitor lê de um fôlego, desconcertado e divertido.
El
Pacto
Paco
Sordo
Nuevo
Nueve
Espanha,
Março de 2021
170
x 240 mm, 112 p., cor, capa dura
18,00
€
(imagens disponibilizadas pelas Nuevo Nueve; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Boas Pedro, esta foi uma das minhas melhores leituras do ano passado graças a um familiar que teve a inspiração de o adiquir em Granada. Recomendo...
ResponderEliminarFoi pontaria certeira!
EliminarEu também gostei muito.
Boas leituras!