Surpresas na continuidade
Escrevendo
por cima do texto que escrevi aqui sobre o primeiro volume da série
U-Boot,
acabei por manter o título que então utilizei, porque esta nova colecção
ASA/Público foi por um lado uma surpresa - atendendo até à falta
de informação sobre ela - mas por outro mantém a temática
belicista associada à II Guerra Mundial que de alguma forma tem
caracterizado as propostas desta parceria.
Com
aspectos positivos mas ainda muitas incógnitas, o arranque de
O Grão-Duque
parece ter agradado aos leitores, a julgar pelos comentários nas
redes sociais.
Em termos de acção, o cenário é a frente alemã na Rússia, nos anos de 1943 e 1944. Por isso, como notas distintivas em relação a outras obras com a mesma temática, surge desde logo o facto de os protagonistas não serem britânicos nem americanos, mas sim alemães e soviéticos. E de, em ambos os lados, haver os que podem ser considerados ‘bons’ e ‘maus’, pese embora o tão redutor que este tipo de classificação é.
Sujeitos ao jugo político de estalinistas e nazis, na frente de combate degladiam-se pilotos alemães e mulheres-piloto soviéticas - as ‘feiticeiras da noite’ do título - existindo de um lado e outro dúvidas quanto às questões ideológicas que estão por detrás dos mortíferos combates mas sem que isso afecte o respectivo patriotismo.
Servindo fundamentalmente como introdução ao tema, à localização geográfica e de apresentação dos protagonistas, este primeiro tomo deixa para já muitas questões em aberto, embora seja evidente que haverá uma aproximação entre contendores de um e outro lado. Competente e bem escrito, ainda não evidencia a marca de qualidade geralmente associada aos argumentos de Yann, embora a crueza de algumas situações e a gestão das personagens sejam boas indicações.
Graficamente, Romain Hugault é conhecido como especialista no desenho de aviões e de belas mulheres. Nesse duplo aspecto, O Grão-Duque cumpre plenamente. Os aviões mostrados, os combates aéreos e as manobras que efectuam perante os olhos dos leitores são absolutamente credíveis. E quanto ao belo sexo, ele está também (bem)presente, mas de forma ajustada e sem excessos.
É, no entanto, na representação da figura humana que o livro é menos convincente. Se esta surge por vezes demasiado estática e com pouco dinamismo, a mim chocou-me especialmente a beleza dos rostos, a delicadeza dos seus traços, pouco consentâneas com a violência e a dureza do tema e das situações, surgindo as faces algo deslocadas do conjunto.
O
Grão-Duque
#1 As
feiticeiras da noite
Yann
(argumento)
Romain
Hugault (desenho e cor)
ASA/Público
Portugal,
9
de Novembro
de
2022
240
x 320 mm,
48
p.,
cor,
capa dura
10,90
€
(capa disponibilizada pela parceria ASA/Público; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)
Considero que desta vez a Asa/Público acertou, uma vez que esta BD tem muita qualidade e as últimas 3 edições não foram do meu agrado!...
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