Surpresas na continuidade
Mais
tarde do que os leitores de BD desejavam, sem o impacto e o peso de
obras(-primas)
como Peter
Pan ou
Long
John Silver,
a parceria ASA/Público está de regresso - e está de regresso aos
temas bélicos, com U-Boot
após
Airborne
44,
quatro volumes a disponibilizar noutras tantas semanas consecutivas.
Não
conheço/conhecia a obra, por isso entrei nela com alguma
curiosidade, aumentada pela sua divisão temporal.
U-Boot designação abreviada de Unterseeboot, o termo alemão para submarino, desenrola-se em três momentos. O primeiro, em 1945, narra o transporte de um passageiro especial e de umas caixas de conteúdo secreto, da Alemanha para a América do Sul, uma fuga em grande estilo com o final da II Guerra Mundial a aproximar-se a passos largos e a derrota total da Alemanha a ser uma evidência para alguns dos altos quadros do partido nazi e dos altos graduados do respectivo exército. O grande problema é que os marinheiros do submarino começam a aparecer mortos, mais do que isso, selvaticamente esquartejados e mutilados...
No segundo momento narrativo, reencontramos o U-Boot - diz-nos a intuição que é o mesmo, naturalmente - encalhado algures no rio Amazonas, onde é descoberto por uma expedição cartográfica britânica.
Finalmente, destoando completamente deste registo realista, suficiente por si só para construir uma narrativa sólida e estimulante, há um terceiro segmento, na Veneza (seca...) de 2059 - mais de um século depois - em que uma assassina misteriosa provoca a morte a duas pessoas por investigarem questões económicas. A forma como este terceiro relato se vai unir aos outros dois, permanece para já desconhecida..
Na narrativa, Jean-Yves Delitte vai saltitando entre as épocas, por vezes ao ritmo de apenas uma duas páginas para cada uma, o que implica que as respectivas acções vão avançando a um ritmo lento, deixando sempre mais perguntas no ar do que as respostas que vão fornecendo, aumentando o tom de mistério e prendendo o leitor à sua continuidade - e à originalidade dos pressupostos.
A nível gráfico, o autor revela um traço competente nos três níveis considerados - o interior claustrofóbico de um submarino submerso, o exotismo contido da selva amazónica e uma Veneza futurista e tecnológica. com os canais secos pelo uso de represas - que caracteriza e distingue pelos sombrios azuis acinzentados que predominam no primeiro, os verdes mortiços da selva no segundo e os laranjas suaves dos tijolos dos edifícios que predominam na metrópole italiana, mas conseguindo uma curiosa uniformidade cromática ao longo de todo o livro. Ainda a nível gráfico, para já fica por explicar o motivo de algumas pranchas apresentarem o fundo negro e outras branco, com exemplos de ambos os fundos nas três épocas...
À edição da ASA, com uma encadernação sólida, em capa dura, papel brilhante e boa impressão - a um preço ainda bem convidativo - tem sido apontada uma legendagem menos feliz, devido à fonte utilizada. Apesar de próxima da legendagem original - na disposição nos balões - a fonte usada na edição portuguesa é mais estreita e esticada, revelando-se de leitura algo difícil nalguns casos, nomeadamente em balões de maior dimensão.
Espero que este reparo - que se junta a outras vozes - ainda vá a tempo de uma melhor opção para os próximos volumes.
U-Boot
#1 Doutor Mengel
Jean-Yves
Delitte
ASA/Público
Portugal,
28
de Junho de 2022
240
x 320 mm, 48
p., cor,
capa dura
10,90
€
(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nesta ligação para apreciar mais pranchas ou saber mais sobre esta colecção ou nas aqui reproduzidas para as apreciar em toda a sua extensão)
Ao ler o primeiro volume, não fiquei com a ideia que o tema seja bélico!...
ResponderEliminarComo diz o Pedro, infelizmente os editores nacionais prestam muita pouca atenção á balonagem e ao design tipográfico das obras que editam, Salvo algumas honrosas excepções, o conceito de design tipográfico (umas vez por desconhecimento ou ignorância, outras por falta de disponibilidade financeira e temporal) está quase ausente. É urgente rectificar este aspecto crucial...
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