Negro e neve
Uma pequena aldeia perdida algures numa zona montanhosa vive atemorizada por uma fera que caça nas suas imediações. O problema agrava-se quando a besta começa a caçar os homens.
O inspector Tarpon é destacado à paisana e de forma anónima para investigar o caso, mas numa pequena localidade onde todos se conhecem, o anonimato dura pouco. E se já era olhado de soslaio como estranho, ao descobrirem quem é, os habitantes locais apenas aumentam a sua desconfiança.
A situação, já de si incómoda, torna-se mais complicada quando um forte nevão isola a aldeia, obrigando todos a uma convivência forçada e impedindo o inspector de a deixar. O que lhe vai permitir estreitar laços com Sarah, uma jovem pintora que parece deslocada - e à parte - numa aldeia de população envelhecida.
Entretanto, as mortes vão-se sucedendo mas a alcateia de lobos que a neve aproximara do povoado e era dada por culpada, começa a ser vista como inocente, dada a forma selvagem e bestial como as sucessivas vítimas são encontradas, começando a população a apontar baterias para um... lobisomem - o que só vai aumentar o clima de medo reinante.
Por tudo isto, La Bestia, mais do que um belo policial de final surpreendente, é uma análise sociológica do que move e afecta o ser humano.
Os receios, a desconfiança do desconhecido, a busca de soluções fantásticas para o (que parece) inexplicável, vêm ao de cima e tornam quase insuportável o clima tenso e opressivo que se adensa, quando pessoas, com segredos e inimizades latentes, não conseguem sair do pequeno espaço a que foram confinadas pelos elementos. E tudo apresentado com um ritmo pausado, que dá ao leitor tempo para respirar e para se deter nas belas pranchas de Chaboutè.Porque, aproveitando o negrume da história para o tingir com o branco da neve imaculada - ou será o contrário...? - o desenhador exibe mais uma vez o seu virtuosismo e o poderio narrativo do seu preto e branco contrastante, sublime no retrato das paisagens cobertas de neve e assertivo na definição deformada da fisionomia e dos corpos dos participantes, acentuando a dureza do relato, só quebrado aqui e ali pelo tratamento mais doce e suave dado a Sarah.
La
Bestia
Chabouté
Kraken
ediciones
Espanha,
2009
190
x
240
mm,
148
p.,
pb,
capa cartão
(imagens disponibilizadas pelo site Todocoleccion; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Para quando outro Chabouté em Portugal? Os editores nacionais andam distraídos?,,,
ResponderEliminarNo que respeita a Chanouté, infelizmente andam...
EliminarBoas leituras!