Ágil como um felino, o detective...
Escrevia
eu há 20 anos no Jornal de Notícias de 17 de Setembro:
‘Tal
como o western,
também
o policial tem sido ciclicamente reinventado, situando a acção em
passados históricos ou futuros imaginários, ou através de novos
protagonistas, sejam eles homens ou mulheres, detectives particulares
ou polícias oficiais, musculosos ou de grande capacidade dedutiva. E
esta reinvenção pode acontecer, mesmo quando a história contada já
o foi centena ou milhares de vezes, como é o caso de Blacksad
#1 - Algures entre as sombras.
Nele, a história, escrita pelo espanhol Juan Diaz Canales, gira à volta do assassinato de uma bela actriz, que passou a andar com companhias pouco recomendáveis após ter sido deixada pelo herói da história, um detective privado que não goza das melhores relações com lei, embora possam cooperar no interesse mútuo.
"Então", pensa o leitor, "se a história - que realmente parece seguir os clichés do género - não é o grande trunfo do álbum, este deve destacar-se pelo seu desenho. Juanjo Guarnido assina em Blacksad uma obra de encher o olho, com um excelente desenho onde, em especial ao nível do ritmo que imprime à narrativa, se notam influências do seu trabalho como animador nos Estúdios Disney.
"Mas pode um desenho, por muito vistoso, espectacular ou ritmado que seja, ser responsável pela reinvenção de um género literário com tantas tradições como o policial?" volta a interrogar-se o leitor.
Sim, escrevo eu. E sim, porque há um pormenor que ainda não referi. Em Blacksad, as personagens são animais antropomorfizados, e este é o toque de génio que torna a obra diferente e de leitura obrigatória.
Porque, em Blacksad, o detective ágil como um felino de que fala o título deste artigo é um... gato; os duros que o enfrentam são, logicamente... gorilas (ou ursos pardos, ou rinocerontes), a bela e sensual actriz é uma gata, e por aí adiante, com alguns verdadeiros achados que deixo ao leitor descobrir, para que a leitura de Blacksad o possa surpreender.'
Vinte anos depois, o regresso a esta obra é dúbio, sem que deixe de ser um belíssimo reencontro. Por um lado, porque sei que Guarnido, hoje, desenha (ainda) melhor; por outro, porque as técnicas de impressão e o apurado cuidado que a Ala dos Livros coloca nas suas edições são garantia de uma obra fisicamente a outro nível - formato generoso, lombada em tela... - como dificilmente seria possível entre nós em 2002. Para mais, porque a editora fez-nos o favor e o agrado de incluir nela a famosa História das Aguarelas, uma longa e minuciosa explicação do desenhador sobre o seu método de trabalho, ilustrada com o layout das pranchas a aguarela em que se costuma basear.
Blacksad
#1:
Algures
entre as sombras
Juan
Díaz Canales (argumento)
Juanjo
Guarnido (desenho e cor)
Ala
dos Livros
Portugal,
Junho
de
2022
235
x 310
mm,
80
p.,
cor, capa dura
25,00
€
(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para desfrutar de mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as apreciar em toda a sua extensão)
Embora já possuísse a história (Asa/Público 2008) não deixei de comprar esta excelente edição da Ala dos Livros. Para mim, Diaz Canalès é um desenhador único, pertence já à galeria dos imortais. O livro esteve previsto para Janeiro, entretanto adquiri-o em leilão e sai agora em venda. O Pedro sabe o que se passou ?
ResponderEliminarO livro era para sair em Janeiro, mas quando a edição foi entregue, a editora detectou um erro e devolveu-a à gráfica. No entanto, alguns exemplares ainda foram vendidos online pela Ala dos Livros.
EliminarO livro só saiu efectivamente agora quando foi possível encontrar de novo o tipo de papel que era pretendido para esta edição.
Boas leituras!
Obrigado pela rápida resposta. Eu adquiri o livro no We-R-Comics Leilões de Comics e BD e têm aparecido mais exemplares do mesmo vendedor. Deduzo que o meu exemplar tem um erro. Qual ? O Pedro sabe ?
EliminarNão sei, mas é um exemplar a guardar pela sua raridade! ;)
EliminarBoas leituras!
"Diaz Canalès é um desenhador único". Só agora reparei na grande gaffe. Vertigem do copy/paste, paste/copy. Claro que me referia a Juanjo Guarnido
ResponderEliminarA História das Aguarelas é em algum modo diferente da Os Bastidores do Inquérito?
ResponderEliminarA História das Aguarelas tem apenas as aguarelas que serviram de base à planificação e à definição dos tons das cenas e respectivos comentários.
EliminarOs Bastidores do Inquérito é muito mais completo e inclusive inclui todas (?) as aguarelas, embora não como base da obra.
Boas leituras!