Depois de Giant
(Ala dos Livros, 2021), em que nos mostrou o (elevado) ponto de vista
dos trabalhadores que construíram os imponentes arranha-céus
nova-iorquinos, Mikaël leva-nos de novo até à Grande Maçã para
nos mergulhar no mundo dos Bootblack,
os engraxadores adolescentes.
Nos conturbados anos 1920 e 30, entre a invasão de emigrantes
italianos, irlandeses, polacos… e a Grande Depressão provocada
pelo
crash da
bolsa, o autor traça um retrato
desiludido e negro - como a graxa que os miúdos aplicam nos sapatos
dos ricos - de uma terra sonhada que rapidamente se transforma em
pesadelo.
Existe
uma fotografia muito famosa, da década de 1930, de autoria nebulosa,
que mostra uma série de operários
sentados numa viga metálica suspensa sobre o vazio a grande altura,
durante a construção do Rockfeller Center. A partir dela, o
canadiano Mikaël criou uma narrativa sobre ilusões e sonhos
perdidos, sobre passados complicados e futuros incertos, baseada
naqueles homens anónimos. Deu-lhe o título de Giant.
História sensível, humana e documental, Giant – gigante,
devido à estatura do seu protagonista – é uma das boas surpresas do primeiro
semestre de 2017.