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20/10/2023

Tex #638-#644 + Júlia #9

(Sem) regras (n)e(m) princípios

Qualquer série de banda desenhada (o que me interessa no presente caso) obedece a um determinado número de regras e princípios.
São eles definem o que a série é, que lhe dão consistência e continuidade e que permitem ao leitor saber o que deve esperar quando se abeira dela - é isso que faz dele leitor fiel (ou não).
Paradoxalmente, a quebra dessas regras ou os desvios a esses princípios não são necessariamente negativos e, nalguns casos, até podem (e)levar a sua leitura a um outro nível.

19/03/2021

Tex Edição Especial Colorida #14

O tamanho, o tamanho...


Regresso ao tema das histórias curtas, com duas afirmações que sei que podem ser polémicas:
- É possível uma história curta transmitir tanto prazer ao leitor quanto uma história longa;
- Uma história curta pode dar tanto ou mais trabalho (a escrever) que uma longa.
Justifico-me já a seguir.

25/11/2020

Tex #600

Dar consistência


Um aspecto evidente no trabalho editorial de Tex nos últimos anos, é o objectivo de dar à série uma consistência histórica, ordenando uma 'cronologia' que até então era praticamente inexistente. Por um lado.

Por outro, há uma óbvia opção por recuperar personagens que de alguma forma foram marcantes pelo tempo de uma história - ou pouco mais - apelando à memória e à nostalgia dos leitores mais antigos - e conseguindo assim, quem sabe, recuperar alguns que com o tempo se foram perdendo.

É o acontece neste significativo - pela marca alcançada - Tex #600 - #700, em Itália.

20/06/2018

Tex: O Sinal de Yama

  
Semana do Western IV

Já o escrevi mais de uma vez. Descobri Tex na adolescência - em edições emprestadas. Não sei quantas li mas, curiosamente - digo eu agora - a imagem que me ficou deste western tradicional, foram os confrontos fantásticos do ranger e dos seus pards com a dupla de feiticeiros Mefisto/Yama, pai e filho. É o pretexto para trazer o ranger da Bonelli a esta ‘Semana do Western’ de As Leituras do Pedro - onde ele na verdade não podia faltar.

07/06/2018

Mister No: OVNIS na Amazónia

Actualidade

Pode soar estranho atribuir a este texto o título Actualidade quando o tema é - parece ser - OVNIS, mas quando Tiziano Sclavi o escreveu, em meados da década de 80, ia ao encontro de uma das grandes curiosidades do leitor comum. Desenvolver a narrativa à sombra da Guerra Fria - também no topo da actualidade - reforça aquela ideia, bem como - num contexto temporal diferente - colocar o enfase da trama na corrida espacial que opunha EUA e URSS na década de 50, em que a história decorre.

02/03/2016

Tex: A barca das traições





Editar é sempre uma aventura perigosa – mesmo no caso de uma personagem como Tex – e quem o esquece, tomando por certo o que muito raramente é, arrisca-se a ter grandes dores de cabeça.
A colecção italiana Tex Color – que a Mythos reproduz como Tex Especial Colorido – mostra como a Sergio Bonelli Editore está ciente do que atrás ficou escrito.

12/08/2013

Tex Edição de Ouro #63: O Retorno do Tigre Negro








Nizzi (argumento)
Civitelli (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Novembro de 2012
135 x 175 mm, 284 p., pb, brochado
R$ 18,90 / 9,00 €



Se a presença de mortos-vivos foi o pretexto – desnecessário – para a recente evocação de Mágico Vento aqui nas minhas leituras, uma coincidência levou-me a, em pouco tempo, deparar com outro herói Bonelli às voltas com zombies, no caso presente o insuspeito Tex Willer, numa edição actualmente disponível nas bancas e quiosques portugueses.
Esta história, no entanto, fica também marcada por outras notas distintivas em relação ao que é habitual nas aventuras do ranger: a troca das montanhas e planícies do Oeste selvagem pelas ruas de Nova Orleães – onde Tex e os seus habituais companheiros, nos trajes tradicionais, destoam menos do que seria de esperar – sem que os seus métodos duros sejam postos de lado, mesmo numa trama mais próxima da investigação policial do que do western puro que o costuma caracterizar, ou o retorno de um dos raros inimigos recorrentes de Tex, o Tigre Negro, protagonista na sombra de uma história em que ronda as suas presas, aproximando-se cada vez mais delas até (quase) desfechar o golpe final e decisivo.
Tudo numa narrativa longa, bem construída por Claudio Nizzi, que conta com a belíssima arte de Fabio Civitelli, que mais uma vez demonstra a sua mestria no estilo realista e na aplicação da técnica de pontilhado, quer na representação dos espaços urbanos de Nova Orleães, quer na caracterização das zonas pantanosas que se encontram nos seus subúrbios e onde tem lugar o desenlace do relato.



05/02/2013

Tex Gigante #27 - A Cavalgada do Morto









Mauro Boselli (argumento)
Fabio Civitelli (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2012)
185 x 275 mm, 242 p., pb, brochado
R$ 19,00 / 10,00 €



Resumo
A morte em condições enigmáticas de um antigo ranger, seguida da aparição de um pretenso cavaleiro sem cabeça, leva Tex, Kit Carson, Kit Willer e Jack Tigre a regressar a Pilares, correspondendo a um convite do seu amigo El Mourisco. 
Irão descobrir uma antiga história, violenta e trágica, na origem de uma vingança que deverão impedir a todo o custo.

Desenvolvimento
Embora a alguns isto possa soar estranho, a verdade é que este era um dos livros aos quadradinhos mais aguardados de 2012. Dentro do seu segmento específico, evidentemente, que, diga-se, pela sua dimensão, está longe de ser negligenciável, mas também fora dele. E não só porque estamos em presença de um “Textone” (o nome original dos “Tex Gigante” em Itália).
Tal como acontece recorrentemente noutras áreas temáticas da BD, a expectativa devia-se primordialmente à sua parte gráfica, ou não fosse Fabio Civitelli, sem dúvida o mais categorizado desenhador de Tex dos últimos anos, o escolhido para ilustrar este livro.
E o mínimo que se poderá dizer, é que o artista italiano não defraudou os seus fãs nem as esperanças nele depositadas. Ajudado pelo formato do álbum, o seu desenho brilha mais, pois permite realçar a qualidade e a precisão do seu traço fino e expressivo, apreciar o realismo com que retrata tanto cenários urbanos, quanto paisagens desertas ou zonas montanhosas, fogosos cavalos ou seres humanos. (E aqui justifica-se um aparte para realçar as mulheres de Civitelli – e elas têm um pouco mais de protagonismo neste Tex Gigante do que é habitual – o que faz desejar a sua arte numa série em que elas tivessem presença mais destacada).
Amante da precisão, do detalhe, do pormenor, do rigor e da qualidade, Civitelli brilha a grande altura e com ele a técnica que desenvolveu ao longo de muitos anos a desenhar o ranger Bonelli. E, neste campo, revela-se insuperável o pontilhismo que utiliza para definir sombras, volumes e ambientes nublados ou noturnos, sendo justo destacar a longa sequência passada no interior da montanha, no cemitério índio, onde a névoa e a escuridão são quase palpáveis à bruxuleante luz das tochas.
Quanto à história em si – que apesar de tudo o que para trás fica não pode ser passada para segundo plano, pois isso faria desta BD uma obra menor – é consistente e está bem construída. Os avanços narrativos são feitos de forma calculada, com mudanças de local e de protagonistas em cada pico de acção ou suspense, quase como se se tratasse de capítulos a publicar numa revista – o que ajuda a embarcar o leitor no tom predominante.
É verdade que tem uma longa introdução – talvez demasiado longa, defeito recorrente em Tex – que condiciona uma equilibrada exploração do desfecho, mas é ela que contextualiza e explica a restante acção e a origem do morto sem cabeça que cavalga à noite como lúgubre premonição para aqueles a quem irá tirar a vida.
Cavaleiro sem cabeça (literalmente?) esse que está na origem do (pouco vulgar) tom fantástico que a história assume, a espaços próximo mesmo do suspense e do terror – visível na fantasmagórica aparição ou na viagem ao além de Eusébio e cujo auge se divide entre a já citada (e conseguida) cena no cemitério índio e o confronto final - e que é a nota distintiva do relato.

A reter
- O desenho de Civitelli, (não) suficientemente elogiado acima.
- O (inusitado) tom fantástico da história.
- Para todos os efeitos, o curto intervalo entre a publicação original e o lançamento desta edição no Brasil.

Menos conseguido
- O final algo abrupto, o que infelizmente não é novidade nem em Tex, nem em Tex Gigante.

Nota final
- A utilização de imagens em italiano, provenientes directamente de Fabio Civitelli (via Tex Willer Blog) deve-se ao facto de terem uma qualidade muito superior à que poderia obter num scanner a partir da edição brasileira.

24/05/2011

Tex Especial Civitelli #1

O Presságio
Claudio Nizzi (argumento)
Fabio Civitelli (argumento e desenho)
Mythos (Brasil, Outubro de 2010)
135x175 mm, 336 p., pb, brochado, 10 €


1. A cronologia não o revela mas a verdade é que uma vez concluída a leitura de O Oeste Segundo Civitelli, a vontade de ler algo desenhado por aquele autor foi irresistível.
2. Na pilha de leituras por fazer estava este tomo inicial da colecção Tex Especial Civitelli, que correspondia aquele pressuposto.
3. Para além disso, tinha dois outros atractivos: permitia ler a versão integral integral de uma das bandas desenhadas exploradas naquele livro teórico…
4. … e tinha também Civitelli como co-autor do argumento.
5. Algo raro na casa Bonelli, o que fazia deste Tex um dos exemplos mais próximos de “BD de autor” na cronologia do ranger, talvez só comparável aos volumes que integram a colecção Tex Gigante - que, no entanto, o desenhador nunca escreve….
6. E, se Civitelli é há muitos anos o grande desenhador de Tex, mostra neste O Presságio que poderia ser também um bom argumentista das histórias do ranger, não fosse aquela actividade demasiado absorvente.

7. A história, é sólida, sem pontas soltas, credível e ritmada e segue a estrutura normal deste western e alguns dos seus clichés – a vingança de um índio invejoso do prestígio de Águia da Noite, ataques a ranchos, militares corruptos ávidos de sangue, glória e dinheiro, a prisão de Tex sob falsa acusação, a amizade insuperável entre os protagonistas, diversos confrontos directos ou tiroteios, perseguições a cavalo, um longo e disputado duelo à faca…
8. … embora revele também algumas nuances que marcam a diferença.
9. Desde logo, o toque fantástico dado pela visão inicial (o presságio que o título refere) embora a sua concretização se revele demasiado cedo.
10. Depois, pelo (quase) envolvimento romântico de Tex com a bela viúva Alison (que completa o luto muito rapidamente, convenhamos…), o que levou muitos “texianos empedernidos” a suspirar por uma segunda senhora Willer.
11. Também, porque a sua extensão permitiu aprofundar o carácter das personagens secundárias, prolongar as cenas mais importantes, deixar respirar a narrativa quando era necessário, dando maior consistência ao todo e um outro fôlego à obra.
12. Escrito isto, volto à minha “guerra antiga” com a Mythos: este seria outros dos volumes a merecer uma edição em formato maior…
13. Sei que o mercado brasileiro recusou – por exemplo – a reedição em formato italiano do Almanaque Tex – mas os mercados também se educam…
14. Para além disso, as características de uma e outra edição são bem diferentes e a presença de Civitelli em São Paulo, quando esta foi lançada, poder-lhe-ia ter dado o impulso necessário…
15. Porque, graficamente – e a comparação das suas pranchas com as publicadas em O Oeste Segundo Civitelli prova-o – o traço do italiano merecia outro formato, maior, para poder ser melhor apreciado
16. Por algumas (poucas) liberdades em termos de planificação, pelo jogo de luz e sombra, pelo pontilhado que define os volumes, pelo traço fino e delicado, pela excelente gestão de grandes planos e de perspectivas mais ousadas, pela expressividade dos rostos, pela dinâmica das cenas, pelo realismo dos cenários, urbanos ou selvagens, pela bela Alison…

(Texto publicado originalmente em 18 de Maio de 2011, no Tex Willer Blog)

05/04/2011

O oeste segundo Civitelli

Do renomado desenhista de Tex
Vários autores
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2010)
205 x 275 mm, 152 p., pb e cor, brochado com badanas, 17,50 €


Resumo
Dedicado a Tex e a Fabio Civitelli, possivelmente o mais conhecido e aclamado desenhador actual – há já mais de 25 anos! – do ranger, este livro, originalmente publicado em Itália pela livraria especializada Little Nemo, contém diversos textos daqueles que com ele trabalham – Sergio Bonelli, Claudio Nizzi -, uma longa e detalhada entrevista conduzida por Giuseppe Pollicelli, pranchas comentadas pelo autor, a apreciação de todas as histórias de Tex por diversas personalidades ligadas aos quadradinho italianos e pelo próprio Civitelli, um extenso portfolio e ainda a história “O Duelo”, escrita por Nizzi e desenhada e colorida por Civitelli.


Desenvolvimento
Ao longo dos anos que levo ligado à banda desenhada tive oportunidade de conhecer muitos autores. De descobrir alguns, de confirmar outros, de ser surpreendido por uns poucos.
Conheci autores nacionais e estrangeiros, simpáticos e insuportáveis, megalómanos e humildes. A alguns vi o êxito subir à cabeça, a outros admirei a forma como o sucesso não os afectou em nada.
Nalguns casos, tive o privilégio de conhecer nomes (que reconheci depois) grandes dos quadradinhos, que à partida não me motivavam especialmente. Maurício de Sousa, foi um deles. Fabio Civitelli foi outro.
A oportunidade de conhecer pessoalmente um e outro, permitiu-me descobrir criadores apaixonados pela sua linguagem – os quadradinhos –, pela sua arte – a combinação de escrita e desenho -, pelas suas personagens – a Turma da Mônica, no primeiro caso, Tex, no segundo.
Com ambos aprendi a (re)descobrir heróis que faziam parte das minhas leituras, a abordá-los e a vê-los sob prismas que até aí me escapavam.
Tudo isto surgiu-me com a leitura deste livro – deste belo livro – “O Oeste segundo Civitelli” - e na sequência do contacto pessoal com o desenhador italiano no Festival de Beja do ano passado, após troca (por intermédio do incansável José Carlos Francisco) de algumas perguntas e respostas.
Uma breve conversa e uma longa entrevista - ainda por transcrever, mea culpa – juntamente com a leitura mais recente deste livro, foram oportunidade de descobrir, de (re)conhecer um autor apaixonado pela sua obra. Um autor que faz dela arte, mesmo que alguns a (des)qualifiquem (tentando diminui-la) como popular. Um autor que, ao trabalhar em Tex, cumpriu um sonho de sempre e que continua a cumprir diariamente esse sonho.
Isso é por demais evidente nas páginas deste tomo, onde Civitelli narra, explica, detalha, aprofunda vinhetas, tiras, pranchas que ao longo dos anos teve o privilégio e o prazer - esse é por demais evidente nas suas palavras – de criar.
Explica opções gráficas e cénicas, detalha técnicas e materiais, conta pormenores, episódios, pequenas anedotas, transforma numa pequena (grande) aventura a (re)descoberta pelo leitor das pranchas que possivelmente já (re)leu. E deslumbra pelo realismo, o pormenor, a beleza, a qualidade das suas ilustrações.
Uma abordagem simples, apaixonada, emocionada e sentida de um criador à sua criação, abrindo-se, revelando-se - dando-se - ao leitor.
Confesso que depois de o ler, o Tex de Civitelli tem para mim outra dimensão…

A reter
- O belíssimo traço de Civitelli.
- A dimensão humana que perpassa todo o livro.


Menos conseguido
- Dadas as características do livro (tamanho, preço, tiragem curta) que na prática impossibilitam a sua distribuição em bancas, ele não estará à venda em Portugal. O que não tem que significar que os leitores portugueses que o desejarem não o possam adquirir. Fica o pedido à Mythos (ao José Carlos Francisco?) que indique como.


(Texto publicado originalmente no Tex Willer Blog, a 28 de Março de 2011)

04/01/2011

Tex #487 – A Grande Sede e #488 - Jogos de Poder

Manfredi (argumento)
Civitelli (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Maio e Junho de 2010)
135x175 mm, 114 p., pb, brochado, mensal
A principal nota deste Tex, é o facto de ter juntado um bom argumentista, um bom desenhador e um herói clássico. O que à partida não é – nunca foi, nunca será - garantia de uma boa BD.
Por um lado, temos o argumentista, Gianfranco Manfredi, criador da saga de Mágico Vento, que usou para esta narrativa protagonizada por Tex uma sólida base histórica, invulgar nas histórias do ranger.

Por isso, como trama central desta aventura surge a disputa da água na zona de Phoenix, entre uma companhia gerida pelo pouco escrupuloso Lansdale e os agricultores locais, brancos, índios e mexicanos (ou seja, o inevitável choque entre a tradição e o progresso fomentado pela cupidez, com algum racismo e preconceito à mistura). E, para além disso, humaniza de alguma forma o protagonista, que surge aqui mais astuto (veja-se, o estratagema final para devolver a água aos agricultores) e menos dependente dos seus punhos e da sua capacidade de atirador, tornando mais credível a história, sem no entanto descaracterizar o herói.
Por outro lado, o artista escolhido, Fabio Civitelli, sem dúvida o “grande desenhador” de Tex dos últimos anos, apresenta mais uma história trabalhada de forma superior, com o seu traço fino e detalhado, o recurso a sombras, tramas e pontilhados, uma planificação diversificada, com a utilização de diferentes pontos de vista, rostos expressivos e a soberba representação dos cavalos, o que origina algumas cenas antológicas, com destaque para a emboscada organizada por Lansdale (Tex #488, pp. 54-80).
No caso presente, no final da leitura de mais um western bem delineado e definido, se não estamos face a uma obra-prima e se ambos os autores – e também Tex – já foram mais felizes, a verdade é que o saldo é positivo e o leitor tem motivos suficientes para se sentir satisfeito. Embora seja verdade que as premissas iniciais permitiam aspirar a mais.


(Texto publicado originalmente a no Tex Willer Blog)
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