Pode soar estranho
atribuir a este texto o título Actualidade
quando o tema é - parece ser - OVNIS, mas quando Tiziano Sclavi o escreveu, em
meados da década de 80, ia ao encontro de uma das grandes curiosidades do leitor
comum. Desenvolver a narrativa à sombra da Guerra Fria - também no topo da
actualidade - reforça aquela ideia, bem como - num contexto temporal diferente
- colocar o enfase da trama na corrida espacial que opunha EUA e URSS na década
de 50, em que a história decorre.
Mister No, aliás
Jerry Drake, é um antigo piloto norte-americano que, após a II Guerra Mundial,
desiludido com a humanidade, decidiu ir viver para a Amazónia, sobrevivendo dos
pequenos biscates que vai fazendo com o seu pequeno avião.
OVNIS, arranca com um choque entre ele e um objecto voador não
identificado - a própria definição em si, que pode, deve, ser sempre
considerada num âmbito mais vasto que o simples veículo não terrestre - e leva
Mister No a encontrar-se sozinho, perdido, em plena selva amazónica. Uma tribo de
índios que o quer sacrificar e o encontro com um cosmonauta russo, são outros
dos ingredientes de uma história dinâmica, bem-humorada de forma inteligente e
que mostra o ridículo - tantas vezes - das posições políticas radicais e dos
preconceitos e o valor inigualável da amizade e da cooperação.
Datada - pelas temáticas
já referidas - mas continuando perfeitamente legível nos dias de hoje - de
forma vantajosa se o leitor tiver o conhecimento do contexto aqui referido,
este é mais um belo exemplo da banda desenhada Bonelli, popular, essencialmente
de entretenimento e (quase sempre) com algo mais.
Actual, portanto.
Nota 1
Este volume inclui
uma segunda história curta, Garimpeiros,
escrita por Guido Nolitta - pseudónimo de Sergio Bonelli, ele mesmo, o criador
da personagem - mais próxima do tom geral da série, em que encontramos o
protagonista mais uma vez em plena selva, agora a braços com uma questão
familiar entre cunhados, provocada pela cupidez e a avareza.
Nota 2
Ovnis na Amazónia, tal como A Lenda de Tex, o volume inaugural desta colecção Bonelli, da Levoir com o jornal Público, ostenta uma capa original, criada especialmente
para este volume, desta vez por um autor com o estatuto de Fabio Civitelli - que assina também o desenho da história principal.
Tal não seria
possível - como toda a colecção em si, possivelmente - sem a intermediação
junto da Sergio Bonelli Editoree dos autores de José Carlos Francisco, por
estes dias um dos nomes a reter no que à BD Bonelli diz respeito, bem para lá
da sua faceta mais conhecida de colecionador.
Andarão enganados
os que pensam que a actual colecção Bonelli, da Levoir com o jornal Público marca a estreia destes heróis em
Portugal. Essa distinção também não cabe a Tex, alvo de várias edições recentes
pela Polvo, nem à passagem do ranger pela Colecção Clássicos da Banda Desenhada
- Série Ouro (Correio da Manhã/Devir, 2003/2004).
O primeiro herói
Bonelli editado no nosso país - os primeiros para ser mais exacto - foram este
mesmo Mister No e Zagor, em duas colecções com os seus nomes, lançadas pela
Portugal Press de Roussado Pinto
Zagor foi o primeiro,
em Agosto de 1978 - há quatro décadas já - seguindo-se Mister No em Dezembro do
mesmo ano. Com 16 e 12 edições respectivamente, eram revistas com 48 páginas,
próximas do formato original italiano, mas capazes de publicar as histórias tal
como tinham sido pensadas ou remontadas de forma inenarrável e penosa, tal como
eram igualmente a tradução e a legendagem.
Mister No
Colecção Bonelli #9
Capa exclusiva e inédita de
Fabio Civitelli
OVNIS na Amazónia
Tiziano Sclavi (argumento)
Fabio Civitelli (desenho)
Garimpeiros
Guido Nolitta (argumento)
Roberto Diso (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 7 de Junho de 2018
190 x 260 mm, 136 p., pb,
capa dura
10,90 €
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua
extensão)
Sem comentários:
Enviar um comentário