Censura
Uma das grandes vantagens destes
integrais - a par de disponibilizarem séries (mais ou menos)
clássicas em óptimas versões editoriais, superiores até às
originais - são os dossiers que abrem cada volume e ajudam os
leitores a mergulharem na História da edição franco-belga.
No caso presente, a introdução é
feita sobre o prisma da censura e as revelações são
surpreendentes.
Descobri Buck Danny na
adolescência e foi um dos heróis que me marcou. Hoje, ao relê-lo,
sei o que me espera: uma estrutura clássica de aventuras, com uma
forte base histórica e documental; a escrita de Charlier, por vezes
excessivo nos textos, mas capaz das mais surpreendentes reviravoltas;
a imbatibilidade do protagonista e dos seus companheiros recorrentes
Tumbler e Tuckson; a nota de humor ingénuo introduzida por este
último; uma clara distinção entre bons e maus, assente no heroísmo
dos primeiros e na covardia e traição dos segundos… mas também belíssimas sequências de combates aéreos.
Este integral, arranca praticamente
após as aventuras publicadas em Portugal, cronologicamente, desde o
primeiro tomo, pelo Mundo de Aventuras, e nele reencontramos
os três pilotos de volta à aviação norte-americana, após a
passagem pela aviação civil que se seguiu à desmobilização no
final da Segunda Guerra Mundial. Agora, embrenhado na Guerra da
Coreia, mais do que os ‘malditos amarelos’ Danny - ou Charlier,
Hubinon e a Dupuis na sua sombra - têm de se ver a braços com… a
censura francófona às publicações infanto-juvenis, na época
recém-instituída. Censura a redobrar, pela actualidade do tema - os
relatos são praticamente contemporâneos da guerra - e pelo facto de
Buck Danny ser uma criação belga, publicada numa revista, a Spirou,
igualmente belga. Com os franceses envolvidos na (real) Guerra da
Un avion n’est pas rentrée, em que a
linha condutora inicial é abandonada a meio, esquecendo-se o
misterioso avião inimigo que faz arrancar a história, e
prosseguindo o relato em ritmo de navegação à vista, entre as
peripécias patéticas de Tuckson e treino de um novo piloto com…
medo de voar.
Coreia, a atenção censória atingia extremos de requinte
completamente imbecis - aos nossos olhos - ao ponto de conseguir
fazer com que os autores inflectissem completamente o rumo das
histórias. Veja-se o que acontece, especialmente, na terceira
narrativa deste tomo,
A leitura do dossier inicial, para além
de explicar os porquês desta opção, inclui uma série de outras
curiosidades e factos históricos que nos devem fazer ficar gratos
por vivermos numa época em que a censura - este tipo de censura… -
não existe.
...o que não quer dizer que não haja
outros tipos...
Buck Danny:
L’intégrale #4
Inclui: Avions sans pilotes, Ciel de
Corée, Un avion n’est pas rentré e Patrouille à l’aube
Charlier
(argumento)
Hubinon
(desenho)
Dupuis
Bélgic, 2011
218 x300 mm, 252 p., cor, capa
dura
ISBN:
9782800151120
24,00 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
É pena que esta BD ainda não tenha sido editada, por que é um das melhores bandas desenhadas, quer no desenho bem como no texto.
ResponderEliminarPodia ser uma boa aposta para uma próxima coleção da ASA/Público...
ResponderEliminarDe facto.
ResponderEliminarAlguém próximo da asa poderia sugerir a coleção.
Só Do Charlier e do Victor Hubinon são 40 álbuns, e já vão em 55. Muito pouco provável, infelizmente.
ResponderEliminarLetrée
Podiam editar, como foi feito com os Túnicas Azuis 15/20 álbuns...
EliminarPor muito que os "saudosistas" gostem da coisa, é uma BD basicamente datada.
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