05/06/2018

Buck Danny, Lintégrale #4


Censura


Uma das grandes vantagens destes integrais - a par de disponibilizarem séries (mais ou menos) clássicas em óptimas versões editoriais, superiores até às originais - são os dossiers que abrem cada volume e ajudam os leitores a mergulharem na História da edição franco-belga.
No caso presente, a introdução é feita sobre o prisma da censura e as revelações são surpreendentes.
Descobri Buck Danny na adolescência e foi um dos heróis que me marcou. Hoje, ao relê-lo, sei o que me espera: uma estrutura clássica de aventuras, com uma forte base histórica e documental; a escrita de Charlier, por vezes excessivo nos textos, mas capaz das mais surpreendentes reviravoltas; a imbatibilidade do protagonista e dos seus companheiros recorrentes Tumbler e Tuckson; a nota de humor ingénuo introduzida por este último; uma clara distinção entre bons e maus, assente no heroísmo dos primeiros e na covardia e traição dos segundos… mas também belíssimas sequências de combates aéreos.
Este integral, arranca praticamente após as aventuras publicadas em Portugal, cronologicamente, desde o primeiro tomo, pelo Mundo de Aventuras, e nele reencontramos os três pilotos de volta à aviação norte-americana, após a passagem pela aviação civil que se seguiu à desmobilização no final da Segunda Guerra Mundial. Agora, embrenhado na Guerra da Coreia, mais do que os ‘malditos amarelos’ Danny - ou Charlier, Hubinon e a Dupuis na sua sombra - têm de se ver a braços com… a censura francófona às publicações infanto-juvenis, na época recém-instituída. Censura a redobrar, pela actualidade do tema - os relatos são praticamente contemporâneos da guerra - e pelo facto de Buck Danny ser uma criação belga, publicada numa revista, a Spirou, igualmente belga. Com os franceses envolvidos na (real) Guerra da Un avion n’est pas rentrée, em que a linha condutora inicial é abandonada a meio, esquecendo-se o misterioso avião inimigo que faz arrancar a história, e prosseguindo o relato em ritmo de navegação à vista, entre as peripécias patéticas de Tuckson e treino de um novo piloto com… medo de voar.
Coreia, a atenção censória atingia extremos de requinte completamente imbecis - aos nossos olhos - ao ponto de conseguir fazer com que os autores inflectissem completamente o rumo das histórias. Veja-se o que acontece, especialmente, na terceira narrativa deste tomo,
A leitura do dossier inicial, para além de explicar os porquês desta opção, inclui uma série de outras curiosidades e factos históricos que nos devem fazer ficar gratos por vivermos numa época em que a censura - este tipo de censura… - não existe.
...o que não quer dizer que não haja outros tipos...

Buck Danny: L’intégrale #4
Inclui: Avions sans pilotes, Ciel de Corée, Un avion n’est pas rentré e Patrouille à l’aube
Charlier (argumento)
Hubinon (desenho)
Dupuis
Bélgic, 2011
218 x300 mm, 252 p., cor, capa dura
ISBN: 9782800151120
24,00 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

6 comentários:

  1. Anónimo5/6/18 14:31

    É pena que esta BD ainda não tenha sido editada, por que é um das melhores bandas desenhadas, quer no desenho bem como no texto.

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  2. Anónimo5/6/18 16:17

    Podia ser uma boa aposta para uma próxima coleção da ASA/Público...

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  3. De facto.
    Alguém próximo da asa poderia sugerir a coleção.

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  4. Só Do Charlier e do Victor Hubinon são 40 álbuns, e já vão em 55. Muito pouco provável, infelizmente.

    Letrée

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    Respostas
    1. Anónimo6/6/18 09:08

      Podiam editar, como foi feito com os Túnicas Azuis 15/20 álbuns...

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  5. Por muito que os "saudosistas" gostem da coisa, é uma BD basicamente datada.

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