Projecto de um número
especial da revista Spirou em 2018, posteriormente recuperado
neste formato álbum, Spirou
- Défenseur des Droits de l'Homme revelou-se
uma agradável surpresa, pela actualidade e pela forma como aborda o
tema.
Autor
de duas obras-primas da banda desenhada contemporânea - Diário de um ingénuo
e os 4 tomos de A esperança nunca morre...
- Émile Bravo deixou a um nível altíssimo - dificilmente
alcançável? - a fasquia dos Spirou de autor. Mas
a verdade é que há vida para além dele.
Peço
desculpa a quem pensou que ia ler
uma opinião sobre este álbum que,
subitamente,
ganhou mediatismo devido à decisão da editora Dupuis de o retirar
do mercado. Não é o caso. Na
minha lista há
muito, como admirador de Dany que sou, não cheguei - infelizmente -
a comprá-lo e nunca o li.
Apresentada
aos portugueses pela Booktree, de forma incompleta e caótica - dois
volumes (ver nota no final) -
Soda
é, acho que o posso escrever, uma daquelas séries que não contava
encontrar nas páginas da
Spirou,
pelo seu tom mais violento, amoral e adulto.
Um
dos argumentistas que marcou indelevelmente as últimas décadas, no
que à BD diz respeito, foi indubitavelmente Jean Van Hamme. Thorgal,
Blake e Mortimer, Western, Wayne Shelton, Os Mestres Cervejeiros,
História sem Heróis, Largo Winch, Lady S., Tony Stark, Corentin, O
Grande poder do Chninkel, Arlequin, XIII
são, entre séries e one-shots,
surgidas na memória ao correr dos dedos pelo teclado, uns poucos
exemplos do muito -
de bom e muito bom - que
os leitores de (boas) bandas desenhadas de aventuras lhe devem.
A minha
geração - possivelmente por influência da anterior, que viveu,
mesmo que à distância (e com a sombra guerra colonial de perto) os
efeitos
da II Guerra Mundial, sempre teve uma apetência especial por esta
temática.
Chamar a actualidade [acrescida após as recentes eleições europeias, já este texto estava escrito e agendado] a uma
ficção histórica como, apesar da sua base humorística, é a
série Les
Tuniques Bleues,
pode
parecer estranho, mas foi o
que fizeram Cauvin e Lambil neste
Capitain Nepel,
com
um subterfúgio que penso ser desnecessário
explicar,
mas que a temática escolhida irá esclarecer, eventualmente com a ajuda da visualização da segunda prancha aqui mostrada.
Querer
conhecer o passado para compreender o presente e poder prever o
futuro é apanágio nos seres humanos. E é-o também, naturalmente,
dos leitores de banda desenhada que gostam de descobrir a génese das
séries que acompanham e saber como se foi formando a galeria de
protagonistas. A
trilogia de leituras que trago hoje tem este ponto em comum: são o
princípio de algo, embora em moldes completamente dispares umas das
outras.
São diversas as referências ao nosso país ou até as cenas de bandas desenhadas que têm por cenário locais portugueses, feitas por autores estrangeiros.
Há
autores que na nossa mente ficam indelevelmente associados a uma obra
ou uma série. Para mim, no caso de Dany, ele é o criador gráfico
do maravilhoso universo de Rêverose, onde vivem Oliver Rameau,Colombe Tiradaille e todos os seus espantosos amigos. Por
isso, nunca lhe perdoei o que fez a Bernard Prince e nunca consegui
fechar nenhuma das suas propostas realistas sem ter (re)visto a bela
Colombe em cada uma das suas personagens femininas.
Buck
Danny
ocupa um lugar especial nas minhas memórias e na minha formação
enquanto leitor e ele, juntamente com Jerry
Spring(descoberto
poucas semanas antes, quando o Mundo
de Aventuras mudou
pela primeira vez de formato na chamada quinta série),
foram responsáveis por me introduzirem de forma mais consistente na
banda desenhada realista oriunda
da Spirou.
“Parar
é morrer”,
costuma dizer-se e o que se aplica aos seres humanos também serve
para as publicações periódicas. No
caso presente, três revistas - deixem que as designe assim -
actualmente à venda (nalguns locais) em Portugal cujos
modelos - há mais ou menos tempo em vigor, a diferentes níveis -
estão em mudança.
Conhecido
como criador e pai inspirado dos
Schtroumpfs, de Johan et Pirlouit e de
Benoit Bruisefer, Peyo legou-nos outra
criação, possivelmente menos mediatizada, mas à qual dedicou
muitos anos - de 1949 a 1991, embora com
grandes hiatos - e toda a sua capacidade
artística: Poussy, o gato.
Confessei
aqui alguma desilusão pela forma como Seuls
se foi desenvolvendo. Com um ponto de partida desafiante - o
desaparecimento de todos os adultos de uma cidade, Fortville - foi
aos poucos assumindo contornos (ainda) mais fantásticos. Essa
desilusão - que na altura classifiquei de parcial - fez com que o
regresso à série demorasse mais do que inicialmente previra, mas em
boa altura o fiz porque, iludidas as expectativas iniciais, avancei
de espírito aberto para ler mais quatro álbuns de uma das mais
desafiantes e intrigantes narrativas aos quadradinhos a que me
dediquei nos últimos anos.
...ou,
espero eu, simplesmente adiada. Porque, subintitular uma revista como
Le
meilleur des cent ans de Dupuis e
depois limitar o seu conteúdo apenas à última década, década e
meia
(ou pouco mais...) é,
no mínimo, enganar os leitores. Mas,
atenção! Isto não invalida que eu aconselhe - e muito! - a compra
deste número.
O
tempo passa a correr. Entre a compra do último álbum (português)
que faltava na minha colecção, a leitura 'integral' das histórias
cá publicadas e a satisfação do desejo de conhecer mais aventuras
de Yoko Tsuno, a
engenheira electrotécnica nipónica, passou mais de ano e meio, sem
que de tal me apercebesse realmente. Adequadamente,
este integral tem por título: À
la poursuite du temps...
Já
o escrevi por aqui: sendo esta revista uma espécie de mostruário do
(bom) catálogo de humor da Dupuis, o menor ou maior interesse de
cada edição está intimamente ligado aos dois álbuns completos
incluídos. Sendo
este um número dedicado aos schtroumpfs - e também por extensão a
Peyo - dificilmente poderia ser melhor, ou não incluísse ele um dos
álbuns fundadores da (fantástica) BD franco-belga dos anos 1960 e
uma aventura longa completa dos pequenos seres azuis. E
mais ainda.
Regresso
à Méga Spirou porque há um novo número disponível em alguns dos
quiosques e bancas nacionais e
porque me parece que é - ou pode ser - uma leitura a
um tempo descontraída,
interessante e diversificada.
O
modelo é muito simples: em quase 200 páginas com capa mole e papel
de jornal mas
de
gramagem superior, reúnem-se dois álbuns completos e (quase)
uma
centena de histórias
curtas
de séries diversas. É a Méga
Spirou que,
trimestralmente, faz de mostruário quer da própria
revista Spirou,
quer do catálogo da Dupuis, e
tem
distribuição (selectiva) em Portugal. Para
a editora, os custos são mínimos, uma vez que se trata de
republicações; para o leitor, são duas centenas de páginas de
BD a
um preço muito acessível.