Nas
asas da nostalgia
Buck Danny ocupa um lugar especial nas minhas memórias e na minha formação enquanto leitor e ele, juntamente com Jerry Spring (descoberto poucas semanas antes, quando o Mundo de Aventuras mudou pela primeira vez de formato na chamada quinta série), foram responsáveis por me introduzirem de forma mais consistente na banda desenhada realista oriunda da Spirou.
Foi no Mundo de Aventuras que acompanhei as andanças de Buck Danny na Segunda Grande Guerra - num misto estimulante de aventura entre a ficção e a História - depois desempregado como piloto por conta própria e até talvez um pouco mais ao longo dos anos.
Reencontrei-o, de forma esparsa e até um pouco anárquica, em alguns integrais desgarrados e ter toda a série neste formato compacto para uma leitura cronológica completa é um daqueles sonhos que acalento embora o sinta utópico.
É verdade que para lá da fase assinada pelos seus criadores, Jean-Marie Charlier e Victor Hubinon, não li mais nada. Nunca me senti tentado a fazê-lo, talvez temendo a desilusão e a destruição de belas memórias e fantásticos momentos de leitura. Ou melhor, nunca me tinha sentido tentado a ler nada posterior a Charlier/Hubinon até agora, quando este díptico Origines começou a ser elogiado de forma recorrente em variados quadrantes.
Com o engodo de permitir conhecer o passado de Buck Danny - também é esse o objetivo destes dois álbuns - e também com inegável pendor nostálgico, dispus-me então a ler esta obra de Yann e Giuseppe De Luca.
E a verdade, escrevo-o sem lamentar, é que (re)encontrei aqui em grande parte o herói aviador que recordava da minha juventude, quer graficamente, com De Luca a começar próximo do traço de Hubinon para aos poucos se assumir enquanto desenhador, quer em termos narrativos, pois Yann soube fazer muito bem a ponte com a versão original da personagem, evitando a verborreia de que Charlier fazia uso e abuso, mas ligando os momentos do presente a factos e momentos que a minha memória guardava e que eu agora (re)descobri. Em simultâneo, vai entremeando a ação actual do aviador, com os combates aéreos com os japoneses em destaque, com as suas recordações da adolescência e juventude, nomeadamente a vivência difícil após a grande depressão, os problemas de desemprego do pai, os choques cada vez vais constantes entre os seus progenitores, o primeiro amor e a paixão pelos aviões.Evidentemente, é lícito perguntar: era necessário contar esta história?
A resposta poética é que todas as histórias merecem ser contadas; a resposta mais fria é talvez não, mas a verdade é que ainda bem que Yann e De Luca a contaram, porque estas origens permitem distinguir o homem do aviador e o piloto do herói, e antever aquilo em que ele se iria transformar.
Por isso, fico grato aos dois autores por esta viagem a um passado que me proporcionou muitas horas de boas leituras, recheadas de nervos e adrenalina a rodos, e pela vontade suplementar que me deixaram de regressar às primeiras páginas de Os japoneses atacam e das muitas e trepidantes aventuras que se seguiram, embora reconheça ser humanamente impossível fazê-lo, em termos de tempo e de edições ainda por ler.
Buck
Danny: Origines #1 Le fils du vicking noir
Buck
Danny: Origines #2 Le pilote à l’aile brisée
Yann
(argumento)
Giuseppe
De Luca (desenho)
Dupuis
Bélgica,
Janeiro 2022/Março 2023
240
x 320 mm, 48 p., cor, capa dura (cada)
14,95
€/15,50 €
(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Para quando, uma editora nos contempla com a edição deste Grande Herói ?
ResponderEliminarIsso era muito bom!!!
ResponderEliminarNão sei se a fase clássica seria uma boa aposta e desconheço a fase moderna de Buck Danny, mas deste díptico gostei bastante e eventualmente poderia ser a forma ideal de testar a personagem junto dos potenciais leitores.
ResponderEliminarBoas leituras!
Buck Danny clássico só para puristas, são estórias muito básicas.
ResponderEliminarMas sim, eu vejo a possibilidade da fase moderna aparecer numa colecção ASA/Público, como fizeram com a publicação da fase moderna do Michel Vaillant.
Mas nesta possível colecção deviam publicar alguns clássicos também, obviamente, eu seria comprador, mas por favor em capa dura, detesto ver o livros tortos na prateleiras.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarEu não diria 'básicas' mas talvez 'datadas'.
EliminarE acho que o Buck Danny, infelizmente, não tem a popularidade do Michel Vaillant para merecer igual tratamento...
Concordo, o termo certo é "datadas".
EliminarTenho 8 integrais espanhóis (Ponent Mon) e são excelentes! Não considero nada básicos! O argumento é do grande Charlier!!!
ResponderEliminarFazendo a ponte com o "novo" Tanguy e Laverdure "classic" , os primeiros ainda com a colaboração do Charlier, posso dizer que me surpreendeu pela positiva
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