Simplicidade
O
modelo é muito simples: em quase 200 páginas com capa mole e papel
de jornal mas
de
gramagem superior, reúnem-se dois álbuns completos e (quase)
uma
centena de histórias
curtas
de séries diversas. É a Méga
Spirou que,
trimestralmente, faz de mostruário quer da própria
revista Spirou,
quer do catálogo da Dupuis, e
tem
distribuição (selectiva) em Portugal.
Para
a editora, os custos são mínimos, uma vez que se trata de
republicações; para o leitor, são duas centenas de páginas de
BD a
um preço muito acessível.
Na Méga Spirou o humor predomina - pontualmente há excepções, a maior parte das vezes relacionadas com os álbuns incluídos na publicação - especialmente através das histórias curtas, geralmente de uma página, mas que pontualmente podem chegar à meia dúzia de pranchas.
Numa selecção heterogénea e variada, a sensibilidade e gosto de cada um definirá a menor ou maior adesão à revista. Neste número, a reter, temos a genialidade de Imbattable, a delicadeza do traço de Crapule, o humor (re)conhecido de Petit Spirou, Cédric e Kid Paddle e os (sucessivamente) inesperados finais de Game Over. E ainda Capitaine Anchois, Dad, Green Manour, Kahl Pörth, Mamma Mia, Nelson, Tamara, Vacherie des Nombrils e Walter Appleduck, numa curiosa combinação de retrato social, imaginário infantil e fantástico que provoca sorrisos certos com regularidade e mesmo uma gargalhada, aqui e ali.
Quanto aos pratos fortes - que mais facilmente seduzirão o leitor ocasional - este número permitiu-me o reencontro com os Túnicas Azuis, no volume #33, Grumbler et Fils, que aborda a questão da poligamia entre os mormons, quando o cabo Blutch e o sargento Chesterfield são enviados para tentar convencer a seita a desistir daquela tradição, na sequência de um decreto presidencial. Não sendo dos tomos mais conseguidos da série, a leitura justifica-se porque Cauvin, mesmo menos inspirado, nunca é mau.
O segundo álbum completo é a estreia de Raowl (supostamente) em La Belle et l’Affreux. [Escrevi 'supostamente' porque as páginas do álbum disponíveis online não correspondem ao que é publicado nesta revista...]s
Nele, Tebo dá-nos uma versão demente mas muito divertida de A Bela e o Monstro, com canibais, fantasmas, espíritos e bastante mais, combinados com uma traço simples, dinâmico e expressivo e com um humor, piscadelas de olho, leituras de segundo grau e mesmo referências directas que mostram que esta série é bem mais adulta do que muitos poderiam ser levados a pensar.
Nota final
No final do século passado, a Meribérica testou um modelo equivalente em Portugal. Nos verões de 1998 e 1999 foram publicados dois números de Spirou - BD e Jogos, que reproduziam os números #6 e #8 do modelo francófono em publicação na época, que não incluía álbuns completos, tinha predomínio de histórias de meia dúzia de pranchas e umas quantas páginas de passatempos.
Possivelmente porque o preço era (proporcionalmente) mais elevado do que na origem - a versão portuguesa teve de pagar direitos… - e porque a maioria das séries apresentadas eram desconhecidas dos portugueses - poucas foram as criações humorísticas da Spirou belga que chegaram até nós - o modelo não vingou, o que não impede que não possa ser - mesmo hoje - uma leitura aconselhável e uma porta de entrada para universos que, em muitos casos, só dessa forma pudemos ler em português.
Méga
Spirou #25
Les
Tuniques Bleus #33: Grumbler et fils
Raoul
Cauvin
(argumento)
Willy
Lambil (desenho)
Raowl #1: La Belle et
l’Affreux
Tebo
Histórias curtas de
Imbattable,
Petit
Spirou,
Cédric,
Kid
Paddle,Game Over,
Capitaine
Anchois,
Dad,
Green
Manour,
Kahl
Pörth,
Mamma
Mia,
Nelson,
Tamara,
Vacherie
des Nombrils
e Walter
Appleduck
Vvaa
Dupuis
França,
10 de Março
de
2021
205
x 285
mm, 192
p., cor capa cartão,
trimestral
6,60
€
(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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