Cito, com uma ligeira nuance, a abertura de ontem: 'Num
ano em
que a edição em Portugal parece
rendida
ao western
- Undertaker,
Tex,
O último homem..., Lucky Luke... - Duke: Pistoleiro é o que serás
é mais uma edição para engrossar aquela (bela)
lista'.
E
é
mais uma obra de
Hermann, um dos grandes Autores que a banda desenhada me fez
descobrir, admirar, respeitar, seguir, mesmo quando está claramente
a entrar no seu ocaso.
E é mais uma obra de Hermann, um dos grandes Autores que a banda desenhada me fez descobrir, admirar, respeitar, seguir, mesmo quando está claramente a entrar no seu ocaso.
Devo muito a Hermann. Muitas horas de boas leituras. Primeiro, Comanche, uma das séries da minha vida; depois, o seu traço fabuloso e umas cores - muitas vezes directas - para as quais todos os adjectivos são curtos; finalmente, pelo tom de desencanto e desilusão que perpassa pelas suas obras - pelos seus heróis, ou anti-heróis, ou simples personagens...
Se Comanche é há muito um capítulo encerrado - felizmente - e se os seus protagonistas continuam fiéis ao seu autor, é na parte gráfica que o Hermann dos nosso dias está muito distante daquele que todos (um dia) admirámos.
Olhemos para este Pistoleiro tu serás - um belo título! A capa é péssima, a personagem de pé parece ter uma tábua dos ombros aos pés, a face da que está sentada é pavorosa; o vazio que as rodeia é pobre e desinteressante - pese embora o belo logótipo da série... No interior - vejam como as páginas de guarda são bem conseguidas - o mau tratamento da figura humana, em especial ao nível dos rostos prossegue e muitas delas não suportam um olhar minimamente atento.
Em termos de cor, felizmente, Hermann continua um Senhor. Atentem no trabalho a sépia das cenas do passado, sintam as sombras da noite, admirem os contrastes entre os tons ocres e amarelos das areias do deserto, com o azul do céu límpido; sacudam a poeira e descontraiam no verdejante pomar que serve de breve oásis quase no final do livro... Quantos autores na plena possa das suas capacidades são capazes de atingir o mesmo brilhantismo?
Finalmente, o relato. Esta é uma daquelas histórias nas quais nada parece acontecer, embora muito se passe, e no final da qual tudo parece estar na mesma: Duke e Swift prosseguem o seu caminho, com 100 mil dólares para pagar o resgate da sua amiga Peg, tal como na vinheta inicial.
No entanto, esta será, mesmo assim, uma conclusão errónea. Entre a primeira e a última vinheta, existe uma perseguição encarniçada, diversos confrontos, muitos mortos e uma misteriosa presença tutelar, que compõem de forma chamativa mais um capítulo deste western crepuscular. E, acima de tudo, Duke faz - e com ele os seus leitores - um regresso a um passado atribulado, que nos permite perceber o que ele é hoje e, mais ainda, o que o move afinal.
Não sei quantos capítulos - leiam álbuns - faltam para Hermann concluir esta saga. Sei que já está a trabalhar no próximo. Possivelmente, pelo seu passado, pelo muito que Hermann me deu, deveria desejar-lhe uma reforma sossegada, mas, fechado este Pistoleiro é o que serás, é mais forte a minha vontade de conhecer o destino de Duke. Por isso, espero - desejo! - que esta sua ânsia em narrar, esta necessidade imparável de não parar - sim eu sei, foi consciente - nos leve até ao ocaso... deste pistoleiro.
Duke
#5: Pistoleiro é o que serás
Yves
H. (argumento)
Hermann
(desenho
e cor)
Arte
de Autor
Portugal, Março
de 2021
230
x 30o
mm, 56
p., cor,
capa dura
16,50
€
(imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
Hermann é para mim, um dos melhores ilustradores de banda desenhada de todos os tempos (e ainda vivo) e alguns álbuns de Comanche, são a prova disso! É certo que os argumentos de Greg ajudaram muito! Noto no entanto, que a idade já avançada do autor, quer no que concerne à parte física/mental, mas também pelo facto de querer produzir muito, sabendo que já não terá muito tempo para isso (perdoem-me a dureza das palavras), não lhe dão a qualidade gráfica de outros tempos. Termino, desejando longa vida para Hermann Huppen!
ResponderEliminarEstão a esquecer-se de referenciar os 38 álbuns da série JEREMIAH apenas 13 publicados entre nós mais os 11 BOIS-MAURY apenas 6 publicados em Portugal mais 12 excelentes one-shot
ResponderEliminarE também os 15 inesquecíveis álbuns de Bernard Prince (14 deles igualmente com argumento de Greg)!...
ResponderEliminarSim Diogo, tens razão, como me fui esquecer do inesquecível Bernard Prince ? Aliás na minha coleção contabilizo 91 álbuns desenhados pelo Hermann sendo que em 58 é também argumentista
ResponderEliminarTambém tenho todos! E alguns repetidos (cor/preto e branco), (Espanhol/Francês)! Hermann (e Greg) era uma das razões porque eu, ainda puto, aguardava impacientemente, pela saída de mais uma revista do Tintim!...
ResponderEliminarBoa, então és como eu, os buracos que Portugal deixa são tapados pelos espanhóis e franceses
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