Desencanto
Peço
desculpa a quem pensou que ia ler
uma opinião sobre este álbum que,
subitamente,
ganhou mediatismo devido à decisão da editora Dupuis de o retirar
do mercado. Não é o caso.
Na
minha lista há
muito, como admirador de Dany que sou, não cheguei - infelizmente -
a comprá-lo e nunca o li.
E dificilmente lerei, uma vez que os especuladores já decuplicaram o preço dos exemplares que escaparam à sanha persecutória ou que estavam em descanso em bibliotecas pessoais.
Pelo que conheço do álbum em particular - e no final deste texto têm as primeiras dez pranchas mais três soltas para vos ajudarem a formar uma opinião própria (algo que é cada vez mais inexistente) - e da obra de Dany em geral, era inevitável que um Spirou desenhado por ele não tivesse mulheres sexy e sensuais, mas custa-me a crer que elas - a par da 'representação de negros' - sejam razões válidas para a decisão tomada, para lá da ditadura do cada vez mais asfixiante politicamente correcto e da vontade de agradar a minorias ditatoriais que tentam - e lamentavelmente conseguem - impôr a sua visão limitada e castradora.
O comunicado da Dupuis diz [tradução de As Leitura do Pedro] o seguinte:
"Nos últimos dias, têm-se multiplicado as tomadas de posição que expressam a raiva sentida pela representação de negros e mulheres no "Spirou por” de Dany e Yann: “La gorgone blue”, publicado em Setembro de 2023.
Lamentamos profundamente se este álbum pôde chocar e ofender. Este álbum insere-se num estilo de representação caricatural herdado de outra época.
Mais do que nunca conscientes do nosso dever moral e da importância da banda desenhada enquanto editora e, mais amplamente, dos livros na evolução das sociedades, hoje assumimos total responsabilidade por este erro de avaliação.
É por isso que queremos apresentar as nossas mais sinceras desculpas. Colocamos em curso a retirada da obra de todos os pontos de venda.
As Éditions Dupuis"
Este mea culpa coloca em causa o trabalho de edição que deveria ter existido a montante, aquando da aprovação da proposta dos autores pelo editor - e parece que Dany teve de efectuar algumas alterações gráficas nas primeiras páginas pelas razões agora evocadas - ou mostra a sujeição das Éditions Dupuis aos grupos de pressão que todos (re)conhecemos.
Para além do mais, esta tomada de posição, abre um grave precedente e todos somos de certeza capazes de citar inúmeras bandas desenhadas - no caso - que poderão facilmente ser sujeitas às mesmas medidas persecutórias, num renascimento d(e um)a inquisição, não por motivos (apenas?) religiosos, mas por razões mais comezinhas que revelam a estreiteza de vistas de uma pequena parte da sociedade que tem (cada vez mais) demasiado poder.
É cada vez mais triste viver num mundo assim.
As vozes que impedem este livro de chegar ao público são as mesma que se levantam contra a extrema-direita quando estes tentam banir outro tipo de livros. Infelizmente, é tudo farinha do mesmo caso, ambos apenas querem impor a sua ideologia nos outros à força em vez de deixar o público decidir o que quer ou não ler. O apelo à tolerância é muito bonito mas só funciona quando concordamos com eles.
ResponderEliminarEu nem sequer gosto de Spirou, mas sou um defensor da liberdade de expressão. Há por aí muito livro que eu não gosto e onde só se diz estupidez e não é por isso que vou para a Internet pedir para os remover do mercado. Isto apenas tem um nome: Censura.
"Any book worth banning is a book worth reading." - Isaac Asimov
Nem deviam ligar é a mini minoria do x muito vocal a reclamar e nunca a comprar.l
ResponderEliminarNa realidade, que mundo estranho e absurdo vivemos, quando ridicularizar a mulher a um par de mamocas e relegar os negros ao seu papel de seres menores é absurdo, ultrapassado e desumano, e como tal, o livro deva ser retirado do mercado. É que jurava que liberdade de expressão não é permitir opiniões racistas, xenófobas, sexistas, homofóbicas. Na realidade, isso nem sequer é opinião, é crime punível por lei.
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