Em busca da banalidade absoluta
Théo é o último descendente da família Apotheóz. Está convencido que uma maldição paira sobre ele, a mesma que aniquilou os seus antepassados recentes sempre que se revelaram mais ambiciosos. Por isso, a sua vida é de uma banalidade confrangedora: já na casa dos 30 anos, ainda vive em casa do pai, alcoólico, e sobrevive de pequenas tarefas desinteressantes que se sucedem a um ritmo que lhe é indiferente.
Desde pequeno, ama Camille, mas ela não sabe pois ele nunca se atreveu a dizê-lo, com medo da tal maldição; aliás, nem sequer se despediu acompanhou o pai para longe da pequena vila onde moravam, em busca de melhor sorte na grande cidade.
O acaso, que até nestes casos faz bem as coisas, vai levá-lo a encontrar Pépin, escritor de sucesso de livros de auto-ajuda, desejoso de finalmente escrever um romance a sério. A amizade que vai nascer entre ambos levará o segundo a tentar compor as coisas entre Théo e Camille para lhe mostrar que a maldição é apenas um receio infundado.
Praticamente só com estas três personagens, Julien Frey e Dawid proporcionam uma comédia divertida e terna, sobre sonhos e o medo de os concretizar antecipando maiores fracassos; no entanto, Senhor Apothéoz, edição recente da ASA, sem ter esse propósito como prioritário, não deixa também de ser uma reflexão sobre as mudanças que as vidas dos jovens experimentam actualmente e sobre as dificuldades que o arranque da vida adulta lhes causa.
A história de Julien Frey desenrola-se em ritmo lento e endolente que, em parceria com o traço agradável e expressivo de Dawid, vestido com uma paleta de cores em que predominam tons outonais vermelho-acastanhados que, em contraste com o tom luminoso do relato, dão ao conjunto um tom nostálgico mas também acolhedor, que embala o leitor. Este, sem saber muito bem para onde é levado, pela forma enleante como o argumento se vai desenrolando e pelas surpresas que os autores vão proporcionando que não deixam antever o desfecho, até porque nem tudo o que se vê e ouve corresponde à verdade, acaba por se deixar seduzir por uma história simpática e plena de humanidade, que conforta e dispõe bem.
Senhor
Apothéoz
Julien
Frey (argumento)
Dawid
(desenho)
ASA
Portugal,
Setembro de 2024
206
x 274 mm, 128
p., cor,
capa dura
24,90
€
(versão revista do texto publicado na página online do Jornal de Notícias a 25 de Outubro de 2024 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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