À (re)descoberta
Apresentada aos portugueses pela Booktree, de forma incompleta e caótica - dois volumes (ver nota no final) - Soda é, acho que o posso escrever, uma daquelas séries que não contava encontrar nas páginas da Spirou, pelo seu tom mais violento, amoral e adulto.
O protagonista, David Elliot Hanneth Solomon, aliás Soda, é um detective da polícia, que no dia-a-dia investiga casos complicados, cujas motivações evocam as que nos habituámos a encontrar nos policiais mais negros, o que o obriga - e a nós com ele - a mergulhar em ambientes e temáticas que podem ser, no mínimo, incómodos.
Em contraponto, devido à violência referida, Soda esconde da mãe, com quem vive, uma senhora idosa que lamenta o que o mundo se tornou e, por isso, não sai de casa, a sua verdadeira profissão, apresentando-se, perante ela, como um sacerdote religioso, numa dualidade contrastante entre essa ficção e a a realidade que enfrenta cada dia. E que traz à série um confronto muito interessante ao nível da religião e da religiosidade.
Essa forma de viver, ajuda a introduzir em Soda um humor triste, muitas vezes negro, outra das notas distintivas dos argumentos escritos por Tome que, de certa forma, explanou aqui o tom mais adulto que não podia (?) utilizar em Spirou.
Inicialmente desenhada por Luc Warnant, seria assumida por Bruno Gazzotti a partir do terceiro tomo, num registo semi-caricatural que, se a aproxima mais do que é normal nas páginas da Spirou, marca igualmente um contraste com a sua temática.
Este Lettres à Satan, ainda um dos volumes em que são lançadas as bases da série, narra como o protagonista chegou a Nova Iorque e o percurso que teve de percorrer antes de entrar para a polícia, assumindo nestas páginas o papel de um escritor fantasma de policiais de terceira categoria, para descobrir que os homicídios que imagina no papel começam a ter lugar, um após outro, no imóvel em que está a habitar.
Nos últimos tempos tenho lido alguns volumes esparsos de Soda, que confirmaram a boa impressão que os volumes em português me tinham deixado e me motivam para a leitura integral da série.
Nota final
Aquando da sua tentativa de implementação no mercado, no início deste século, a Booktree apresentou aos leitores portugueses Soda, com dois volumes, o inicial, A morte de um anjo, e o nono (porquê?), E livrai-nos do mal. Ambos em capa mole, não tiveram continuidade mas, tanto quanto sei, não são daqueles que aparecem com facilidade em segunda mão. Mas se os encontrarem, não hesitem.
Soda
II - Lettres à Satan
Philippe
Tome (argumento)
Luc
Warnant (desenho)
Dupuis
Bélgica,
2014
220
x 295 mm, 48 p., cor, capa dura
14,50
€
(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Gostei bastante dos dois volumes lançados em português. Espero que um dia dêem continuidade assim como a Senda/Sillage
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