21/06/2018

Matt Marriott: Pueblo Minero

Semana do Western V
Termina hoje esta diversificada semana que As Leituras do Pedro dedicaram ao western, com aquela que é - possível mas lamentável mente - a proposta mais desconhecida aqui feita nestes dias.
Série oriunda de Inglaterra, apenas publicada nos jornais daquele país, raramente reeditada em livro, Matt Marriott é uma das abordagens mais duras, desencantadas e cruas que a banda desenhada alguma vez fez ao western.

Publicado originalmente entre 1955 e 1977 - e recorrentemente no nosso país a partir do final da década de 1950, em diversos títulos da Agência Portuguesa de Revistas, com destaque para o Mundo de Aventuras, e mais tarde da Portugal Press - Matt Marriott apresenta como protagonistas o cowboy que dá nome à série e o seu amigo Powder Horn, um ex-soldado.
Vagabundos errantes, deambulando sem nunca saber de onde virá a próxima refeição ou onde deitarão a cabeça, pouco dados a ficar muito tempo no mesmo local, acabam frequentemente por ser simples peões em jogos mais complexos, figurantes ou até simples espectadores - mesmo que privilegiados - das histórias que Edgar e Weare têm para nos contar. Espoletadas pela ganância e a prepotência, assentes no desejo de lucro e de subalternizar o próximo, as narrativas têm quase sempre a dupla a remar contra a maré, último obstáculo contra os mais poderosos, embora nem sempre pelas razões mais correctas.
A decadência de um velho batedor do exército, a quem o álcool destruiu; a tenacidade de uma mulher que insiste em pregar a palavra do seu deus, apesar da troça (do paganismo...?) dos seus conterrâneos; a surpreendente paixão de Matt por uma jovem revoltada com o modo de vida - selvagem e pouco respeitador do ser humano - do Oeste, que (quase) o leva a cortar com Powder e a mudar de vida - e a excessiva (?) reacção deste, indicadora de outras ambições...? São estas as temáticas abordadas nos três episódios que compõem este álbum, relatos fortes, complexos e entroncados numa realidade que geralmente associamos mais facilmente a façanhas heroicas do que à decadência e à miséria humanas.
O tom agreste e desencantando é reforçado pelo grafismo rude de Weare, pouco agradável à primeira vista, reconheço, assente num realismo duro e sombrio, servido por um traço que muitas vezes parece pouco mais do que esboço, em que usa - e abusa de? - traços paralelos para definir volumes e jogos de sombras.
A edição de Manuel Caldas - bem complementada com textos introdutórios e de análise de Domingos Isabelinho - teste ao sonho de reeditar integralmente a série, assim surjam potenciais interessados e seja contornada a inexistência/indisponibilidade de originais e/ou provas, surge aos olhos do leitor com a enorme qualidade habitual, desta vez acrescida, ou não tenha o editor - e consequentemente os leitores - tido o privilégio de fazer a reprodução a partir dos originais, pertença de um colecionador português, o que justifica a opção por três episódios não sequenciais - “Doremus” (1970), “Gospel Mary” (1973) e “The Reward” (1974).

Matt Marriott: Pueblo Minero
James Edgar (argumento)
Tony Weare (desenho)
Libri Impressi
Espanha, Maio de 2018
280 x 230 mm, 112 p., pb, capa mole
18,50 €

BouncerCisco Kid, Ken Parker, Matt Marriott, Tex Willer (não obrigatoriamente por esta ordem alfabética em que foram citados) irão ocupar este espaço por estes dias, transformando-o quase numa ‘semana do western’, onde, por exemplo, também podia ter entrado Duke.]

(imagens disponibilizadas pelo editor; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Paulo Pereira21/6/18 23:51

    José Pires, sem desmerecer o trabalho de Manuel Caldas que é imenso, tenho que lembrar José Pires com o seu fanzine também sobre Matt Marriott. Ainda bem que aparecem tantas e tão boas ediçoes de bd. Não me lembro de uma coisa assim, nem nos anos 80 e nos anos dourados.

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