Dar consistência
Um aspecto evidente no trabalho editorial de Tex nos últimos anos, é o objectivo de dar à série uma consistência histórica, ordenando uma 'cronologia' que até então era praticamente inexistente. Por um lado.
Por outro, há uma óbvia opção por recuperar personagens que de alguma forma foram marcantes pelo tempo de uma história - ou pouco mais - apelando à memória e à nostalgia dos leitores mais antigos - e conseguindo assim, quem sabe, recuperar alguns que com o tempo se foram perdendo.
É o acontece neste significativo - pela marca alcançada - Tex #600 - #700, em Itália.
Voltemos um pouco atrás. Ao contrário da maioria das séries, em Tex raramente os inimigos regressam. Mefisto/Yuma serão as excepções... - excepcionais! - mas dos restantes, geralmente, só 'reza uma história' - até porque muitos deles não sobrevivem para aspirarem a um eventual regresso ou vingança. A diversidade a que isso obriga poderá ser um dos segredos da longevidade da personagem.
Curiosamente, se em termos de adversários estamos conversados, em termos de amigos a situação não é assim tão diferente. Para lá do núcleo duro - Kit Carson, Jack Tigre, Kit Willer - é verdade que surge uma segunda linha, onde encontramos El Morisco, Jim Brandon, Gros Jean ou Montales mas, depois, estamos de novo perante aliados de uma única aventura.
No entanto, como se lê acima, na abertura, os últimos anos, parecem querer mudar este estado de coisas e tornar mais recorrentes os encontros entre Tex e aqueles que, nalguma altura, se cruzaram com ele, de um lado ou de outro do cano dos seus colts!
A criação da 'linha juvenil' Tex Willer - que me abstenho de comentar porque ainda não li - é um grande contributo neste sentido, aclarando o passado do (futuro) ranger e justificando algumas das suas opções de vida.
A par dela, têm-se multiplicado - embora (ainda?) de forma moderada - as histórias que retomam elementos ou personagens pontuais do seu passado.
É o que acontece nesta edição, em que Tex reencontra Tesah, uma princesa pawnee que se cruzou com ele logo na primeira história da dupla Gianluigi Bonelli/Aurelio Galleppini - a primeira história de Tex, portanto! - e que segundo reza o prefácio da edição, já tinha reencontrado o jovem Tex Willer.
Bem melhor conservada do que Tex (!), serve como gatilho para uma história com assinatura de respeito, de uma dupla da dimensão de Mauro Boselli e Fabio Civitelli, em que o célebre tesouro da tal primeira história é cobiçado por brancos e índios, numa narrativa sólida, com muitso confrontos e uma surpresa... algo previsível!
E se é verdade que a aplicação da cor por parte da Bonelli tem melhorado bastante nos últimos anos - não poderia ser de outra forma, tantas têm sido as edições assim editadas - o traço de Civitelli é feito para apreciar a preto e branco, já que o colorido tira destaque e efeito ao seu primoroso uso de pontilhado para definir ambientes, sombras e volumes.
Para tornar mais especial esta edição #600 - só quem coleccionou revistas sabe o quanto as edições 'especiais' podem sê-lo verdadeiramente - a Mythos incluiu como brinde um fac-simile da Júnior #28
, a edição de 1951 em que Tex se estreou no Brasil, com a tal narrativa em que encontra Tesah, que vale como curiosidade e documento.
Representa uma época muito diferente, desde logo no seu formato, o dito 'talão de cheques' - outro conceito hoje praticamente esquecido - com 160 x 80 mm, e uma única tira por página, sendo estas apenas 32... Na prática, equivalente a umas (meras) 11 páginas de uma revista Tex actual!
Tex #600: O ouro dos pawnees
Mauro Boselli (argumento)
Fabio Civitelli (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Outubro de 2019
135 x 175 mm, 114 p., pb, capa mole, mensal
R$ 15,90 / 5,00 €
(imagens disponibilizadas pela Mythos; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Que pena não continuarmos a ter a distribuição dessa revistas por cá. Saudades de ir ao encontro, nas bancas, do Tex, da Julia e do Zagor.
ResponderEliminarLetrée