23/11/2020

Miles Morales Homem-Aranha #1

Ingenuidade



Tenho ideia que já o escrevi por aqui, mas não é demais relembrá-lo. Porque sim.

O que me atrai em Miles Morales, é (re)encontrar nele muito do Peter Parker original.

Este Direto do Brooklyn confirma-o mais uma vez, atenuada - mas presente - a questão mediática associada à cor da sua pele, que potenciou a sua criação.

O Peter Parker original - ou o primeiro Homem-Aranha, se preferirem, aquele que Lee e Ditko assinaram no início dos anos 1960 - espelhava o quotidiano dos adolescentes normais - apesar da tal 'picada' de uma aranha radioactiva. Falava das inseguranças típicas daquela faixa etária propícia a tantas mudanças, dos primeiros amores, das dificuldades escolares - com o bullying (então ainda não baptizado assim) à cabeça -, das amizades, da impossível conciliação das vidas familiar, escolar e super-heróica, da difícil decisão de contar ou não o (super-)segredo - e a quem...

Para mais, fazia-o com um humor muito especial - assente em grande parte na verborreia aracnídea - e - não sei se na altura, mas relida hoje sim - transbordava uma doce e simpática ingenuidade por todas as suas vinhetas.

Em Miles Morales: Direto do Brooklyn, reencontrei (mais uma vez) muito disto - com o 'bónus' da questão do racismo ou da marginalização, associada à cor sua da sua pele - em histórias lineares e praticamente sem ligação a sagas, acontecimentos passados ou (ir)realidades paralelas. Nelas, Morales faz alianças com o Rino (surpreendentemente) e o Capitão América para resolverem uma situação de rapto de adolescentes, conhece a Canora (neta do Abutre!) deixando que o seu coração balance entre ela e Bárbara, foge recorrentemente ao novo vice-director da escola apostado em marcá-lo como absentista militante, e ainda tem tempo para escrever um diário (!), enfrentar um vampiro, os skrull ou a bem mais traumática e irreversível morte de alguém.

Obviamente, como já se infere do escrito acima, há que aceitar algumas situações 'irreais' - como os skrull, por exemplo... - mas a escrita de Saladin Ahmed consegue atenuar o 'ruído de fundo' que elas provocam, salientando o lado humano de Morales - acentuado pelo diário que agora escreve! - e aumentando a nossa capacidade de identificação com ele - ou tão só o seu lado narrativamente mais sedutor. Escrevo eu.

Teria gostado, assumo, de um traço mais naif - mais ingénuo, também - e de um colorido mais quente, suave e luminoso, mas aceito que o trabalho gráfico de Javier Garrón e David Curiel, esteja mais próximo das preferências dos leitores actuais - porque é para eles (e não para leitores saudosistas...) que a publicação se destina.

Como não-leitor regular da Marvel, outro aspecto que para mim é muito positivo nesta edição, é o facto de as histórias incluídas serem auto-conclusivas - pese embora uma sequência implícita, mas não necessária para entendimento do contexto - de uma delas.


Miles Morales: Homem-Aranha - Direto do Brooklyn

Inclui Miles Morales: Spider-Man #1 a #6 e Spider-Man Annual #1

Saladin Ahmed e Bryan Edward Hill (argumento)

Javier Garrón e Nelson Blake II (desenho)

Panini

Brasil, Outubro de 2019

Distribuição em Portugal: 17 de Novembro de 2020

170 x 260 mm, 160 p., cor, capa fina

11,30 €


(capa disponibilizada pela Panini; clicar nela para a aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Boa tarde.
    Li o livro depois de ler a sua review e não posso concordar mais com a questão das cores, há alturas em que dificulta muito a leitura.
    Também não gostei do traço do desenhador que parece que, exceptuando, o próprio Miles/Homem-Aranha se esquece saber desenhar (tenho ideia que neste momento a DC esta muito melhor servida de desenhadores).

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  2. Achei o Argumento fraco e antagonista do Miles um cliché gigante.

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